Por Alcyr Cavalcanti –
Os varejistas do narcotráfico e milicianos castigam quem sai de casa. Nas mais de 900 favelas eles são a lei.
O narcotráfico é quem dá as ordens nas mais de 900 favelas do Rio de Janeiro, onde moram mais de um milhão e oitocentas mil pessoas, que vivem em condições precárias.. Carros de som com bandidos fortemente armados avisam aos moradores para ficar em casa, principalmente depois de 19h. Criticam as palavras do presidente Bolsonaro que disse que o vírus é apenas uma “gripezinha”. Os bandidos também distribuem álcool gel e usam máscaras de proteção e em alguns casos luvas para evitar a disseminação do Covid-19. O comércio de venda de drogas feito diretamente nas “bocas de fumo” caiu bastante, mas a entrega a domicílio (“delivery”) ou nas inúmeras esticas mantém a venda, embora bem mais fraca.
Em alguns morros, onde o movimento é mais forte cestas básicas são distribuídas para os mais necessitados. Uma senhora de 45 anos, moradora em uma localidade, que não quis se identificar disse “Eu tenho medo de sair de casa, o “homem lá de cima” é quem manda, é na base da porrada, quem sai de casa é espancado”. Apesar da orientação das autoridades relativizando a letalidade do Vírus, os moradores sabem que se forem contaminados, vai ser difícil sobreviver, devido à falta de leitos. Em muitas delas não existe posto de saúde, e o hospital mais próximo é muito distante. O “Tribunal do Tráfico” é inclemente e dita as ordens mediante determinadas regras de comportamento, principalmente em casos em que o comércio de vendas de drogas é prejudicado. O castigo é feito de uma maneira espetacular, existe uma ritualização do poder, através do terror, da ferocidade, onde não existe contestação. É o velho ditado “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”.
ALCYR CAVALCANTI – Fotógrafo, jornalista, professor universitário, ex-presidente da ARFOC, ex-secretário da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como as Organizações Globo, Última Hora e o jornal O Dia.
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