Por Jeferson Miola

Na cerimônia de sua posse como ministro da Defesa, José Múcio Monteiro fez declarações assombrosas, que confirmam que ele é a pessoa errada, no lugar errado e no momento errado.

Para Múcio, os atos de terroristas em frente ao QG do Exército em Brasília são “da democracia”.

“Aquelas manifestações no acampamento, e eu digo com muita autoridade porque tenho familiares e amigos lá, é uma manifestação da democracia”, afirmou.

Múcio opta por uma postura passiva e omissa diante da presença ilegal de extremistas que promovem atos de terror e atentam contra a democracia com a cumplicidade dos militares.

Em 26 de dezembro Múcio já havia feito outras declarações assombrosas. Ele garantiu que ninguém seria retirado “na marra”, e assegurou que “os manifestantes acampados em frente ao Quartel General do Exército lá permanecerão na posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, se assim o desejarem”.

Agora, já como ministro da Defesa, ao invés de mandar o comandante do Exército remover imediatamente os criminosos que estão no pátio do QG do Exército, Múcio conta com o esvaziamento “espontâneo” – “Eu acho que aquilo vai esvair e chegar até um ponto que todos queremos”, disse.

O relato do ministro Múcio sobre a escolha dos comandantes das três Forças é espantoso, para dizer o mínimo. Ele relatou que “quando Lula me chamou, disse: ‘Olha, você escolhe os comandantes e depois vamos conversar sobre isso’. Depois do almoço, ele me telefonou e eu disse que já havia convidado todos os comandantes”.

Múcio não recrutou os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica se certificando do compromisso deles com o profissionalismo, com a obediência à Constituição e ao poder civil e com a despartidarização e despolitização das Forças Armadas. Múcio escolheu os comandantes por meio de consulta na internet!

E ele usou o critério da antiguidade dos oficiais, que é o critério imposto a ele pelo partido dos generais: – “Fui na internet, vi quem era o mais antigo e eles viraram comandantes. Quem era o segundo virou o primeiro, o terceiro virou o segundo”, explicou.

A despeito do notório protagonismo central dos militares na guerra fascista contra a democracia, Múcio conserva uma visão alienada e distorcida sobre as Forças Armadas.

Ele entende que “nossas Forças Armadas sempre se posicionaram a serviço da paz, da democracia, do respeito às instituições […]. Nossa história, rica em exemplos, mostra que a Marinha, o Exército e a Aeronáutica são instituições de Estado, respeitáveis e ciosas de seus papéis constitucionais”.

Com suas opiniões e decisões, Múcio tem confirmado cada um de todos os maus presságios que se tinha quando seu nome era cogitado para o ministério da Defesa. E ele assim confirma porque é a pessoa errada, no lugar errado e no momento errado.

Com este desempenho deplorável, José Múcio Monteiro se habilita a ser o primeiro ministro a ser substituído, para o bem da governabilidade do governo Lula e para a proteção da democracia.

JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista desta Tribuna da Imprensa Livre. Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.

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