Por Márcia Bruno Lobo –

Muitos pais ou tutores reclamam que seus filhos são chatos para comer.

Às vezes, a criança demora muito para terminar a refeição; outras, ela só aceita um leque muito pequeno de alimentos, ou inspecionam o alimento minuciosamente antes de ingeri-lo. A criança se recusa a provar alimentos novos ou também rejeita alimentos que já são familiares. Pode ser que ela só aceite uma marca específica de certo alimento. Essas restrições acabam afetando a rotina da família à mesa e levando a problemas de saúde. Se você observa essas características em seus filhos, pode ser que eles apresentem algo chamado Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE).

O TARE é uma doença psiquiátrica importante e que requer atenção, pois a restrição excessiva de alimentos pode levar a consequências sérias para a saúde do seu filho. Ao contrário de outros transtornos alimentares, o TARE não está associado à uma preocupação excessiva com o peso e o corpo. Porém, esse transtorno também afeta o funcionamento psicossocial da criança e dificulta a sua habilidade de participar de atividades do dia a dia e eventos relacionados à comida. Crianças com TARE normalmente não conseguem alcançar as necessidades energéticas e nutricionais apropriadas para a sua idade.

Consequentemente, há uma perda importante de peso, podendo retardar seu crescimento, e uma densidade mineral óssea prejudicada. A deficiência nutricional é significativa, fazendo com que a criança precise tomar suplementos ou até fazer uso de uma alimentação enteral para evitar o agravamento de desnutrição. Por isso, é importante estar atento aos seus exames bioquímicos e às suas medidas antropométricas, para ter certeza que a criança está ingerindo todos os macro e micronutrientes necessários para o seu crescimento.

Crianças que são sensíveis a cheiros, texturas, sabores ou cores dos alimentos podem ter TARE. Se elas apresentam temperamentos como frustração ou rigidez, ou se passaram por algum trauma relacionado à alimentação (como vômito excessivo ou diarreia), elas também podem desenvolver TARE. Adicionalmente, comorbidades comuns são o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

As preferências alimentares de uma criança começam a aparecer entre 2 e 3 anos de idade, e tanto a genética quanto fatores ambientais contribuem para a formação de suas preferências. É importante dar autonomia às crianças, para que elas venham a ter uma relação saudável com a comida. O quanto antes os pais apresentarem alimentos novos à criança, melhor será a sua preferência no futuro. É importante ressaltar que os adultos servem como um espelho para as crianças, e por isso devem consumir alimentos variados e saudáveis. É recomendado que evitem oferecer recompensas e pressionar os filhos a comerem, pois esses comportamentos podem contribuir com a doença. Já refeições feitas em família e o hábito de envolver as crianças nas compras e no preparo dos alimentos são fatores que contribuem para uma relação saudável com a comida.

Caso seu filho apresente características do TARE, é fundamental procurar a ajuda de um profissional especializado, para evitar que o quadro se agrave. Um atendimento individualizado é fundamental, pois não existe um tratamento padrão para o TARE.

Cada criança vai precisar de uma estratégia personalizada, de acordo com as suas necessidades, limitações e carências nutricionais.

MÁRCIA BRUNO LOBO – Nutricionista com foco em mudança comportamental, formada pela Tufts University (Boston, EUA), correspondente internacional e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.

@nutrimarciabrunolobo / marcia.brunolobo@outlook.com

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