Por Sérgio Vieira –

Portugal / Europa – Séc. XXI.

Ficou como spoiler na minha última coluna, a minha aventura por terras de Marrocos. Pois bem, muita coisa para contar.

Para nós aqui em Portugal, Marrocos, fica (não é bem assim mas…) logo ali ao virar da esquina. Este país do norte da África, fica separado da Espanha por mar até a sua cidade de Tânger. Temos que atravessar o estreito de Gibraltar. Faz-se bem a travessia. Um ferryboat nos leva de Tarifa até Tânger (em um mar calmo) por cerca de 40 minutos. Depois de Tânger é orientar a bússola e…seguir viagem.

Continente africano, Marrocos. (Fotos: Sérgio Vieira/TIL)

A minha/nossa viagem foi planejada por pessoas com bastante experiência. Experiência esta que foi fundamental no que diz respeito ao percurso em Off Road (fora de estrada) que muito exige no quesito orientação/tempo de percurso/cumprimento do itinerário pré-agendado, etc…

Nosso itinerário, foi mais ou menos assim: Aveiro – Tânger – Tetouan – Fes – Merzouga – Chefchaouen – Zagora – Marrakech (passando perto de Casablanca e Rabat) – Tânger – Aveiro.

Mapa Marrocos

Foram aproximadamente 4.000 Kms. De salientar, que fizemos boa parte das estradas, fora das mesmas, ou seja, em modo Off Road. Quer dizer que “encaramos” muitas pedras, rios secos, imensos desertos planos, quase com ausência de vegetação e muito pó. As temperaturas, estas, me surpreenderam. Pegamos trechos de algum calor, nada de exagerado. Sempre variando entre os 20 e muitos/30 até aos 40 e…tal… longe, mas mesmo muito longe dos 59ºC que a determinada altura teimava em marcar o (maluco) termômetro da viatura em que eu seguia.

Se por um lado o modo Off Road, de certo modo me dava algum desconforto devido ao imenso trepidar do jeep, por outro lado me proporcionou a inolvidável experiência de poder contactar de perto com as populações. Muito aprendi nesta viagem. Fiquei a conhecer o termo ATLAS. Que desde pequeno sempre vi como aquele livro (algo grande) que tínhamos na escola para o aprendizado de geografia. Pois bem, o Atlas que conheci, é uma cadeia montanhosa que praticamente atravessa todo o território de Marrocos, e que nos serviu de “companhia” durante boa parte da viagem. Marrocos tem uma altitude em média de 909 m., podendo ir até aos 4.165 m., em Toubkal.

Visitamos: Tânger (de passagem), Fes, onde está situado o mais velho curtume do mundo, aonde se fabricam e tingem as mais variadas espécies de peças em pele, e cujo o cheiro nauseabundo nos obriga a levar às narinas um ramo de hortelã que nos é fornecido à entrada da visita. Chefchaouen, a cidade azul. Assim chamada pelo imenso número de casas e becos todos pintados dessa cor.

Panorâmica da Cidade Azul. (Said Marocco Tours/Divulgação)

Parada obrigatória para umas fotos e contato com os mercadores e nativos. Merzouga, onde apreciamos um céu deslumbrante, salpicado por todas as constelações, ali, assim, ao nosso alcance, quase a nos tocar. Aí pernoitamos, para no dia seguinte irmos até ao deserto de Erg Chebbi, onde tive/tivemos a incrível experiência de subir e descer as dunas. Desafio esse que foi feito somente por aqueles que com habilidade e destreza (não era o meu caso) se arriscavam à condução dos carros em tais condições. Condições extremamente exigentes. Contamos também, para isso, com a ajuda de um guia local, o Omar. Rapaz de 33 anos, completamente fora da caixa, de espanhol fluente, profundo conhecedor do deserto, e que dizia orgulhosamente não ter esposa e que vivia em harmonia com aquilo que o deserto lhe proporcionava. Deserto, esse, que nos brinda com um pôr do sol completamente extasiante e só ao alcance de quem o visita.

Pôr do sol no deserto. (Said Marocco Tours/Divulgação)

Zagora e finalmente, Marrakech, cidade já meia cosmopolita e algo já corroída nas suas origens pelos milhares e milhares de turistas que por ela circulam. Com uma vida bastante intensa e uma praça (Jamal) onde se concentram, creiam: charretes, burros, vendedores de todas as coisas possíveis e imagináveis, encantadores de serpentes, motos, barracas de comidas, de frutas, restaurantes mais e/ou menos luxuosos, com lindos terraços com vista para a praça Jamal, onde se pode calmamente tomar um chá de menta tipicamente marroquino, ritmos árabes que nos fizeram companhia enquanto no meio ao caos, nós tranquilamente jantávamos o típico Tagine, especialidade marroquina que pode ser de frango, cordeiro, de legumes ou em forma de almôndegas.

Deixamos para trás Marrakech, e no dia seguinte seguimos viagem (agora pelo asfalto) em direção à Casablanca (por fora) Rabat (por fora) e daí até Tânger para o ferryboat para irmos de volta para Tarifa/Espanha, a fim de rumarmos à casa.

Ficam na retina: pessoas, hábitos, civilização e cultura de um povo tranquilo e simpático, diferente de tudo que já vi na vida na minha experiência de cidades e capitais ocidentais. São na maioria pobres, mas felizes, são assim os marroquinos. Falam o árabe, o amazigh, se comunicam também em francês e alguns (bastantes) arranham o espanhol.

Curiosidade: Sempre que éramos abordados (e isso acontecia a cada segundo) perguntavam: Portugal? Espanha? Italiano? Respondíamos Portugal, e eles invariavelmente e com um sorriso maroto nos lábios, completavam, “batatas fritas, mamas grandes”.

Acreditem! Éramos assim conotados, sim senhor. Batatas Fritas e Mamas Grandes. Risos…risos…Alguns mandavam também, Cristiano Ronaldo, bacalau (assim mesmo, bacalau!) era assim que pronunciavam.

Cores e especiarias diversas. (Said Marocco Tours/Divulgação)

Termino por aqui, mas não posso deixar de lembrar e agradecer aqueles que por todos os dias da minha viagem sempre se fizeram presentes e amigos.

Um abraço para o Lima, que me fez o convite. Ao Mário, ao César, ao Carlos e ao João. A todos vos agradeço, a todos vos não esqueço. OBRIGADO!

“O coração do tolo está na boca, a boca do sábio no coração” – Provérbio Marroquino

SÉRGIO VIEIRA – Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre, representante e correspondente internacional em Aveiro, Portugal. Jornalista, bancário aposentado, radicado em Portugal desde 1986.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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