Por Miranda Sá

“Conheça o inimigo e a si mesmo e você obterá a vitória sem qualquer perigo” (Sun-Tzu)

Sempre que surgem ameaças de extermínio da humanidade renovadas no correr dos séculos, é preciso ter olhos para o futuro e esperança na recuperação. Nos dias que atravessamos testemunhamos o surgimento e a propagação do novo coronavírus, o covid-19, que a Organização Mundial da Saúde declarou como pandemia.

Registradas na História Geral, as primeiras pandemias foram bacterianas, surgidas a partir do século 4, com a que se convencionou chamar “Praga de Justiniano” – a peste bubônica –, precursora da Peste Negra que assolou a Europa, Ásia e África no século 14.

A Peste Negra foi devastadora, atacando em ondas de epidemias a partir da Ásia Central e se espalhando pela Ásia e Europa, causando a morte de 75 a 200 milhões de pessoas. Um quarto da população europeia foi dizimada na Baixa Idade Média por causa das pulgas hospedeiras da bactéria causadora da peste (Yersinia pestis).

Vivia-se um período histórico turbulento após a tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos e o cerco de Roma pelos povos circunvizinhos. (Recuso-me a chamá-los de bárbaros…).

Na comparação sintomática das doenças bacterianas e virais vê-se que, embora biologicamente diferentes, as bactérias são organismos vivos e os vírus são partículas infecciosas; ambas, quando inoculadas, apresentam sintomas semelhantes e inespecíficos, como catarro, febre, dores pelo corpo e na cabeça, náuseas…

As infecções bacterianas ou virais, são assustadoras. As primeiras, porém, são tratadas agora com eficácia na Era dos Antibióticos, apenas com a necessidade de isolamento por uma semana.

No momento atual, enfrentamos uma infecção pandêmica viral, felizmente com uma taxa geral de mortalidade de 2,3% — embora levando às pessoas com mais de 60 anos a taxa de 14,8%.

Para nos tranquilizar temos conhecimento de que Alemanha, China e Estados Unidos travam uma guerra humanitária para assumir a paternidade (ou maternidade) do medicamento contra o covid-19 e da vacina para evita-lo.

Acrescente-se a estes três países muitos outros que invisíveis na mídia, participam dessa maratona humanista, inclusive o Brasil. Isto nos leva ao culto da Esperança, o único remédio com eficiência contra o desespero alardeado nos meios de comunicação.

O perigo dos boatos, do ceticismo, das ciladas e da descrença será afastado na medida em que mantivermos a esperança na vida, na sociedade, no País e no universo em seu eterno movimento…

Para isto, precisamos enfrentar a fanfarronice dos tolos que se julgam donos da verdade, lembrando a lição do Marquês de Maricá ao dizer que os sábios duvidam mais que os ignorantes; porque estes últimos creem se impor pela adulação.

Os puxa-sacos dos ocupantes do poder e seu inverso, os que querem se manter no poder bajulando o eleitorado, são incapazes de fazer críticas – e não respeitam os que a fazem –, deveriam aprender com o exemplo deixado por Catarina II – A Grande – imperatriz da Rússia:

Dada à leitura, Catarina sofreu um começo de miopia e reclamando dessa dificuldade recebeu um par de óculos. Para experimenta-los pediu que lhe dessem algo para ler; então apresentaram-lhe um texto cheio de louvaminhas e lisonjas para ela.

Ao ler o primeiro parágrafo, a Czarina devolveu os óculos e o cartão dizendo: – “Estas lentes não me servem; põem minha vista em perigo, aumentam demais”.


MIRANDA SÁ é jornalista, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã. Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.