Por Bolivar Meirelles –
Responderei sempre calcado nas relações concretas que identifico entre Sociedade e Estado. Forças Armadas, para mim, constituem estamento repressivo do Estado. O Estado é criação da Sociedade de Classes na pretensão de que possa, através dele, possuir um componente mediador dos conflitos sociais. As Forças Armadas Brasileiras foram e, a meu ver, continuam sendo impregnadas por um anticomunismo larvar. Inexiste a causa, o comunismo da forma revolucionária e internacionalizada não existe mais. As questões motivadoras do processo revolucionário via clara identificação de classes sociais antagônicas existiam no ambiente de trabalho dos séculos 19 e 20, com nítida clareza. Ali estava, na fábrica o trabalhador explorado, o proprietário e alguns componentes gerenciadores do processo de exploração, engenheiros e administradores. Toda a teoria da administração é oriunda da engenharia de produção. Taylor é, filho direto da engenharia de produção no sentido da compreensão da economia liberal onde exercitava-se remunerar o trabalhador por estímulo e o capitalista exercitar seu “direito burguês” de apropriação da crescente “mais valia relativa” denominada, pela economia capitalista, de “produtividade”.
Hoje, a situação ficou mais complexa, existem profissionais, tecnólogos, relativamente bem remunerados diferente da massa de trabalhadores existentes no século 19 e, grande parte do século 20. A “revolução tecnológica, principalmente na microeletrônica”, o desenvolvimento de máquinas de rápido processamento de dados, o sistema de robotização que vem substituindo a “mão de obra direta” faz com que a “mais valia relativa” dispare em seu crescimento mas, ao mesmo tempo, dificulte a tarefa revolucionária de agitação e de propaganda. Os movimentos de “massa” reivindicatórios diminuem. As preocupações que os proprietários tinham nos séculos 19 e 20 diminuíram. Os reflexos de agitação na instabilidade social diminuíram. Imaginemos uma “greve de robôs”. Impossível! De gestores e tecnólogos? Impossível, eles passaram a receber ganhos maiores do que os operários do ontem próximo. Temos de reinventar a revolução operária. Esta é uma questão. Os instrumentos coercitivos do Estado também tem de reinventar suas tarefas. O servidor público passou a ser um foco de observação dos neoliberais. Agora, quais são as parcelas mais bem remuneradas do Serviço Público? Os servidores elementares não existem mais… terceirizados e diminutos frente a mecanização de seus serviços. A quem os repressores irão reprimir? Se perguntam os militares e outros instrumentos? A nós mesmos pensariam eles? Ao estamento jurídico? Aos professores associados, titulares?… Talvez os professores do ensino fundamental ou profissionais de saúde públicos.
Voltando-se para a Classe Dominante, estaria ela interessada, frente a uma realidade concreta de, hoje, possuir no Brasil, uma Ditadura bonapartista, que a representasse indiretamente por um militar presidindo a nação? Melhor seria um representante direto de sua classe ou um civil articulador da negociação de classes compactuando os interesses da burguesia com os trabalhadores… Aí está o centro nevrálgico dos governos petistas, tentarem compactuar os interesses de classes sociais.
Jango efetivou a Eletrobrás, tinha um projeto de educação para adultos, método do pedagogo Paulo Freire, levou a educação uma visão, consciente ou não colocada por Gramsci. Aliás, minha tese de doutorado, o Professor Gaudêncio Frigoto disse que, a originalidade dela foi a de eu haver colocado o que já se fazia na educação secundária e até universitária para a educação do Servidor Público. Era quase a tentativa de fazer com o servidor público o que o “Mito da Caverna de Platão”, propunha.
Não vejo hoje, no Brasil, por total falta de necessidade da Classe Dominante, da efetivação de um Golpe de Estado com características de tropas nas ruas. Seria ridículo e, os Militares não caminham sozinhos nessa atitude arbitrária. Acho que podemos dormir em paz. Temos sim, é de pensar em métodos de agitação e propaganda que atinjam os novos trabalhadores. Panfletagem nas portas de fabrica? Dizer ao professor universitário, os tecnológos, que é melhor ganhar remuneração menor numa Sociedade Igualitária? Só os muitos conscientes abririam mão de seus benefícios pelo outro. Nós que, embora componentes das camadas médias altas continuamos com as mensagens marxistas gravadas na cabeça, temos de pensar técnicas novas para nossa comunicação. Enquanto isso não se der, a Classe Dominante e os instrumentos repressivos do Estado, continuarão tranquilos, até porque a as pandemias e as guerras localizadas diminuirão a quantidade de excluídos “desnecessários” ao atual sistema produtivo capitalista.
BOLIVAR MARINHO SOARES DE MEIRELLES – General de Brigada Reformado, Cientista Social e Presidente da Casa da América Latina.
MAZOLA
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