Por Bolivar Meirelles

1964, todos tomaram conhecimento no primeiro de abril.

Deslocamento das tropas do Exército de Minas Gerais, sob o comando do General Olímpio Mourão Filho. O mesmo do Plano Cohen, estimulador do Golpe de Estado que resultou na Ditadura do Estado Novo Brasileiro. Sempre o anticomunismo larvar, operando como instrumento da implantação fascista no poder. O Estado Novo Brasileiro em 1937 e o Golpe de Estado de abril de 1964. Dois instrumentos terríveis contra o desenvolvimento da democracia brasileira. Dois indignos marcantes momentos. A violência se espraia. Torturas e mortes, o vil estupro e assassinatos em próprios civis e militares. Acerto entre as cúpulas econômicas internacionais e as nacionais, acerto dos grandes monopólios e oligopólios. Sempre o Império Norteamericano à retaguarda. Em 1937, Hitler ditava forte influência no Estado Novo Brasileiro. Em 1964, hegemônico Império Norteamericano. João Goulart, governo nacionalista, forte aproximação popular, reforma agrária, Universidade de Brasília, Eletrobrás, alfabetização em massa, método Paulo Freire. Culmina com a “Lei de Remessa de Lucros”. O Brasil tentando sua independência. Liberdade de opinião sorrindo ao povo brasileiro. A Cultura em alta. A UNE, União Nacional dos Estudantes. O CGT, Comando Geral dos Trabalhadores, com os sindicatos organizados. Militares divididos nos quartéis. Nacionalistas, socialistas, patriotas e vende pátria. Os últimos, vendidos ao Império Norteamericano. Corria a Guerra Fria. Cuba sinalizava os novos caminhos libertários na América Latina. Brasil, dimensão importante. O Embaixador Norteamericano conspira com oficiais generais, o empresariado golpista também. A Parcela da Igreja Católica conservadora inclusive. O anticomunismo larvar subsidia as mentes entreguistas. O Brasil institucional não observava a Marinha Norteamericana se aconchegando ao Norte brasileiro.

Clima devastador.

Os nativos brasileiros conservadores cedendo às ambições internacionais. Em 1961, Brizola reagiu ao golpe e criou a Cadeia da Legalidade. Posse de João Goulart. Em 1964 explodiu. Ingenuidade da esquerda militar ou dos militares nacionalistas, por seus comandos, não reagiram com eficácia. Talvez esses, pensando que seria como antes, “batalha de Itararé”, aquela que não aconteceu, ficaram tranquilos. O Golpe veio para ficar. 21 anos de ditadura com governos militares. Prisões, exílios, perseguições internas. Mais um primeiro de abril de 1964, festejado como 31 de março. Talvez vergonha das Forças Armadas festejarem o dia da mentira. Mentira verdadeira. Acontecimento que durou 21 anos de ostensivo militarismo e um governo de transição com Tancredo Neves e José Sarney. Tancredo Neves em cadáver. Sarney assume em situação indevida. Controlado, esse, pelo Ministro do Exército, o General de Exército Leônidas Pires Gonçalves. Este general tutelou Sarney e pressionou os constituintes liderados por Ulysses Guimarães. Saiu, em 1988, uma Constituição Federal com um discutível artigo 142, resíduo do “Poder Militar”. Uma Constituição Federal que não reviu a lei da Anistia de 1979 do governo Figueiredo, que anistiou torturadores e assassinos em próprios e instituições públicas ou em casas de tortura, como a de Petrópolis. Uma Constituição Federal que não recolocou na ativa os milhares de militares legalistas punidos pelos Atos Institucionais, bem como por instrumentos administrativos dos Governos Militares Ditatoriais. Essa é a situação em que, todos os anos temos de fazer a “anti comemoração” do Golpe de Estado de 1964. Assim fazemos nesse 31 de março de 2022, esperando o primeiro de abril que não foi o dia da mentira.

Por um governo Popular e Democrático! Pela contínua preparação do Poder Popular no Brasil!

BOLIVAR MARINHO SOARES DE MEIRELLES – General de Brigada Reformado, Cientista Social, Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre, Mestre em Administração Pública e Doutor em Ciências em Engenharia de Produção, Pós Doutor em História Política, Presidente do Conselho Executivo da Casa da América Latina.


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