Por Miranda Sá –

É muito difícil não encucar com o pensamento que Einstein expôs em carta para um amigo, dizendo que “A diferença entre passado, presente e futuro é apenas uma persistente ilusão”; refletindo, penso que o melhor é ficar entre uma proposição temática e a ficção.

Sabemos que os pesquisadores vestem a fantasia com as lantejoulas coloridas da imaginação, jogando-as uma a uma nos tubos de ensaio das hipóteses variáveis procurando o diferencial que o criador da Teoria da Relatividade expôs.

Em paralelo às pesquisas científicas, a arte cinematográfica patina nas pistas do ficcionismo e nos traz um filme dirigido por Robert Zemeckis com Michael J. Fox, Christopher Lloyd; Michael fazendo o papel de um adolescente, Marty McFly, admirador e auxiliar de um excêntrico cientista, Dr. Emmett Brown, interpretado por Christopher Lloyd.

A película foi desdobrada em três roteiros, dando seguimento a uma experiência de viagem no tempo. Salvaram-se os dois primeiros, o terceiro não vale a pena ver. No “De Volta para o Futuro” encontramos a invenção de Emmett, – um carro adaptado à radioatividade – , que por um inusitado acidente leva Marty a 50 anos antes, encontrando os seus pais ainda jovens; e se obriga a interferir na vida deles para poder existir. Indica, assim, que uma decisão no passado pode mudar o futuro.

Também no Cinema, fruto da genialidade de Woody Allen, autor e diretor de “Meia Noite em Paris”, premiado com um Oscar. Já o assisti seis vezes, admirando a aventura de um roteirista de Hollywood, Gil Pender (Owen Wilson), obcecado em tornar-se escritor.

De férias em Paris com a noiva, que se reencontra entusiasmada com um ex-professor, se desgruda dela e resolve percorrer a cidade após uma degustação de vinhos. Só, relembra a vida na década de vinte nos lugares frequentados pelos personagens da sua predileção, escritores, músicos, poetas e pintores.

Eis que à meia-noite, sob badalos e repiques de sinos, um carro para à sua frente e o casal Fitzgerald, F. Scott e Zelda, lhe convidam a excursão boêmia. Muita bebida e conversas interessantes reúnem em torno dele, Buñuel, Cole Porter, Dalí, Degas, Gauguin, Matisse, Picasso e T. S. Eliot. Por orientação de Hemingway, entrega o livro que está escrevendo para análise e revisão de Gertrude Stein.

Neste cenário do passado (que os norte-americanos rememoram talentosos representantes da sua cultura), o aspirante a escritor nas andanças pelo sonho, vive um romance com a ex-modelo e ex-amante dos pintores Braque, Modigliani e Picasso, Adriana (Marion Cotillard).

Adriana, como Gil, é apaixonada pelo passado, e então vivem juntos a fantasia de um retorno ao tempo, indo da década de 1920 para 1890 –, a “Belle Époque” –, uma utopia dela, que termina ficando no “Moulin Rouge” na companhia de Lautrec, Gauguin e Degas…

Este reencontro com a teoria de Einstein é curioso…. A ilusão persistente da diferença entre passado, presente e futuro se materializa não apenas socialmente, mas também politicamente.

O exemplo mais-do-que-perfeito da configuração da passagem do tempo nos chega com o ditado popular “O criminoso volta sempre à cena do crime”; que o relacionamento entre a psicanálise e a criminologia invoca o “Princípio de Locard”, em que a cena onde o crime foi praticado incita o interveniente a revelar-se, deixando um rastro.

Tivemos agora no Brasil esta representação que poderia ter como trilha sonora o Concerto n º1 para Cello de Shostakovich: A volta de Lula à Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, cenário da delinquência praticada no seu governo anterior em parceria com o ditador venezuelano Hugo Chávez.

Com isto, o passado se faz presente com a amostra do que foi mais desastroso para o País:  mandonismo, incompetência e desenfreada corrupção. Um projeto que teve o orçamento original de US$ 2 bilhões e consumiu dez vezes mais, US$18 bilhões, ficando inacabado; um fracasso que enriqueceu muitos “cumpanheros”.

Inconsequente, Lula anunciou de lá a retomada do projeto, pisando no rastro do crime. É revoltante esta volta ao escândalo que abalou a Petrobras e a Operação Lava Jato foi uma exigência histórica do povo brasileiro.

Três instâncias jurídicas condenaram Lula por corrupção e lavagem de dinheiro. Foi descondenado pelo STF, o que infelizmente resultou numa ajuda, pelo voto, ao assalto ao poder pela familiocracia oportunista, golpista e também corrupta dos Bolsonaro; eleito depois, o Presidente protagoniza esta tragédia que  permite uma tentativa de volta ao passado….

MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br

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