Por Pedro do Coutto –

A nomeação de José Múcio Monteiro para a Defesa demonstra-se consolidada e revela uma reação prévia do presidente eleito contra a atitude do atual ministro e dos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica de não esperarem o fim do governo para deixar seus postos.

Nas últimas 24 horas surgiu até um sargento reformado da Marinha afirmando que Lula não subirá a rampa presidencial. Esses fatos somados indicam que o principal problema do governo que emergiu das urnas é o de confiança. Lula concluiu que precisa confiar nos titulares de pontos estratégicos. Um deles, como é natural, o da Fazenda.

CONTAS PÚBLICAS – A nomeação de Fernando Haddad representa importância fundamental para Lula da Silva controlar diretamente e manter-se informado de modo absoluto com a movimentação nas contas públicas envolvendo basicamente, é claro, a receita e a despesa. Fica também evidente que Lula vai recriar, no que faz muito bem, a pasta da Fazenda, separando-a do Planejamento.

No governo Bolsonaro, Paulo Guedes além de assumir os dois ministérios na fase inicial da administração absorveu ainda os ministérios do Trabalho e o da Previdência Social. Foi um desastre, pois, na realidade, não há no mundo alguém capaz de exercer simultaneamente quatro secretarias de Estado.

Por isso, na fase final da gestão de Bolsonaro, o Trabalho e a Previdência Social saíram da esfera de Paulo Guedes. Agora vem o ressurgimento da Fazenda de importância fundamental. E o problema da confiança absoluta se impõe e se reflete na escolha de Fernando Haddad. Sobre Haddad, a Federação Brasileira de Bancos publicou matéria publicitária de página inteira nesta quarta-feira na Folha de S. Paulo, no O Globo e no Estado de S. Paulo.

DIÁLOGO – O texto destaca as atividades da Febraban, mas o título contém uma mensagem política: dialogar para convergir e para transformar. A Federação Brasileira de Bancos acentua que amplia o diálogo, liderando conversas essenciais capazes de transformar ideias em fatos relevantes para a sociedade. Como o diálogo ficou iniciado com jantar no qual Haddad representou Lula, a Febraban está nitidamente se referindo ao episódio.

Num outro trecho, os banqueiros enviam uma informação ao presidente da República eleito. Diz o seguinte quanto ao meio ambiente: “Trabalhando para estimular e fomentar uma economia mais sustentável e inclusiva, e estabelecendo regras para ampliar linhas de crédito à empresas comprometidas com o meio ambiente, a entidade inclui aspectos de Governança Cooperativa no dia a dia e nas estratégias de negócios dos bancos”.

A referência ao meio ambiente é um ponto de toque, já que enquanto o combate ao desmatamento é uma preocupação básica do presidente Lula  e também uma questão de interesse internacional, o recado é bastante incisivo, sobretudo porque na administração Bolsonaro o desmatamento cresceu intensamente, fazendo com que o Brasil perdesse fundos internacionais de apoio, a exemplo dos da Noruega e Alemanha.

REELEIÇÃO DE LIRA –  O apoio do PT à reeleição de Arthur Lira para presidir a Câmara Federal é um lance do partido para assegurar a tramitação da PEC do Orçamento. Entretanto, não é um ato isolado.

Ele também decorre da atitude de Lira, o primeiro governista a se pronunciar pela televisão reconhecendo a vitória de Lula nas urnas e bloqueando qualquer tipo de contestação e de inconformismo com o resultado. Arthur Lira tomou a iniciativa e o PT confirmou sua ação apoiando-o para que permaneça na Presidência da Câmara dos Deputados.

PEDRO DO COUTTO é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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