Por José Carlos de Assis –
Os governadores aceitaram a imposição de Guedes e de Bolsonaro para congelar salários. Pobres governadores, não sabem o que fazem. Muito provavelmente tem uma assessoria política totalmente ignorante de economia. Cortar salário significa cortar demanda. Cortar demanda significa cortar investimento. Cortar investimento significa derrubar a arrecadação de impostos. Derrubar a arrecadação de impostos significa…cortar salários.
Mas a tragédia nacional conduzida pela estupidez de Paulo Guedes não para aí. Pequenos empresários estão praticamente privados dos benefícios prometidos pelo Governo, seja porque a Economia prende o dinheiro, seja porque estimula bancos públicos e privados a exigirem uma burocracia intolerável que os impede de recebê-lo. Mais uma vez é a circulação do dinheiro que é bloqueada, junto com o drama humanitário dos que não o recebem.
Programa de crédito para empresários pequenos e médios em tempo de pandemia é um contrassenso absoluto. Tinha que ser benefício. E não crédito. Quando se pede ou se obriga alguém a ficar em casa confinado é óbvio que se tem que garantir o dinheiro para sua sobrevivência. Entretanto, a primeira parcela dos 600 reais em benefícios para os pobres só saiu com dois meses de atraso, a segunda não saiu e a terceira pode não sair.
Tudo isso por causa de uma imbecilidade básica: a submissão aos conceitos neoliberais, que dizem que o governo só pode gastar o que recebe. Guedes deveria aprender com Lula, que não é economista, mas que aplicou o caminho correto como presidente. Em 2009, gastou acima da receita, imprimindo dinheiro, com créditos de 200 bilhões de reais ao BNDES, e permitiu que o país saísse de uma depressão para um crescimento espetacular de 7,5% em 2010.
Numa situação de pandemia gastar mais do que arrecada é a única opção à mão do governo. Com a dramática queda dos negócios, a demanda privada cai, assim como o investimento e a receita pública. A retomada deve se dar pelo aumento do investimento público deficitário até, no mínimo, o esgotamento da capacidade ociosa da economia. E como a demanda está baixa, não há risco de inflação. Esta é a lição do metalúrgico Lula.
Guedes está sendo obrigado a gastar mais do que arrecada para pagar despesas correntes, pois do contrário o Estado quebraria. Mas não está gastando em investimentos públicos, que é por onde a capacidade produtiva da economia pode ser ocupada e ampliada. Assim, pagamos o preço de ter um presidente imbecil e, junto com ele, um ministro da Economia também imbecil. É dose forte demais para um país de 210 milhões de habitantes.
E tudo isso considerando o fato de que, pelos meus cálculos, pelos cálculos da Auditoria Cidadã da Dívida e pelos cálculos da Febrafite (Federação Brasileira de Fiscais de Tributos Estaduais), em seu conjunto, os Estados tem um crédito da ordem de 1 trilhão 380 bilhões de reais contra o Governo federal, que vem roubando, sistematicamente, recursos de seus magros orçamentos para fazer superávit primário na União. Até quando, governadores?
JOSÉ CARLOS DE ASSIS – Jornalista, economista, escritor, professor de Economia Política e doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 25 livros sobre Economia Política. Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Foi professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), é pioneiro no jornalismo investigativo brasileiro no período da ditadura militar de 1964. Autor do livro “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/1983”, onde se revela diversos casos de corrupção. Caso Halles, Caso BUC (Banco União Comercial), Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla Maluf), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin (Ronald Levinsohn), Caso TAA. Cada caso é um capítulo do livro. Em 1983 o Prêmio Esso de Jornalismo contemplou as reportagens sobre o caso Delfin (BNH favorece a Delfin), do jornalista José Carlos de Assis, na categoria Reportagem, e sobre a Agropecuária Capemi (O Escândalo da Capemi), do jornalista Ayrton Baffa, na categoria Informação Econômica.
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