Por Pedro do Coutto –

O depoimento do tenente-coronel Mauro Cid à Polícia Federal na quinta-feira, representou a abertura de uma cortina que separava o projeto de golpe do ex-presidente Jair Bolsonaro da certeza absoluta de seu pensamento, revelando também que na realidade  a invasão e as depredações de 8 de janeiro em Brasília foram uma iniciativa desesperada  de golpistas até contra o veto do Exército a qualquer violação constitucional.

O quadro fica ainda mais claro diante de  uma reunião convocada por Bolsonaro no Palácio Alvorada com chefes militares, quando colocou a perspectiva de desfechar um golpe de Estado contra a vitória de Lula nas urnas de outubro, encontrando, porém, forte resistência do Exército. O movimento subversivo de 8 de janeiro representou o inconformismo com a defesa da legalidade e uma tentativa desesperada de desencadear uma atmosfera de caos no país.

VETO – A esse respeito foi excepcional a revelação da jornalista Eliane Cantanhêde no programa Em Pauta da GloboNews, quinta-feira à noite, sobre uma conversa que teve com o general Tomás Paiva, que serviu de base para um artigo na edição de ontem, sexta-feira, no Estado de S. Paulo. O general, cujo desempenho tem sido essencialmente democrático e legalista, confirmou o veto do Exército a qualquer investida contra a lei, a ordem e a Constituição brasileira.

Portanto, afastada da área militar pelo Exército a prática de um golpe ditatorial, mesmo assim lideranças bolsonaristas tramaram o atentado no aeroporto, que felizmente não deu certo, e desencadearam a invasão de Brasília que deixou para sempre um rastro sinistro na história do Brasil. Os dois movimentos fracassaram e agora Mauro Cid ilumina os porões da trama que serviu para mostrar ao país a verdadeira face da extrema-direita antidemocrática e golpista.

GOLPE – A trajetória da insurreição na qual foram presas mais de novecentas pessoas, e as principais figuras já estão sendo julgadas pelo Supremo, revela uma propensão que veio à tona, uma tentativa de golpe liderada por Carlos Lacerda contra a posse de Juscelino Kubitschek na Presidência da República. Naquela ocasião, o Exército também barrou a iniciativa sob o comando dos generais Teixeira Lott e Odylio Denys. Setenta anos depois, o vírus ressurge querendo impedir a posse de Lula sob o comando do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O ministro da Defesa, Lúcio Monteiro, sustenta que é necessário virar a página e acabar com o clima de suspeição sobre as Forças Armadas. Não tem razão. O clima de suspeição, no sentido em que envolve dúvida, foi dissipado integralmente com as revelações do tenente-coronel Mauro Cid que também constituem um marco na história da democracia brasileira e dos atentados contra ela que se desenrolaram através das décadas.

Jair Bolsonaro e ex-ajudante de ordens, Mauro Cid. (Foto: Alan Santos/PR)

NOVA FASE –  O processo que transcorre no Supremo Tribunal Federal ingressa em nova fase, incluindo o foco no ex-presidente da República que sempre tramou investidas contra a Constituição e as leis, como ficou patente em sua campanha contra as urnas eletrônicas e através de suas participações em passeatas na Esplanada de Brasília, aceitando que apoiadores seus ostentassem faixas propondo o fechamento do STF e do Congresso. Seria uma ditadura militar com Bolsonaro. Os episódios agora articulados revelam ao país e ao mundo a verdadeira face do golpismo. A democracia correu um risco novamente.

As reportagens sobre o assunto são de Bela Megale, O Globo, primeira a revelar o depoimento de Mauro Cid, de César Feitosa, Marianna Holanda e Thaisa Oliveira, na Folha de S. Paulo, e de Eliane Cantanhêde e de Rubens Anater, Fausto Macedo, Rayssa Motta e Marcelo Godoy, no Estado de S. Paulo.

ARRECADAÇÃO –  Reportagens de Idiana Tomazelli, Folha de S. Paulo e Vitória Abel e Renan Monteiro, O Globo, revelam que a arrecadação federal registrou a terceira queda mensal seguida. Com isso, o episódio acende um sinal de alerta para o projeto do arcabouço fiscal que prevê déficit zero em 2024.

Quais teriam sido as causas do retrocesso? Só pode ser a queda no consumo ou o aumento da sonegação. Uma preocupação para o ministro Fernando Haddad e para o próprio presidente Lula da Silva.

PEDRO DO COUTTO é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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