Por Sebastião Nery –
Nereu Ramos assumiu a presidência da República em 1955, para garantir a posse de Juscelino, e pediu a Antonio Balbino, governador da Bahia, um nome para o Ministério da Agricultura. Balbino mandou chamar o deputado baiano Eduardo Catalão, fazendeiro de cacau, elegante e britânico, depois seu suplente no Senado:
– Catalão, indiquei seu nome para representar a Bahia no Ministério. Já dei seu nome ao presidente Nereu, que quer conversar com você hoje.
– Não, Balbino, de maneira alguma. Não posso aceitar. A Bahia tem homens experientes e mais bem preparados para a função do que eu. Não é justo que seja eu o ministro. E você sabe que não tenho ambições políticas.
– Não é nada disso, Catalão. Você está é com medo da situação nacional. Você sabe que este é um governo eventual, de crise. Se fosse em período normal, um governo tranquilo, você aceitaria. Mas como poderá sair do gabinete ministerial para ser fuzilado em praça pública, não aceita.
Catalão levantou-se, inteiramente surpreendido com a veemência do amigo, bateu a mão na mesa e encerrou a conversa:
– Pois se é para ser fuzilado, aceito.
Foi ministro da Agricultura. Não foi fuzilado.
GOVERNO CASTELO – Oscar Thompson era secretário da Agricultura do governo de Adhemar de Barros em São Paulo, em 1964. Depois do golpe militar, o presidente Castelo Branco mandou Adhemar indicar o ministro da Agricultura. Adhemar fez uma vasta lista. Castello vetou todos. Até que aceitou Oscar Thompson, formado pela Escola Agrícola Luiz de Queiróz, em Piracicaba.
Assumiu em 14 de abril. Em 16 de junho, Castello lhe telefonou mandando fazer uma demissão no ministério. Oscar Thompson respondeu:
– Tudo bem, Presidente. Mas antes vou comunicar ao governador.
– Quer dizer que o senhor vai comunicar antes ao Adhemar? Pois não vai ter tempo de comunicar nada. Já está demitido.
Bateu o telefone e o substituiu por Hugo Leme, diretor da Escola Agrícola Luiz de Queiroz de Piracicaba. Só durou seis meses, até o AI-2 de outubro de 1965, porque Castelo precisou do cargo para dar a Ney Braga, que deixava com sucesso o governo do Paraná.
COSTA E SILVA – Em 15 se março de 1967, o general Costa e Silva assumiu a presidência da República. Ivo Arzua, ex-prefeito de Curitiba, foi indicado para presidente do BNH (Banco Nacional de Habitação), mas Mário Trindade, o então presidente, não queria sair e conseguiu ficar. O jeito foi Costa e Silva convidar Ivo Arzua para Agricultura.
Mas Ivo Arzua não distinguia um morango de um mamão. Desesperado, internou-se 30 dias na Copamar (Cooperativa Agrícola de Maringá), onde fez um curso concentrado de agricultura. E assumiu.
SEVERO GOMES – No governo Castelo Branco, o saudoso Severo Gomes era ministro da Agricultura. Em Feira de Santana, na Bahia, presidiu uma solenidade. Depois, pediu uma cachacinha. Trouxeram sem rótulo, com o desafio:
– Queremos ver se o senhor diz de onde ela é.
Severo provou, gostou, arriscou: – Esta cachaça é de Januária.
Era. Ao lado, sorriso mole e olhos vidrados, escarrapachado numa cadeirinha de vime, um puxa-saco gordo, muito gordo, não se conteve: – Vá entender de agricultura na puta que o pariu.
IGUAL A MACUCO – Ministro da Industria e Comercio de Geisel, Severo foi caçar macuco, um fim de semana, em sua fazenda perto de Parati. Macuco se caça piando, para chamar. O ministro estava piando mato adentro, veio um puxa-saco:
– Dr. Severo, o senhor pia macuco melhor do que muito macuco.
SEBASTIÃO NERY – Jornalista, escritor, conferencista e o principal autor sobre o Folclore Político brasileiro. Professor de Latim e Português, atuou nos principais órgãos de imprensa do Brasil. Trabalhou em jornais, rádios e televisões de Belo Horizonte, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. Fundou e dirigiu jornais em Minas Gerais “A Onda”, Bahia “Jornal da Semana”, São Paulo “Dia Um” e Rio de Janeiro “Politika”. Correspondente internacional de jornais e revistas em Moscou, Praga e Varsóvia entre 1957 e 58; “Isto É” e diversos jornais em Portugal entre 1975 e 76, e na Espanha em 77; adido cultural do Brasil em Roma entre 1990 e 91, e em Paris entre 1992 e 93; foi deputado federal pelo Rio de Janeiro e Bahia, e vereador em Belo Horizonte. Atualmente escreve uma coluna publicada em jornais de 20 estados.
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