Por Pedro do Coutto –

De fato, as pesquisas e os prognósticos eleitorais são os únicos levantamentos de opinião pública que podem ser comparados entre si e comprovados publicamente com os resultados finais das disputas. Por isso, é necessária atenção e capacidade de cotejar os dados de uma pesquisa para outra e, principalmente, a coincidência ou não dos resultados finais dos pleitos com as pesquisas divulgadas às suas vésperas.

Agora, por exemplo, a última pesquisa do Datafolha apresentou índices bastante diversos dos que são apontados pelo Instituto Quaest envolvendo as posições de Lula e Bolsonaro nos estados de São Paulo e em Minas Gerais.

SURPRESA – Na edição de sexta-feira, matéria de Júlia Barbon, Folha de S. Paulo, revelou que em São Paulo Lula recuou de 39% para 37% de intenções de voto, enquanto Bolsonaro subiu de 25% para 35%. Portanto, a mim causou surpresa ao ler que Bolsonaro teria avançado assim 12 degraus aproximando-se de Lula da Silva.

Na edição de sábado, Júlia Barbon, também na Folha de S. Paulo, assinala que em Minas Gerais, Bolsonaro aproximou-se em nove pontos de Lula. O petista havia alcançado, segundo o Quaest, 46% e desceu para 42%, enquanto Jair Bolsonaro, no mesmo período, subiu de 21% para 33%.

Dessa forma, a liderança de Lula reduziu-se substancialmente. Francamente, me surpreendi com esses resultados, sobretudo porque não identifiquei qualquer sintoma ou aparência de fatos capazes de alterar tanto um levantamento focalizando intenções de votos.

Charge do Zé Dassilva (NSC Total)

AUXÍLIO BRASIL – Atribuir tal hipótese ao início da distribuição do Auxílio Brasil parece desfocada, já que este começou a ser pago no dia 9. Não daria para a pesquisa no dia seguinte aferir uma mudança tão profunda. Aguardo nova pesquisa do Datafolha, focalizando o mesmo período de 30 dias, para confrontar os números do Quaest com os da empresa da Folha de S. Paulo.

Ao longo de sua existência, tanto o Ibope quanto a Folha de S. Paulo, no meio de mil pesquisas, só apresentaram um erro, nas eleições de 1985 para Prefeitura de S.Paulo, quando prognosticam a vitória de Fernando Henrique Cardoso. Fora isso, só existem acertos comprovados pelos números. No decorrer das campanhas existem alternâncias, mas por esse motivos é preciso confrontar os dados de uma pesquisa para outras.

HACKER – A Folha de S. Paulo de ontem, sábado, publica excelente reportagem de Julia Chaib e Matheus Teixeira, revelando que o autor do vazamento das conversas entre Sergio Moro e Deltan Dallagnol, através do Telegram, Walter Delgatti, manteve contato com dirigentes da campanha à reeleição do presidente Bolsonaro.

O fato foi comentado também em artigo de Pedro Doria, no O Globo de sexta-feira, traçando um perfil de Delgatti, destacando que a intenção de convocar o personagem revela intenções  não legítimas de influenciar na campanha dos votos. Acho que sim.

Se um candidato ou os mentores de uma campanha recorrem à atuação de quem é apresentado como hacker é porque está sentido que a campanha seguindo o seu curso normal não está sendo favorável a quem dialoga com Delgatti. Isso é evidente. Portanto, no fundo, por ação tácita, a direção da campanha do atual presidente da República  está se desviando de um processo legítimo para algum ângulo sombrio da política. Sombrio e ilegal.

VISTA DE PROCESSO –  Na sessão de sexta-feira, do Supremo Tribunal Federal, o ministro André Mendonça pediu vista do processo que reúne ações contra o pacote eleitoral do Auxílio Brasil colocado em prática por Bolsonaro. Com isso, ele adiou o julgamento e logo no início da sessão formulou o seu pedido de vista para evitar que os votos fossem colhidos antes dele, com sua intervenção, adiar a  apreciação do assunto.

São dois ministros do Supremo nomeados por Bolsonaro – Mendonça e Nunes Marques – que seguem orientação do Planalto. Mas tenho a impressão que Mendonça, como ficou flagrante no caso Daniel Silveira, no fundo, torce para se livrar da vinculação com o presidente da República, enquanto Nunes Marques é de uma integração absoluta e total.

LUCRO DOS BANCOS –  Em matéria financeira, há uma verdade absoluta, não existe débito sem crédito e vice-versa. Assim, se alguém capitalizou, algum setor sofreu descapitalização. É o caso dos lucros dos quatros bancos do país. Lucas Bombana, Folha de S. Paulo, informa que os quatro maiores bancos do país, Itaú, Bradesco, Santander e Banco do Brasil, apresentaram lucro de R$ 26,6 bilhões no segundo trimestre deste ano.

Charge do Junião. (Arquivo Google)

Alguém pagou essa margem. Provavelmente, penso, o lucro é proveniente das aplicações financeiras nos papéis do Tesouro reajustados pela Selic e que se destinam a lastrear a dívida interna brasileira que se aproxima de R$ 6 trilhões, valor superior ao do próprio Orçamento deste ano.

JUSTIFICATIVA  – Referindo-se recentemente ao apoio da Federação dos Bancos à Carta pela Democracia, o presidente Jair Bolsonaro atribui o fato à concorrência aberta pelo Pix que teria captado recursos da rede bancária numa escala de bilhões de reais.

O presidente do Banco Central, entretanto, matérias de Gabriel Shinohara, O Globo, e  Lucas Bombana, Folha de S. Paulo, edições de sexta-feira, destacam declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Netto, sobre o assunto, nas quais diz que a afirmação relativa ao Pix  não é verdadeira. Os bancos, disse o presidente do BC, não perdem nada com a circulação de pagamentos e recebimentos através do Pix.

“Não existe a menor relação entre um fato e outro, mesmo porque o Pix pode ser operado através dos bancos, não sendo assim um estabelecimento financeiro independente. Afinal de contas, os depósitos e saques são realizados integralmente através do sistema bancário. “, afirmou.

INVESTIMENTOS – Matéria de Letícia Cardozo, O Globo, afirma que o que pode estar prejudicando a  economia brasileira são investimentos feitos por brasileiros e empresas brasileiras no exterior. Esse movimento é realizado pelo Banco do Brasil e pelo Itaú, principalmente com a aplicação de investimentos nos Estados Unidos.

O Santander e o Bradesco também operam nesse setor. O primeiro, especialmente, lançou em maio um programa de investimentos em Portugal com correntistas brasileiros, e o Bradesco lançou em dezembro um programa que reúne clientes da corretora Ágora, de propriedade do banco. Como se constata, trata-se de um processo de evasão de capitais  do nosso país para o exterior. Os investidores lucram. O Brasil perde.

*Pedro do Coutto é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ)

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