Por Ricardo Cravo Albin

“De todos os paradoxos da Amazônia, o mais espantoso é o manto de silêncio e de ignorância que a envolve.” (Roberto Goodland e Howard Irwing, pesquisadores de biomas mundiais).

Não há como amenizar no peito a extrema preocupação, quase desespero, com as quatro notas chegadas a mim por leitores deste espaço: 1) – Desmatamento da Amazônia bate recorde em junho e chega a 1.120Km2. 2)- A Amazônia tem maior número de queimadas em 15 anos no mês de junho. 3)- Governador de Roraima sanciona lei que proíbe destruição de equipamentos do garimpo ilegal. E, finalmente, uma única nota que pode aquecer os corações de quem ama a Amazônia: “4)- Uso de imagens de satélite para punir desmatadores começa a ser aceito no Brasil”.

Fiquei indignado com o que há tempos intuo em relação à preocupação mundial sobre o abandono da Amazônia à própria sorte. Ouvindo a BBC New Brasil há dias tive acesso à entrevista do climatologista Antonio Donato Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Ele começou com uma frase aterrorizante: “A perda de florestas amazônicas até hoje é muito maior do que os quase 20% de desmatamento dos quais se fala.”

Donato Nobre abre a nossa angústia com outra contundente afirmação: “Para se ter ideia da destruição continuada da maior floresta do mundo é preciso registrar uma palavra-chave, degradação. Degradação é o fenômeno que ocorre quando o acúmulo de perturbações na floresta (incêndios, extração de madeira e caça descontrolada, além de extração indevida de minerais) retira daquele ecossistema a capacidade de funcionar normalmente. Outro botânico, o inglês Jos Barlow, professor da Universidade de Lancaster no Reino Unido e pesquisador da Rede Amazônia Sustentável me disse o seguinte pelo telefone: “Assim como uma pessoa saudável tem menor chance de se contaminar com a Covid, uma floresta saudável tem menos chances de pegar fogo. A degradação do ecossistema, atentem para isso, deixa a floresta cada vez mais vulnerável.” Talvez a Amazônia seja a protagonista principal para ajudar a América do Sul, e todas as Américas, a equilibrar o clima, distribuir as chuvas pelas três Américas, além de capturar quantidades enormes de dióxido de carbono (CO2), causador principal do efeito estufa.” Razão por certo do interesse dos Estados Unidos na sua preservação adequada. Claro como água.

O avanço da degradação e o desmatamento estão precipitando o complexo ecossistema para um “ponto de não retorno”. Insiste Carlos Nobre, celebrado no mundo todo como eminente especialista em Amazônia, “Que só em 2019, a Pan-Amazônia perdeu mais de 1,7 milhões de hectares de floresta primária, segundo dados que me foram repassados pela Universidade de Maryland. Isso significa que pouco mais de três campos de futebol de mata virgem foram desmatados a cada minuto em 2019”.

Uma floresta, me explicou Jos Barlow, é muito mais que suas árvores – “É o produto de todas as interações entre milhares de espécies de plantas e animais que coexistem ali. Por isso, vocês brasileiros devem entender que a Floresta Amazônica é insubstituível.”

E por que as coisas parecem andar para trás? Perguntei eu, corado de vergonha – “Porque vocês desativaram órgãos competentes que fiscalizavam a corja que quer porque quer auferir lucros com o ilícito, o ilegal, o que não é de aventureiros. Mas sim do Brasil e do mundo. O duplo assassinato de Dom e Bruno tipifica isso, ao menos para nós aqui na Universidades e nos meios científicos.”

Ficaria claro para o mundo que a violência na Amazônia, a criminalidade atingindo recordes asfixiantes, precisa ter um basta. Razão por que, meus interlocutores me pedem que faça daqui um apelo ao Presidente do país para designar o mais rápido possível forças-tarefas de fiscais, muitos fiscais do IBAMA e do Meio Ambiente para ocupar o território “hoje sem lei” do nosso tesouro nacional. Ficou claro que a criminalidade local não remete apenas aos garimpos clandestinos, à extração ilegal de madeiras, à pesca predatória, à grilagem de terras. Está também nas quadrilhas de narcotraficantes, na guerra de facções e criminosos de todos os tipos que se aproveitam do vácuo do Estado para ocupar espaço. Espaço que não pretendem largar facilmente…

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2022, a Amazônia hoje é “síntese de violência extrema”. Porque, explicita o Anuário, atuam na região mais de duas dezenas de organizações criminosas regionais e pelo menos duas de configuração nacional, com irradiações internacionais. Outro dado alarmante: enquanto no resto do Brasil a taxa de homicídios e latrocínios caiu 6,5% em 2021, na Amazônia ele aumentou para 7,9%. Os pesquisadores, soube agora, não usam meias palavras para traduzir o descalabro: “Os principais grupos criminosos atuam hoje como síndicos da Amazônia.”

Como estamos todos nós, brasileiros que amamos o país e defensores fervorosos do nosso território, preocupados em lutar pelo que é e sempre foi nosso – e hoje parece não mais ser, senão de bandidos – clamamos para reverter essa tristíssima situação agora “no limite”. Resta-nos, não há a quem mais, implorar ao Governo Federal: Apelo a um Órgão que defende nosso território, o Exército Nacional.

“Socorro!”.

RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.


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