Por Sinval de Itacarambi Leão

O Dia do Jornalista é uma efeméride que nasceu de um decreto de Getúlio Vargas, em 1931, a pedido da Associação Brasileira de Imprensa – ABI.

A escolha do dia 7 de abril, aniversário da ABI, dialogava com a defesa da liberdade de imprensa pois justamente nessa data, em 1831, D. Pedro I renunciava ao trono imperial, no bojo de um movimento popular exigindo justiça contra os assassinos do jornalista Libero Badaró. Naquele dia, os cariocas saíram às ruas gritando o nome do protomártir da liberdade de imprensa. Era a vitória dos liberais contra o regime absolutista do monarca. A liberdade contra a tirania.

De fato, Libero Badaró, sem trocadilho, foi um liberal. Tinha no nome, o destino. Médico formado pela Universidade de Turim, viera da Itália para o Rio de Janeiro em 1826 e dois anos mais tarde estabeleceu-se em São Paulo, onde fundou O Observatório Constitucional, impresso na gráfica do Farol Paulistano, outro jornal de oposição ao imperador. Badaró nacionalizou-se brasileiro e além de jornalista, lecionava também matemática no curso preparatório da Faculdade de Direito do Largo S. Francisco, recém-criada.

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Morte anunciada

Libero Badaró foi assassinado em 20 de novembro de 1830, às 22 horas, na porta de sua casa que ficava na frente do antigo Teatro S. José, na rua que hoje leva seu nome. O assassino foi o alemão Henrique Stock que se homiziou na casa do Ouvidor-Geral da província, Candido Japiaçú, mandante da execução do jornalista, acredita-se até ordenada pelo imperador.  Badaró teve uma longa agonia, durante a qual ainda prestou depoimento a um juiz da cidade que instaurou um processo de atentado e morreu no dia seguinte. Suas últimas palavras foram proféticas: “Morre um liberal, mas não morre a liberdade”.

Japiaçú já era desafeto de Badaró por retóricas literárias. Não o perdoava por tê-lo humilhado num debate sobre teatro. Mas o estopim mesmo da crise política, que levou ao assassinato de Libero Badaró, foi a notícia da abdicação do rei Carlos X, da França, em 1830. O Observatório Constitucional repercutiu a derrota da monarquia francesa para os liberais e isso irritou as autoridades conservadoras de São Paulo. Houve uma repressão violenta aos estudantes da Faculdade de Direito, inclusive com prisões políticas. Badaró liderou no jornal uma campanha contra o Ouvidor, apelidado de Caligulazinha. Libero Badaró foi marcado para morrer. Era a vingança dele contra o jornalista. A comoção popular pela execução de Badaró levou uma multidão de cinco mil pessoas acompanhar o enterro, numa cidade de nove mil habitantes. Na lápide do túmulo, na Igreja do Carmo, ficou registrada a última frase do jornalista.

Impunidade

Japiaçú foi enviado ao Rio de Janeiro, escoltado, por ter regalias semelhantes hoje ao foro privilegiado. Seus pares o inocentaram. Stock foi preso e julgado em São Paulo. Condenado às “galés perpétuas”, meses depois, no Rio, foi absolvido.

“Na leitura dos autos do processo”, diz Nelson Varon Cadena, historiador colombiano, especialista em história da comunicação brasileira, “fica claro que os 2 sicários, sem motivação aparente, atiraram contra o jornalista. As palavras de Badaró no leito em que agonizava, a morte anunciada no jornal, a voz popular contra a autoria do crime, nada disto foi levado em conta. A imprensa de oposição liberal acusou Dom Pedro I de ser o mandante e Japiaçú apenas um instrumento. Nada foi provado, nada foi esclarecido e, num confuso conluio entre autoridades da corte e do judiciário, a “Justiça” não enxergava quando não queria ver. Veredicto estranho esse do jornalista assassinado, por ninguém”.

Enquanto isso, no Rio e outras cidades a repercussão alimentou um clima hostil ao imperador. Em sua visita a Minas, em março de 1831, os sinos das as igrejas de Ouro Preto dobravam em luto por Badaró.

Já a “Noite da Garrafada”, no dia 13 de março, na volta do imperador de Minas, houve uma batalha nas ruas e becos do Rio, entre os defensores do imperador e os dissidentes liberais, tendo entre seus motivos, a exigência de punição aos assassinos do jornalista.  O fato derrubou um ministério e a nomeação outro.

Mas nem isso segurou D. Pedro. Teve de abdicar ao trono imperial, em 7 de abril. A data lembrada como dia do jornalista legitimou, no Brasil, a liberdade de imprensa.

*Sinval de Itacarambi Leão – Jornalista e publicitário, é fundador e diretor responsável da Revista e Portal IMPRENSA


Fonte: Portal Imprensa