Por Kakay –
Ex-juiz mente desde a Lava Jato e o discurso não é diferente como pré-candidato.
“Tornamo-nos esfinges, ainda que falsas, até chegarmos ao
ponto de já não sabermos quem somos. Porque, de resto, nós o
que somos é esfinges falsas e não sabemos o que somos
realmente.”
Pessoa, no Livro do Desassossego.
O Brasil encontra-se numa encruzilhada. No auge de um governo fascista e completamente incompetente, o país já vive em clima de eleição presidencial. A reeleição foi um grande erro. O atual presidente, inepto e irresponsável, já não governava de fato o país e agora só cuida de tentar se reeleger. Enquanto isso, continuamos à deriva e os principais temas, de real interesse, não entram no debate dos chamados presidenciáveis.
A colunista Miriam Leitão alerta em artigo no O Globo que o ex-juiz Sérgio Moro se lançou pré-candidato, mas não diz a que veio nos principais assuntos que verdadeiramente importam. Ela afirma que “quase nada se sabe sobre suas ideias” e, naquilo que é a única face do discurso do ex-juiz, que ele é o grande nome na luta contra a corrupção. A colunista põe o dedo na ferida: “Diante do relatório do COAF mostrando as movimentações suspeitas de Fabrício Queiroz, ele – o Moro – disse que o presidente já havia esclarecido o caso do ex-assessor do filho”. A jornalista ainda critica o “fracassado” pacote punitivista anticrime, que nós derrotamos no Congresso, citando expressamente a ridícula proposta da excludente de ilicitude, um verdadeiro direito de matar. Arrasador o artigo. E é importante que tenha sido veiculado no O Globo.
O ex-juiz, na falta absoluta de ideias, é um indigente intelectual e continua batendo na única tecla que julga ser o seu passaporte para a política: o combate à corrupção. Na verdade, o Moro tenta surfar nas ondas da operação Lava Jato, hoje desmoralizada e sem credibilidade. Ele se ampara na narrativa que foi vendida à época para o grande público, com forte apoio midiático, e que ainda habita parte do imaginário popular.
A visão passada pela mídia tradicional é que a Lava Jato foi uma operação que salvou o país. Essa talvez seja a maior fake news já exposta no Brasil. Criticamos o Bolsonaro por ter abusado das notícias falsas para se eleger e nos esquecemos deste engodo a que foi submetido o país. Sempre afirmei que o ex-juiz e os seus procuradores de estimação eram fracos no direito, mas muito fortes de marketing. Pode-se afirmar que esse ex-juiz é produto da maior fake news da história recente.
Devemos ter a coragem de fazer uma reflexão sobre o tipo de fake news que representa o presidente e o seu ex-ministro. Lembrando do grande Manuel Bandeira no Poema do Beco:
“Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte? –
O que eu vejo é o beco”.
O presidente se candidatou assumindo ser rigorosamente o que de fato é: racista, misógino, cultor da tortura, preconceituoso, agressivo e extremamente inculto. Ele não mentiu. Usou a estratégia de se apoiar nas fake news para destruir reputações, espalhar o ódio, fazer propagandas enganosas e todo o cardápio de maldades de quem não tem escrúpulo e nem limites. Podemos dizer que fez o uso das notícias falsas da maneira tradicional, covarde, descrita no livro Os Engenheiros do Caos.
Já o ex-juiz usa outra estratégia: ele é a fake news! Ele foi embalado com uma roupagem falsa e, pelo domínio da narrativa criada pela grande mídia, virou a própria mentira.
Apregoa ser contra a corrupção, mas sempre foi seletivo na escolha dos seus alvos. E como ministro protegeu ostensivamente colegas do governo Bolsonaro. Fechou os olhos para uma corrupção que chamava a atenção de todos.
Quando vazou a conversa da ex-presidente e foi repreendido pelo fato de ter cometido um crime ao divulgar, sustentou que pouco importava a ilegalidade no vazamento e o que deveria valer era o conteúdo do que foi publicado. Agora, vendo-se flagrado em conversas criminosas com os procuradores, vazadas por um hacker – santo hacker –, ele disse que não enfrentaria o conteúdo, pois a gravação havia sido feita de maneira ilegal. Contraditório. Hipócrita.
Apoiou as tais “10 medidas contra a corrupção”, as quais também derrotamos no Congresso, e que absolutamente nada tinham de combate à corrupção. Uma das medidas era para transformar as provas obtidas por meio ilícito em provas válidas no processo penal. Absurdo. Felizmente, para ele e seu bando, nós impedimos que tal medida fosse aprovada, pois hoje eles se apegam na ilicitude da prova das gravações da “Vaza Jato” para não serem processados. Se tivesse passado a proposta deles, a prova das gravações do hacker seria válida. Cínico.
Cultuavam as prisões como meio de obtenção de delações e prendiam no início da investigação, sem culpa formada. No entanto, foi considerado parcial e incompetente pelo Supremo, em claríssima decisão que coloca o ex-juiz como alguém que corrompeu o sistema de Justiça e que pretende estar acima do bem e do mal, sem sequer ser investigado. Recorro-me a Clarice Lispector:
“Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania.
Depende de quando e como você me vê passar”.
Multiplicam-se os exemplos que demonstram ser ele próprio a encarnação das fake news. O episódio em que ele aceita, ainda com a toga nos ombros, discutir ser ministro da Justiça do governo que ele elegeu, logo após ter prendido o principal adversário do atual presidente, tornando-se o principal eleitor do Bolsonaro, diz muito do seu caráter. Antes do 2º turno das eleições, ele já negociava o cargo de ministro como contrapartida pelos serviços prestados. Uma ofensa ao Poder Judiciário e um acinte aos 18 mil juízes sérios, dedicados e honestos deste imenso e triste Brasil.
Caso fosse o ex-juiz seguir a cartilha que ele e seus procuradores da “República de Curitiba” adotavam, certamente os membros da força-tarefa deveriam ter pedido a prisão dele, Moro, e ele deveria ter determinado a própria prisão. Falso.
Essa é a realidade que o brasileiro tem que enfrentar. Vivemos sob o jugo de governo catastrófico que se utiliza das fake news para governar. A mentira como estratégia. E corremos o risco de enfrentar uma nova cepa desse vírus que tem a falsidade no DNA: o candidato é a própria mentira. Sem intermediários. Ele é a fake news.
“O poeta é um fingidor. Finge tão completamente, que chega a
fingir que é dor a dor que deveras sente.”
Fernando Pessoa.
ANTÔNIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO, o Kakay, tem 61 anos. Nasceu em Patos de Minas (MG) e cursou direito na UnB, em Brasília. É advogado criminal e já defendeu 4 ex-presidentes da República, 80 governadores, dezenas de congressistas e ministros de Estado. Além de grandes empreiteiras e banqueiros. Publicado inicialmente em o Poder360.
Tribuna recomenda!
NOTA DO EDITOR: Quem conhece o professor Ricardo Cravo Albin, autor do recém lançado “Pandemia e Pandemônio” sabe bem que desde o ano passado ele vêm escrevendo dezenas de textos, todos publicados aqui na coluna, alertando para os riscos da desobediência civil e do insultuoso desprezo de multidões de pessoas a contrariar normas de higiene sanitária apregoadas com veemência por tantas autoridades responsáveis. Sabe também da máxima que apregoa: “entre a economia e uma vida, jamais deveria haver dúvida: a vida, sempre e sempre o ser humano, feito à imagem de Deus” (Daniel Mazola). Crédito: Iluska Lopes/Tribuna da Imprensa Livre.
MAZOLA
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