Por Marcos Serpa

É tipo um torneio de roleta russa: para disputar, você sai na rua e corre o risco de pegar a doença. A máscara e o uso de álcool gel diminuem consideravelmente o risco, mas não eliminam 100%. Você puxa o gatilho uma vez. Em 15 dias, se estiver tudo bem, parabéns. Se quiser, pode desafiar o vírus novamente.

Se der o azar da bala estar na agulha, ops… mas ainda não é o pior. Tem a possibilidade de “pegar de raspão” e sobreviver, no máximo com algumas sequelas. Mas se a bala acertar, tem o hospital.

Agora, vem a segunda rodada da roleta russa. Se tiver leito, médico, equipamento, ótimo, tem uma boa chance de vencer. Mas se der o azar da bala estar mesmo na agulha, é morte cruel e certa, por sufocamento.

E, finalmente, vem a terceira roleta russa, a disputa final. No leito do hospital, a luta entre o vírus e o organismo. Quem sobrevive, pode receber o prêmio, que é continuar vivendo. Infelizmente, é provável que com muito mais sequelas de que quando começou o “jogo”. Mas se quiser o desafio novamente, só daqui a alguns meses, quando a imunidade ao vírus baixar.

PORÉM, AGORA AS REGRAS VÃO MUDAR!!! A segunda rodada vai ficar muito mais difícil. Não teremos mais leitos disponíveis da forma (difícil) que já vinha acontecendo.

Falando muito sério…
Eu não gosto de ser alarmista muito menos “cagador de regra”, (se já fui um dia, foi sem querer e peço desculpas), mas infelizmente o que vamos ver (não viver, espero) daqui em diante nos hospitais vai ser muito mais próximo de nós e mais pesado do que as matérias de telejornal mais assustadoras que vimos até agora. Não está mais batendo na porta, já entrou.

Infelizmente, não falo isso por achismo. Podem me cobrar daqui a algumas semanas. Teria o maior prazer em dizer que fui um trouxa assustado.

Porém, imagina agora uma guerra. Uma bomba atômica caindo bem perto da nossa cidade. Você e sua família sobreviveram, mas a radiação está lá fora. Quanto mais você sair de casa, maior a chance de ficar mortalmente doente. E não vai ter hospital em pé pra te atender.

Hoje, o importante é se preocupar com o que comer. Mais nada. Deixa as contas juntarem por enquanto, se for o caso. O call center do Itaú é chato, mas não mata. E tentar ficar em casa.

Nossa preocupação agora tem que ser essa: quem tem, ótimo, se puder doar pra quem não tem no momento, melhor ainda. E quem não tem jeito mesmo, faça o que puder, mas com a consciência do tamanho do problema e com todos os cuidados possíveis. É o que eu procuro fazer pra me proteger e à minha família. “Jogar o jogo” o mínimo possível.

Infelizmente, nosso país não tem um programa econômico que possa dar uma assistência mínima para todo mundo ficar em casa no momento mais importante da pandemia.

E isso não é culpa do vírus, o culpado é o verme que você sabe quem é. O mesmo que fez cu doce pra comprar vacina – a única coisa que adianta pra resolver o problema – e agora tem dificuldade em conseguir.

Claro que todo mundo iria deixar de ganhar dinheiro trabalhando pra ganhar a merreca do auxílio emergencial, mas em tempos de guerra, é assim que deveria funcionar, pois não há condição de irmos pra rua normalmente.

Mas vivemos em um mundo em que tem gente ainda preocupada não em sobreviver ao momento crítico da contaminação do vírus, à falta de leitos, hospitais, médicos, mas em PROSPERAR comercialmente em meio a isso tudo. Desses não dá pra esperar muito.

O mais difícil até agora é conscientizar os ignorantes. E quando me refiro a eles, falo no sentido dos que ignoram a gravidade da situação, seja por qual for a razão, o que é de certa forma, normal em uma sociedade tão diversa.

Não falo em insistir naqueles que “sabem, mas acham que é assim mesmo e deixa rolar”. Desses aí, só contem com a misericórdia divina, porque a minha, tenho dificuldade em ter, não sou evoluído a esse ponto.

Ainda assim, espero estar aqui daqui a alguns meses vacinado, reunindo minha família e convidando você, meu amigo do Face, pra tomar aquela gelada e comemorar meu aniversário de 50 verões, com saúde, trabalhando, e parcelando as contas do Itaú que ficaram pra frente.”


MARCOS SERPA é jornalista – Araruama (RJ)

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