Por Sérgio Vieira –

Portugal / Europa – Séc. XXI.

Não posso negar que a noite de 3 para 4 deste mês foi mal dormida. Como também foi a de 4 para 5. Embora por motivos completamente diferentes. A primeira, carregada de ansiedade, a segunda também carregada, mas de ressaca emocional.

No jogo Fluminense x Boca Juniors, face ao nervosismo, procurei dividir com dois amigos aquelas borboletas na barriga.

Vi atenta e diretamente do Maracanã a partida. Posso dizer que recordei velhos tempos (tardes e noites) do velhinho Maraca, quando ainda garoto, me faltava altura/tamanho para seguir o jogo da geral (arquibancada e cadeiras, eram para os bolsos mais abastados). Lembrei do fosso que separava a geral do gramado “sagrado”. Fosso, esse, que foi incapaz de me deter em 1970 na conquista pelo Fluminense da (então) Taça de Prata, hoje, Brasileirão. Galguei essa barreira não sei como, mas quando dei por mim, já estava no gramado abraçado aos jogadores, sem sequer sentir no corpo o peso dos cassetetes da polícia que batia sem cessar e nem sequer olhava em que parte dos nossos corpos iam cair as lambadas.

Campeão brasileiro pelo Fluminense, Oliveira completaria 77 anos — Fluminense Football Club

Pois bem, se sábado estivesse na arena do maracanã, mesmo aos 66…tentaria outra vez dar asas há minha alegria e me jogaria nos braços da emoção e tentaria abraçar meus heróis.

Obrigado meu Fluminense, que desde 1969 me acostumei a acompanhar. Como, na década de 70/80 vivi a era da famosa Máquina Tricolor.

Fechei o meu ciclo de ver o Fluminense no Maracanã com chave de ouro, no dia 18 de dezembro de 1985, celebrando nessa tarde/noite o tricampeonato tricolor com uma virada épica em cima do Bangu por 2×1, com o derradeiro gol sendo marcado magistralmente por Paulinho, de falta.

Depois, deu-se a minha vinda para Portugal, a distância, a falta de meios de comunicação, (não havia NET), não havia nada, salvo umas raras notícias de jornais. Não havia formas de eu acompanhar o meu tricolor. Foi assim até 1995, ano em que a televisão portuguesa transmitiu um Fla x Flu. Partida derradeira para o campeonato carioca, e que terminou com a vitória tricolor, com o célebre gol do Renato Gaúcho, de barriga.

Devo confessar, que fiquei imune às emoções extremadas desde que assisti ao final da Copa do Mundo de 1994, disputada nos pênaltis contra a Itália de Bagio e Cia. (tão bem nos soube essa vitória !). Outra vez, foi num Bayer de Leverkusen x Benfica, em março de 1994, aonde o Benfica heroicamente arrancou um empate de 4×4. Confesso, que nesse jogo senti o mal-estar das taquicardias e falta de ar. Pensei que morria. Passei então a me policiar, e ficar indiferente (o quanto posso) face à marcha do resultado dos jogos.

Pois bem. Sábado 04.11.2023, vivi ou revivi os meus melhores momentos como torcedor tricolor. Me transportei de corpo e alma para a agora Arena do maracanã…e vamos a eles “cambada”… Vamos mostrar a esses argentinos quem manda no Maraca.

Mesmo com toda a violência argentina e a passividade, tolerância e parcialidade do árbitro da partida, saímos vencedores. Acompanhei até aonde a transmissão deixou, a merecida e bonita comemoração do título.

Meu Fluminense é campeão da Libertadores de 2023. Confesso que tenho saudades do antigo estádio Mário Filho, aonde com “jeitinho” se metiam lá 180/200 mil torcedores.

Mário Filho (direita) ao lado do irmão Nelson Rodrigues: ícones do Brasil

Fica para a história essa vitória de 2×1 contra o Boca Juniors. Esta conquista entra para a lista dos muitos (mas mesmo muitos !) títulos deste carismático e aristocrático clube das Laranjeiras.

Aqui em Portugal a partida também foi seguida atentamente por milhares de pessoas. No final, eu não tinha mãos a medir para responder às inúmeras mensagens que recebi de parabéns.

Que esta taça agora conquistada, seja uma de muitas, e que não seja tão exclusiva como é a nossa invejada Taça Olímpica, que orgulhosamente exibimos na nossa coleção de troféus.

Nós tricolores optamos (desde a nossa fundação em 1902) em ser exclusivos. Damos mais valor à qualidade do que à quantidade.

O Fluminense tem menos torcida, mas tem mais GENTE!

Para fechar, fica para os saudosistas (como eu) estas escalações (entre outras que sei de cor) que me acompanham pela vida afora.

Fluminense campeão 1969 (tinha eu 12 anos): Félix, Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antônio, Denílson e Didi, Cafuringa, Flávio, Samarone e Lula.

Fluminense Tri campeão 1983/84/85: Paulo Vítor, Aldo, Duílio, Ricardo e Branco, Jandir, Delei e Assis, Romerito, Washington e Tato.

Viva o Fluminense!

“Torcer para o Fluminense é uma maneira de você olhar para o seu vizinho e dizer : “sou melhor que ele”.

Nelson Rodrigues (escritor, jornalista, romancista, teatrólogo, contista e cronista de costumes e de futebol brasileiro. O mais influente dramaturgo do Brasil)

Paulo Victor - Que fim levou? - Terceiro Tempo

SÉRGIO VIEIRA – Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre, representante e correspondente internacional em Aveiro, Portugal. Jornalista, bancário aposentado, radicado em Portugal desde 1986.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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