Por Deonísio da Silva –
Fechou o tempo para o livro e o caminho agora é outro.
1. O Brasil tem mais leitores. Mas eles estão lendo outras coisas. E proporcionalmente seu número diminuiu. Desabou também a tiragem de jornais e de revistas, que vendem menos do que quando surgiram e se consolidaram.
2. O ensino e o livro andam juntos. E o ensino brasileiro desabou nas classificações internacionais. O índice de livros per capita é menor: quando o Brasil tinha 30 milhões de habitantes, proporcionalmente lia mais e melhor. Hoje, os livros lidos são de qualidade inferior e não ajudam, ou ajudam pouco nos trabalhos de nutrição do espírito.
3. O livro é o pão do espírito. “Quem não lê/ Mal fala/ Mal ouve/ Mal vê”, como resumiu Monteiro Lobato.
4. Todo mês, cerca de 3.000 novos títulos, muitos deles de qualidade duvidosa, chegam às livrarias. Nas gôndolas, estão os livros do momento, não aqueles que tanta falta fazem aos leitores.
5. Os autores que iluminaram o caminho até aqui estão com suas lanternas apagadas e, se presentes, jazem confinados ao fundo ou em outros lugares que não o SEU lugar, a livraria. Isso atinge também os autores de qualidade agora lançados. Se não aceitam ser confinados aos temas hegemônicos e impostos por razões extraliterárias – povos originários, etnias, gêneros etc., certamente todos legítimos, mas apenas parte dos grandes temas e problemas – nascem com pequenas tiragens e não haverá túmulos nem cruzes para lembrar seus nomes e os livros que escreveram.
6. Poucos autores de obras de qualidade ainda sobrevivem às altas taxas de mortalidade infantil editorial. Toda livraria fechada transforma-se em cemitério coletivo. Aberta, às vezes por esforço exclusivo de seus proprietários e funcionários, já era um cemitério de mortos-vivos. Nas outras, autores de qualidade não aparecem mais ou estão tão bem escondidos que não são vistos.
7. E se seus livros ainda assim são procurados, as respostas dos atendentes, cada vez mais despreparados para o tipo de trabalho exigido, depois de verificar no computador, são: “tem, mas não tem”; “você quer encomendar?”; “tem cadastro?” etc.
8. Uma coisa é você ler que o Brasil inteiro tem menos livrarias do que Buenos Aires, a “Big Apple” da canção de Madonna em “Don’t cry for me, Argentina” (Não chore por mim, Argentina”), da ópera “Evita”, a famosa esposa de Perón.
9. Outra é se dar de que no “Show do Século” para celebrar os cem anos do Copacabana Palace, hotel erguido em 1923 no bairro famoso, o Rio ebo Brasil leem menos do que nos anos vinte.
10. Os leitores ainda vão às livrarias, mas a compra de livros é feita preferencialmente pela Internet, de que é exemplo o que faz a Amazon.
Em resumo, até por temperamento, não sou pessimista, mas tampouco sou cego. O Brasil está cuidando melhor de cachorros, de gatos e de outros animais domésticos, mas está evitando cuidar de crianças e jovens, nas etapas da vida em que são formados os leitores. Você vê abandonados bezerros, porcos, frangos e outros bichos, que comemos? Não, né?
Mas o bicho homem vem sendo abandonado, sejam quais forem suas etnias, gêneros etc.
DEONÍSIO DA SILVA é professor e escritor, seus livros são publicados no Brasil e em Portugal pelo Grupo Editorial Almedina.
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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