Por José Macedo

Ontem, um conhecido dizia: as eleições de 2022 abrirão a possibilidade de vencê-las. Trata-se de uma visão, no momento, equivocada. As coisas permanecendo constantes, não há como ocorrer essa possibilidade.

Pergunto a meu interlocutor: onde está a esquerda?

Não vislumbro sinais de uma esquerda organizada e, muito menos, potencialmente, com possibilidade de disputar uma eleição com chances de Vitória. Carecemos de organização e de liderança. Hoje, não há sinais de um equilíbrio imprescindível entre os que se apresentam. Os que se propõe a um discurso com motivação popular estão no encalço de auto-firmar-se, sem um passado de luta coletiva e, o egocentrismo desqualifica-os para representar esse segmento.

A esquerda, no mundo e no Brasil, perdeu suas oportunidades por incapacidade, a consequência foi a de decepcionar a todos, não fazendo as mudanças aguardadas. O descrédito é visível. Até pouco tempo, havia um debate interessante, entre os liberais, defensores do capitalismo em um Estado Mínimo, com mínima intervenção, e os defensores de uma outra forma de gestão, o socialismo, não esquecendo os sociais democratas. A extrema direita venceu as eleições nos USA e, em outros lugares, inclusive no Brasil.

A pequena crise de 2008 ofereceu uma oportunidade à esquerda, quando a direita mostrou sua impotência e fragilidade para sair da crise, tendo de recorrer ao Estado intervenção e proteção. Ali, restou demonstrado o fracasso do velho neoliberalismo, nos USA, epicentro da crise. Washington teve de intervir, direcionando bilhões de dólares no mercado, para que não houvesse uma quebradeira generalizada.

A esquerda não foi capaz de mostrar a fragilidade do neoliberalismo e do Estado Mínimo. Aos que cultuam o mercado como dotado e capaz de fazer as correções ficaram sem rumo.

A esquerda mais uma vez, perdeu a oportunidade histórica, para mostrar as causas de milhões de trabalhadores sem empregos e jogados na rua, à própria sorte. Perderam a oportunidade pra mostrar o fracasso do Estado Mínimo e desregulado.

Agora, nessa crise mundial sanitária, surge outra oportunidade, aos nossos olhos e não sabemos lidar com a presente realidade. A esquerda perdeu suas bandeiras e está sem possibilidade de retomá-las e perdida.

A consequência é inusitada: vemos a direita, dita de liberal, e a extrema direita como os condutores das “mudanças”, nesse instante de crise. Enquanto ambas estão no tablado, a esquerda não passa de mera expectadora ou apenas, vocifera. Não sabemos quem sucumbirá. De antemão, sabemos que a receita do velho capitalismo, vocacionado para a centralização do capital e gerador de seguidas crises, voltará mais voraz e predador.

Peguei uma frase de George Orwell, que sintetiza meu pensamento:Enxergar o que está diante de nosso nariz exige um esforço constante.

[03/05/2020]


JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre