Redação –
A Polícia Federal concluiu um dos inquéritos contra o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) e apontou ter rastreado o pagamento de R$ 65 milhões em propina da Odebrecht e da Andrade Gutierrez ao tucano em troca de ajuda nas obras das hidrelétricas do Rio Madeira. O relatório final da investigação foi enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) na segunda-feira. Caberá agora à Procuradoria-Geral da República decidir sobre o oferecimento de denúncia neste caso.
Na investigação, doleiros ouvidos pela PF confirmaram ter viabilizado recursos para operadores de Aécio, utilizando o esquema de Dario Messer, o doleiro dos doleiros preso pela Lava-Jato do Rio.
CORRUPÇÃO E LAVAGEM – Pelos fatos investigados, a PF acusa Aécio dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Também são acusados desses mesmos crimes o empresário Alexandre Accioly, compadre e amigo de juventude do tucano, e o ex-diretor de Furnas Dimas Toledo, apontados como operadores do tucano para o recebimento da propina.
“Estão presentes indícios suficientes de autoria e de materialidade de que o deputado federal Aécio Neves da Cunha, ao receber valores indevidos no total de R$ 64.990.324,00 (sessenta e quatro milhões, novecentos e noventa mil, trezentos e vinte e quatro reais) do grupo Odebrecht e da construtora Andrade Gutierrez entre os anos de 2008 e 2011, praticou a conduta tipificada no art. 317 do Código Penal, e portanto, praticou o delito de corrupção passiva, com pena de 2 a 12 anos”, escreveu o delegado Bernardo Guidali Amaral na conclusão do relatório.
EM ESPÉCIE E DÓLAR – Segundo o relatório, a Odebrecht fez pagamentos de R$ 28,2 milhões por meio de dinheiro em espécie e também por meio do doleiro José Antônio Estevão Soares, integrante do esquema de Dario Messer. Os repasses foram intermediados por Dimas Toledo, afirma a PF. Outro montante de R$ 1,7 milhão foi pago pela Odebrecht por meio de transferências no exterior a uma conta sediada em Singapura e que, segundo a investigação, pertence a Accioly.
Já a Andrade Gutierrez repassou R$ 35 milhões por meio de dois investimentos feitos em uma holding dona da academia Bodytech e que pertence a Alexandre Accioly.
No relatório, o delegado Bernardo Guidali Amaral escreve que os repasses “ocorreram em contrapartida pelo exercício de influência a sobre o andamento dos negócios da área de energia desenvolvidos em parceria pelas respectivas construtoras, como os Projetos do Rio Madeira, as Usinas Hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no Estado de Rondônia, notadamente sobre a Cemig, companhia de capital aberto controlada pelo Governo do Estado de Minas Gerais, e Furnas, empresa de economia mista, subsidiária da Eletrobras”.
DELAÇÃO DE CABRAL – A investigação usou também a delação premiada do ex-governador Sérgio Cabral. Em depoimento à PF, Cabral afirmou que o próprio Aécio lhe disse que Dimas Toledo era seu operador financeiro e pessoa de sua confiança.
“Aécio Neves relatou ao depoente que realizava operações de recebimento de valores ilícitos com Dimas Toledo”, afirmou Cabral em seu depoimento.
Além desse caso, Aécio já é réu em uma denúncia movida pela PGR que acusou Aécio de receber R$ 2 milhões em propina da J&F. O tucano foi gravado pelo dono da empresa, Joesley Batista, acertando o pagamento de valores.
DEFESA ESTÁ PERPLEXA – Procurada, a defesa de Aécio Neves afirmou que “manifesta sua absoluta perplexidade com as absurdas conclusões do relatório”. “A obra investigada, relacionada à represa de Santo Antônio, era de responsabilidade do governo federal à época, ao qual o então governador fazia oposição, e foi realizada em Rondônia, portanto sem qualquer relação com o governo de Minas Gerais”, diz a defesa, em nota assinada pelo advogado Alberto Toron.
Prossegue a defesa do tucano: “As temerárias e fantasiosas conclusões a que chega o delegado são baseadas em delações espúrias, algumas delas sequer aceitas pelo MPF e em relatos de ouvir dizer. Não há um singelo elemento de prova que as corrobore”. A nota diz ainda que a conta de Singapura “pertence a uma cidadã irlandesa que não tem nenhuma vinculação com os fatos sob investigação”.
A defesa de Accioly classificou de “improcedentes” as conclusões da PF e rebateu as acusações.
Fonte: O Globo
MAZOLA
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