Por Helio Fernandes –
Publicações históricas no Centenário do jornalista.
Atendendo a pedido de um leitor do blog, que prepara trabalho para universidade dos EUA, faço esforço de memória para lembrar episódios que não estão nas biografias sobre a “Coluna Invicta escrita há dezenas de anos”. Mas que deveriam constar obrigatoriamente do livro de Aarão Reis, historiador e ainda por cima comunista militante nos anos de chumbo, publicado este ano.
E ainda mais grave a ausência na Historia escrita pela filha Anita Leocádia, está nas livrarias apenas há três meses. Ela declarou que só iria escrever sobre o Prestes, líder comunista, não publicaria uma linha sobre a sua vida particular, é um direito como filha mas não como biografa e historiadora com outros quatro mestrados.
Além do mais os fatos importantíssimos da vida sensacional do “Cavaleiro da Esperança”, não podem ser esquecidos, foram vividos por ele, fazem parte, dos 60 anos que pertencem á historia. Como Anita Leocádia só foi conhecer o pai aos 46 anos, pode ser que a falha tenha sido da pesquisa. Tudo começou em 5 de julho de 1922, um movimento heroico no Rio, contra o governo de Artur Bernardes, que ainda nem havia tomado posse. Alguns ficaram nas areias de Copacabana, praticamente deserta e isolada. O Tenente Eduardo Prado, com a barriga toda enfaixada, foi para o Hospital Central do Exercito.
O Presidente Epitácio Pessoa foi ao hospital, parou na cama do tenente, afirmou consternado: “Tanta bravura por uma causa inglória”. O tenente puxou violentamente as faixas, morreu na hora. Desesperado, Epitácio Pessoa teve que ser socorrido. Anos mais tarde, nas “Memórias”, confessou que o episodio foi inesquecível na vida dele.
Prestes só aparece na Historia em 5 de julho de 1924, a comemoração dos 2 anos de 1922. Está com 24 anos. O capitão mais jovem da historia do Exercito de todos os tempos. Começa então a imortalizada “Coluna Prestes”, sem nenhum objetivo de Poder, vão para o norte, depois Paraná e Rio Grande do Sul, o governo e o poder ficam exatamente do lado oposto. Assumem um compromisso: assim que terminar o governo Bernardes, faltam 2 anos, deixam o território brasileiro, se internam no país mais próximo. Prestes inicialmente vai para a Bolívia.
Aqui, deixo a historia encadeada, que tem no mínimo 60 anos, passo a relatar fatos isolados, até mais importantes. E para melhor compreensão e facilidade, vou numera-los.
1- O próprio Prestes escreve diversas vezes, que custou a “ser” comunista. Em 1930 está em Montevidéu, é engenheiro, contratado para uma obra. Getúlio fora derrotado para presidente, não pensa mais na Revolução. Mas Osvaldo Aranha e alguns tenentes retomam as negociações. Com o assassinato do governador da Paraíba, João Pessoa, (sobrinho do Presidente Epitácio) a Revolução vive ou revive.
2-Siqueira Campos, um dos maiores amigos de Prestes e João Alberto, que participou da “Coluna” inteira, vão a Montevidéu convidar Prestes para chefiar o movimento. “Pergunta imediata”. A revolução é comunista?”. Assombro dos dois amigos, Prestes nem havia se declarado comunista, ele mesmo conta que levou mais de 10 anos até se definir.
3-Resolvem ir embora, os dois pegam um avião Latacoera, de uma empresa chamada Condor. Levanta e cai logo. Siqueira Campos, campeão de natação do Exercito, se joga no mar, dois dias depois o que sobrou dele, é recolhido todo comido de peixes. João Alberto, que não sabia nadar, se agarra na asa do avião é salvo, fez carreira fantástica. Prestes sofreu muito com o acidente e a morte de Siqueira Campos. Não tinha nada a ver, não esqueceu o desastre. Ninguém publicou nada sobre o desastre e o sofrimento de Prestes. É impossível que não tenham sabido.
4-Em 1932, sozinho, isolado, sem saber se já é comunista, embora escreva, “leio Marx dia e noite”, viaja para a União Soviética, fica 3 anos em Moscou, Não acontece nada, em março de 1935 consegue autorização para voltar ao Brasil e fazer a revolução comunista. A revolução fracassada, completou 80 anos na ultima sexta feira.
5- Com Prestes veio o alemão Harry Berger, segundo seu advogado Sobral Pinto , o homem mais torturado da historia do Brasil. Preso num Regimento de Cavalaria não podia ficar sentado, em pé, deitado, enlouqueceu. Com a anistia, de 1945, foi colocado num navio para Hamburgo, morreu 6 ou 7 anos depois, sem saber de nada.
6-Prestes foi preso em 1936 levado para a Policia Central, o Chefe de Policia era o antigo tenente Felino Muller. Expulso da coluna por covardia e até irregularidades com dinheiro da tropa, torturou Prestes psicologicamente, não tinha coragem de tortura-lo fisicamente. Levado para a Casa de Correção, julgado e condenado duas vezes, uma a 17 anos, outra a 40.
7-Ai aconteceu um fato assombroso, rigorosamente verdadeiro, mantido inédito por ordem do ditador Vargas. O Brasil não tinha relações diplomáticas ou comerciais com a União Soviética. Stálin mandou um alto elemento do Politburo, conversar com Vargas. Apenas um recado ou pedido. “Agora que somos aliados, não tem sentido manter preso o camarada Prestes”. Vargas respondeu que ia fazer consultas, chamou o Ministro da Justiça, deu ordens para transferir Prestes para a Penitenciaria da Frei Caneca.
