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PINO MANIACI, MÁFIA E ANTIMÁFIA – por Siro Darlan
Colunistas, Internacional, Justiça

PINO MANIACI, MÁFIA E ANTIMÁFIA – por Siro Darlan

Por Siro Darlan

O jornalismo corajoso e comprometido com a verdade é o maior inimigo das organizações mafiosas em todo o mundo.

Na Itália, terra da máfia “Cosa Nostra”, surgiu em Palermo com seu canal de televisão montada em sua própria casa e com a equipe de trabalho familiar, sua mulher e sua filha. Pino Maniaci denunciou vários crimes da máfia no seu programa, tendo sido alvo de pelo menos duas tentativas de homicídio. Numa delas, o filho de um mafioso tentou asfixiá-lo com a gravata que Maniaci tinha posta: o jornalista diz ter sobrevivido porque o pai lhe ensinou a fazer o nó duplo de forma correta. Pino Maniaci também encontrou os seus dois cães enforcados num poste junto ao seu trabalho.

Nascido em Partinico, na província de Palermo, Pino Maniaci decidiu comprar o canal Telejato em 1999. Na altura, era empresário da construção civil, mas tornou-se jornalista. Em 2016, foi considerado um dos 100 heróis mundiais da informação pelos Repórteres sem Fronteiras. Em 2021, foi condenado por difamar três jornalistas, tendo sido absolvido de extorsão ao Prefeito da cidade a quem dedicava acirradas críticas diariamente em defesa dos cidadãos da comuna.

A bandeira da Sicília foi originalmente adoptada em 1282 após um importante evento histórico denominado Vésperas Sicilianas. (Wikipédia)

Tendo combatido e denunciado com coragem e destemor os mafiosos em ação, descobriu em suas investigações que aqueles que em tese lutavam contra a máfia, se locupletavam com esse aparente combate transformando-se na máfia da antimáfia. As suas denúncias sobre a má gestão de bens confiscados levaram à condenação de uma juíza do tribunal de Palermo, Silvana Saguto. O tribunal de Palermo era onde trabalhavam Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, dois magistrados que se destacaram pela luta contra a máfia e que acabaram assassinados por ela, sendo considerados heróis nacionais em Itália. O responsável condenado pelos homicídios foi Matteo Messina Denaro – cuja detenção é agora celebrada por Pino Maniaci, com a retirada de um bigode que ostentava há 50 anos.

Enquanto combatia a máfia, Maniaci sofreu dois atentados contra a vida, mas foi quando denunciou a Juíza Silvana Saguto, seu marido e filho, então Coordenadora Geral de aplicação das Medidas Preventivas do Tribunal de Palermo, que autorizada por lei com a finalidade de combater a máfia, confiscava os bens, sem o devido processo legal de mafiosos ou suspeitos. E com o uso dessa autoridade incontestável Saguto nomeava para administrar as empresas cujos bens confiscava uma rede nepotista que incluía o marido, filho e sobrinho, além de advogados de suas relações, que levavam as empresas à falência, destruindo milhares de empregos e levando muitos operários à miséria.

Saguto, graças ao jornalismo corajoso e comprometido com a verdade de Maniaci, foi afastada de seu poderoso cargo e condenada a uma pena de 8 anos e 6 meses de prisão.

Mas foi quando se voltou para os poderosos que exerciam as funções de confiança e esperança do povo italiano, que Maciani sofre os maiores atentados. Por seus serviços, Maniaci recebeu mais de 300 reclamações, vencendo posteriormente todos os processos. Em 14 de maio de 2004, ele organizou uma procissão de tochas que viu 10.000 pessoas marcharem da praça principal da cidade até os portões da fábrica, na sequência da sua atividade de denúncia, Maniaci foi denunciado por perseguição pelo advogado Gaetano Cappellano Seminara, considerado “o rei dos administradores judiciais”, parceira de Saguto. Também foi acusado de extorquir o Prefeito cuja prrova foi um vídeo forjado em fatos verdadeiros, mas de manipulação interpretativa diversa, pratica comum, infelizmente também no Brasil.

Em 2013, Pino Maniaci, juntamente com alguns dos seus colaboradores, criou e difundiu uma investigação jornalística intitulada “A máfia antimáfia”, primeiro voltando a atenção para a alegada má gestão dos bens apreendidos pelas Medidas de Prevenção do Tribunal de Palermo sob a gestão de Silvana Saguto. Em 15 de maio de 2015, recorreu à comissão nacional antimáfia[19], em 2014, a seu pedido, foi ouvido no tribunal de Caltanissetta, embora para Telejato esta audiência “pareça ter desaparecido dos documentos hoje sob exame processual”.

Em função das boas práticas profissionais o editor-chefe do Intercept Brasil, Andrew Fishman, recebeu o prêmio do jornal Tribuna da Imprensa Livre em parceria com OABRJ. (Foto: Iluska Lopes  / Tribuna da Imprensa Livre)

Em 9 de setembro de 2015, Silvana Saguto, presidente da secção de Medidas de Prevenção do Tribunal de Palermo, o seu marido, o engenheiro Lorenzo Caramma e o advogado Cappellano Seminara, foram investigados por corrupção, indução e abuso de poder. A investigação, coordenada pela Procuradoria de Caltanissetta e conduzida pela Unidade de Polícia Fiscal da Guardia di Finanza, nasceu após as reportagens jornalísticas veiculadas no noticiário Telejato, nas quais Matteo Viviani, correspondente do programa de televisão Le Iene, que dedicou diversas reportagens ao caso, entrevistando também Maniaci. Os acontecimentos foram contados na série original da Netflix de 2021 “Vendetta, guerra na antimáfia”, estrelada pelo próprio Maniaci, e no livro “In nome dell’antimafia” (edições Iod 2021) escrito por Salvo Vitale.

Pino Maniaci na Itália, Glenn Greenwald, Intercept Brasil, Eduardo Appio, no Brasil precisam se multiplicar nesse mundo jurídico tomado de mafiosos de toga que enganam a população e trazem a desconfiança ao judiciário, que precisa de segurança jurídica para manter sua confiabilidade evitando “heróis combatentes” de ocasião que atropelam a legalidade e utilizam-se da justiça para ganhar likes nas redes sociais e auferir rendimentos ilegais em seus contracheques ou fora deles.

SIRO DARLAN – Advogado e Jornalista; Editor e Diretor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Ex-juiz de Segundo Grau do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ), aposentado compulsoriamente por conceder benefício a preso em risco de vida, que uma vez preso faleceu nas grades da crueldade estatal; Especialista em Direito Penal Contemporâneo e Sistema Penitenciário pela ENFAM – Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados; Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos na ENSP; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Coordenador Rio da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo; Membro da Comissão da Verdade sobre a Escravidão da OAB-RJ; Membro da Comissão de Criminologia do IAB. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ousiro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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