Por Pedro do Coutto –

A revolta dos soldados mercenários que o governo Putin contratou para combater contra a Ucrânia, de forma surpreendente, voltou-se contra Moscou e, ao longo do sábado,  dominou cidades e iniciou uma marcha que se aproximou 200 quilômetros da capital russa. Nos primeiros momentos da revolta, Putin ameaçou punir severamente os rebeldes, mas diante dos avanços que eles conseguiram nas estradas, aceitou um acordo com o propósito de parar momentaneamente a insurreição contra o seu governo.

O Globo e a Folha de S. Paulo publicaram neste domingo amplas matérias sobre o fato que concentrou as atenções mundiais. Tratando-se de Rússia, o acordo aceito por Putin acrescenta um dado histórico destacado por Igor Gielow, na Folha de S. Paulo, ao analisar o episódio e suas várias faces. A principal delas, para mim, foi a de ter caracterizado uma dissidência no Kremlin que tornou possível a insurreição. Putin, de invasor da Ucrânia. tornou-se uma personagem acuado pelas forças rebeldes comandadas por Yevgeny Prigozhin, chefe da operação Wagner.

MERCENÁRIOS – A operação Wagner surgiu de um fato bastante ruim para Moscou. Putin viu-se na contingência de contratar mercenários para combates contra Zelenski. Logo, deixou evidente a resistência de fortes setores do exército vermelho em manter a ofensiva. Se assim não fosse, ele não teria contratado combatentes profissionais, recrutados e comandados por um líder misterioso, por sua vez acusado de uma série de fatos que nada acrescentam a ele. Pelo contrário.

Ao recorrer aos mercenários, soldados que lutam em qualquer lugar do mundo pelo apelo ao dinheiro, Putin tornou evidente a sua falta de comando integral sobre as forças militares russas, sentindo o peso de uma derrota, cada vez mais caracterizada através do tempo de resistência ucraniana e do apoio ao governo de Kiev revelado pela União Europeia, incluindo o Reino Unido, a Alemanha, a Polônia e a França.

Putin caiu prisioneiro de si mesmo. Ele abriu ao mundo um horizonte em que deixou marcada a fraqueza de sua política expansionista e foi exatamente por temer a expansão russa que países como a Polônia, que mantém fronteira com a Ucrânia, a afirmarem uma posição preventiva temendo que o sucesso de Moscou pudesse desencadear uma ofensiva contra outras nações do continente.

TRÉGUA – Os mercenários depois de iniciarem marcha para Moscou, cidade que começou a ser protegida pela presença de tanques nas ruas e restrições ao movimento da população, aceitaram uma trégua que somente pode se revestir de uma condição episódica, pois ninguém pode imaginar logicamente que uma revolta da dimensão da que se verificou pode se tornar uma página virada no desenrolar dos passos imediatamente após a crise ter sido detonada.

O governo Putin tentou uma jogada espetacular na Ucrânia. Falhou. Não esperava a resistência de Zelenski, e muito menos o peso das sanções econômicas e até excludentes das competições esportivas que envolveram a nação. Um desastre que não será encerrado em poucas semanas, mas vai permanecer na atmosfera russa fazendo com que, pela sua profundidade e intensidade, inviabilize a permanência de Putin no Kremlin e que já se prolonga por mais de vinte anos.

OFENSIVA  –  Reportagem de Guilherme Caetano, O Globo de ontem, informa que o PT está preparando uma forte ofensiva contra a atuação da extrema-direita no país. Essa ofensiva não deve se conter nos aspectos retóricos, isso não adianta nada. Tem que focalizar pontos concretos de interesse coletivo.

Um deles, por exemplo, a reforma trabalhista que permite a suspensão de contratos de trabalho para aliviar a ocorrência de crises em diversas empresas. A controvérsia, na minha opinião, inclui como exemplo as recentes férias coletivas nas montadoras de veículos, entre as quais a Volkswagen e a Mercedes Benz. Antes da reforma trabalhista, as férias coletivas eram remuneradas, mas com a suspensão provisória dos contratos de trabalho, é claro, deixaram de ser.

Este é um ponto, existem muitos outros. O mais sensível de todos é a perda dos salários em relação à inflação, incluindo a inflação sempre moderada do ponto de vista do IBGE.

PEDRO DO COUTTO é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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