Em pleno centro da cidade, num bairro residencial. Longe dos outros presos, construíram uma casa de madeira, 2 quartos e uma sala, cozinha e banheiro. E o mais importante: recebia visitas fartas, (e o que adorou mais) do que tudo: recebia os irmãos comunistas Pedro e Paulo Motta Lima, escritores e intelectuais como Caio Prado Júnior, Carlos Drummond de Andrade, e o que adorou mais ainda, recebia livros e jornais diários, nunca esteve de 1941 a 1945, na Casa de Correção como está no livro da filha. Enviava e recebia cartas, só faltava à liberdade.
8- Ficou nesse regime até março de 1945, quando foi libertado. Duas decisões surpreendentes. 1- Lançou a constituinte com Vargas. 2-Fez um comício de mais de 100 mil pessoas no gramado e nas arquibancadas do Estádio do Vasco. Tratou assim: “vocês só pensam numa geladeira maior, num radio enorme”. Ainda não havia televisão, tinham radio para ouvir as novelas da Radio Nacional. O povão saiu chorando.
Em 2 de dezembro desse mesmo 1945, derrubada a ditadura, houve a eleição com a mais estranha e extravagante legislação. Todo cidadão podia se candidatar por 7 estados, simultaneamente. Prestes se elegeu deputado e senador pelo Distrito Federal. Tinha que optar lógico, preferiu o senado.
10- Não se destacou, em 1948 o Partido Comunista foi colocado na clandestinidade, soube pelo antigo advogado e depois grande amigo, Sobral Pinto estavam juntos quando Prestes voltou em 1979.
A ultima vez que estive com Prestes foi em Cuba, em 1987, num seminário sobre divida externa. 61 brasileiros convidados, Lula e outras notabilidades. Só dois falaram: Prestes e este repórter. Escrever sobre Prestes, não ha tempo para terminar, mas fatos inéditos, difícil. Fiz o maior esforço para ajudar o trabalho de Cícero Marino Podia.
Fonte: Facebook (REPRISE)
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HELIO FERNANDES – Jornalista, decano da imprensa brasileira. Seu primeiro emprego foi na revista O Cruzeiro, quando tinha 13 ou 14 anos de idade, onde entrou a pedido do tio, gráfico de profissão, e lá permaneceu por aproximadamente 16 anos, junto com seu irmão mais novo Millôr Fernandes. A seguir, foi chefe da seção de esportes do Diário Carioca, onde chegou ao cargo de secretário, semelhante ao atual editor. Quando o jornal fechou, foi ser diretor da revista Manchete. Após o final do Estado Novo, em 1945, cobriu a Assembleia Constituinte de 1946, onde conhece o jornalista Carlos Lacerda, com quem teve longa relação profissional e de amizade. Trabalhou como jornalista no recém-lançado jornal Tribuna da Imprensa. É o único jornalista ainda vivo que participou da cobertura da Assembleia Constituinte de 1946. Foi assessor de imprensa de Juscelino Kubitschek durante a campanha deste à presidência da república em 1955, quando viajou por todo o pais acompanhando o candidato. Após a campanha, polêmico como sempre, volta ao jornalismo de oposição ao governo que ajudara a eleger. Trabalha também na televisão, num programa onde comenta a situação política, com sucesso. No começo da década de 1960, Helio Fernandes adquire o jornal Tribuna da Imprensa, fundado alguns anos antes por Carlos Lacerda agora governador do estado da Guanabara. Vários jornalistas importantes dessa época ganharam destaque com ele, como Paulo Francis e Sebastião Nery. Jornalista sempre polêmico e com ideias de esquerda, já era perseguido antes do Golpe Militar de 1964, preso pela primeira vez em julho de 1963 por ordem do Ministro da Guerra de João Goulart, general Jair Dantas Ribeiro. Após onze dias preso, quatro deles incomunicável, foi libertado por ordem do Supremo Tribunal Federal. Foi o redator do manifesto pela Frente Ampla, lançado por Juscelino, Lacerda e João Goulart e chegou a ser candidato a deputado federal pelo MDB, mas teve seus direitos políticos cassados em 1966. Com a violenta censura à imprensa imposta principalmente com o AI-5 em 1968, foi preso várias vezes, inclusive no DOI-CODI, foi afastado compulsoriamente do Rio de Janeiro e obrigado a passar períodos de exílio interno em Fernando de Noronha e em Pirassununga(SP). Ao contrario de outros donos de jornal, nunca aceitou a censura e nunca deixou de tentar publicar as notícias do período. Seu jornal foi o que mais sofreu intervenção durante o Regime Militar: teve mais de vinte apreensões e censores instalados dentro de seu prédio por dez anos e dois dias. Em 1973 foi preso por seis dias no quartel da Polícia do Exército na rua Barão de Mesquita. A sede do jornal chegou a ser alvo de um atentado a bomba, poucos dias antes do Riocentro, já na época final da ditadura militar, em 1981, mas no dia seguinte o jornal estava nas bancas. Além de irmão do Millôr, Helio Fernandes é pai dos jornalistas Rodolfo Fernandes e Hélio Fernandes Filho (fonte: Wikipédia)
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