Por José Carlos de Assis

Os caminhoneiros não são ingênuos para aceitar, de novo, o tipo de acordo que lhes foi imposto para acabar com a greve de 2018. Na época, a manobra do Governo foi atirar nas costas dos governos estaduais parte da redução do preço do diesel. Agora há menos ingenuidade da parte dos caminhoneiros. Eles sabem que os impostos estaduais, ICMS e ISS, não tem nada a ver com preço dos combustíveis. Se o Governo quiser reduzir o preço do diesel e de outros combustíveis, que trate de exigir isso da Petrobrás, que é a responsável por eles.

É importante assinalar que os impostos sobre os combustíveis servem para financiar a educação dos filhos dos caminhoneiros, a saúde de suas famílias, o saneamento básico de todos eles, as moradias populares, a água nas periferias. Nem sempre os governos estaduais são competentes e honestos para garantir esses serviços, mas muito pior seria se ficassem completamente sem dinheiro para financiar uma redução no preço do diesel.

Isso não deve ser aceitado de forma alguma como mecanismo espúrio de subsídio ao diesel.

O que aconteceu em 2018 foi uma brutal transferência de renda temporária da sociedade como um todo para os acionistas privados da Petrobrás, a pretexto de subsidiar o diesel. E não foi só isso. Como acontece ainda hoje, a Petrobrás aumentou o preço dos combustíveis no Brasil com o propósito não só de aumentar a renda dos seus acionistas, sobretudo estrangeiros, mas com o intuito deliberado de permitir a empresas petrolíferas entrar no nosso mercado. É que essas empresas tem custo muito alto de combustíveis. Petrobrás, então, aumentou os seus próprios preços, à custa dos caminhoneiros, para que elas tenham condição de competir aqui, gerando renda ainda maior para seus acionistas.

Seriam os caminhoneiros tão ingênuos ao ponto de aceitar essas manobras de favorecimento de empresas e de acionistas estrangeiros apenas para dar à direção da Petrobrás o gosto de proclamar aos quatro ventos, sem qualquer fundamento, que o Brasil é um mercado livre de derivados de petróleo? Ou será o caso de a Petrobrás carregar a responsabilidade pela greve, na medida em que os petroleiros, sem renda digna , se mostrem cansados de continuar respondendo pelos lucros gigantescos das empresas petrolíferas e dos acionistas externos?

Em síntese: só haverá uma forma de evitar a paralisação dos caminhoneiros. É pela decisão da Petrobrás de reduzir os preços do diesel, da gasolina e do gás, sem manobras diversionistas.


JOSÉ CARLOS DE ASSIS – Jornalista, economista, escritor, colunista e membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Professor de Economia Política e doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 25 livros sobre Economia Política; Foi professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), é pioneiro no jornalismo investigativo brasileiro no período da ditadura militar de 1964; Autor do livro “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/1983”, onde se revela diversos casos de corrupção. Caso Halles, Caso BUC (Banco União Comercial), Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla Maluf), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin (Ronald Levinsohn), Caso TAA. Cada caso é um capítulo do livro; Em 1983 o Prêmio Esso de Jornalismo contemplou as reportagens sobre o caso Delfin (BNH favorece a Delfin), do jornalista José Carlos de Assis, na categoria Reportagem, e sobre a Agropecuária Capemi (O Escândalo da Capemi), do jornalista Ayrton Baffa, na categoria Informação Econômica. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.