Por Miranda Sá –
“Nada encoraja tanto ao pecador como o perdão” (William Shakespeare)
A Primavera está chegando ao hemisfério sul no dia 23 de setembro; os oceanos vão aos poucos aquecendo e a temperatura amena favorece o acasalamento nos reinos animal e vegetal… Para os poetas é a estação das flores e dos amores…
Um bom momento também para a multiplicação demagógica dos discursos políticos, pedindo perdão, numa autocrítica que no dizer de Nelson Rodrigues, “traz a imodéstia de um necrológio redigido pelo próprio defunto”.
O massacre dos povos pré-colombianos organizado sob a cruz de Cristo e as bênçãos do Vaticano, teve o pedido de perdão do papa Francisco, citando o seu antecessor, João Paulo II, desculpando-se “pelas ofensas da própria Igreja contra os povos originários, e também pelos injustificáveis crimes cometidos em nome de Deus durante a chamada conquista da América”.
Mas parece dubiedade do Pontífice latino-americano, pedindo aos fiéis na República Dominicana que perdoem os que “cometeram crimes e causaram dor e sofrimento aos antepassados”; e recebe como presente de Evo Morales na Bolívia uma cruz em forma de foice e martelo, símbolo do massacre presente na Venezuela.
Na Europa Central outra representação do pedido de perdão. O presidente alemão, Frank Walter Steinmeier, também pediu perdão referindo-se à invasão da Polônia em 1939 pelo exército alemão com seis milhões de poloneses mortos, vítimas do nazismo e da tirania hitlerista.
Teatralizou-se, também, que os Estados Unidos e os talibãs estariam próximos de um acordo para encerrar os 18 anos de conflito no Afeganistão, mas sem informar qual das duas partes pedirá desculpas por atentados com milhares de mortos. Disseram que os talibãs dariam garantias de segurança em troca da retirada dos 13.000 soldados americanos do País; cinco dias depois, um atentado talibã mata um jovem soldado norte-americano…
A palavra perdão é santificada, doce e poética. Como verbete dicionarizado, é um substantivo masculino de origem latina, (perdonare) que significa a ação de pedir desculpas, aceita-las redimindo um malfeito ou uma ofensa.
Mas, embora simultâneo com a Primavera, o perdão não é um removedor de sujeira, desengordurante e bactericida, como água sanitária, capaz de limpar a mancha dos males causados.
Nos casos citados, a História não deletará as carnificinas dos conquistadores espanhóis no México, na América Central e nos Andes, nem ressuscitará os povos trucidados pelo nazi-fascismo, e muito menos aceitará condenações e absolvições de terroristas de acordo com as conveniências do momento.
Quem irá pedir perdão ao povo brasileiro pela exploração literalmente selvagem das Ongs que atuam na Amazônia, umas abjurando as crenças originais dos indígenas, outras favorecendo a exploração do subsolo por estrangeiros.
Quem reclamará perdão pelo atentado terrorista sofrido pelo presidente Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral, em Juiz de Fora? E o perdão do Presidente aos inimigos da Lava Jato nomeando um crítico da operação para a Procuradoria?
Qual “artista” se desculpará no futuro por ter feito a campanha pró-impunidade do “Lula Livre”, seja na imprensa, no Congresso, ou nas ruas, acumpliciando-se com o assalto perpetrado contra o Erário pela quadrilha do ex-presidente condenado em três instâncias por corrupção?
MAZOLA
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