Categorias

Tribuna da Imprensa Livre

Maquiagem
Coringa (Joker) é um personagem fictício criado por Jerry Robinson, Bill Finger e Bob Kane, apareceu pela primeira vez em Batman, publicado pela editora estadunidense DC Comics (Divulgação)
Colunistas, Geral

Maquiagem

Por Miranda Sá

“Tem pessoas que deviam comer maquiagem pra ver se ficam mais bonitas por dentro” (Coringa)

Desde menino sei como as mulheres de todas as classes sociais e de todas as idades usam cosméticos querendo, na opinião delas, melhorar a aparência. Há controvérsias, pelo menos na opinião de Shakespeare, que botou na boca de Hamlet uma reprimenda para Ofélia: – “Ouvi falar da vossa maquiagem. Deus vos deu um rosto e vós fazeis dele outro rosto”.

Will bateu com a brasileiríssima opinião expressada por Dorival Caymmi, que cantou – “Marina, me faça um favor, não pinte este rosto, você é bonita com o que Deus lhe deu”….  Foi no tempo em que não se condenava o machismo romântico pelo “politicamente correto”…

O certo é que o enfeitar-se (e hoje não é só uma preocupação das mulheres, mas dos homens também) exige pomadas e loções para branquear a pele, lápis delineadores para os olhos e sobrancelhas, rímel para as pálpebras e os cílios, ruge para a face, batom para os lábios, hena ou água oxigenada para os cabelos, e esmalte para as unhas…

Se embeleza as pessoas, é uma questão de gosto; mas o certo é que tornou bilionários comerciantes, industriais e inventores de cosméticos. Alguns deles tiveram os seus nomes popularizados como marcas célebres, como Elisabeth Arden, Coco Chanel, Helena Rubinstein e Max Factor, que aliaram seus produtos às embalagens atrativas e uma massiva publicidade.

“Maquiagem” ou “Maquilagem”, indiferentemente, como verbetes dicionarizados são substantivos femininos, significando ação ou efeito de maquilar, isto é, mudar a aparência de pessoas ou coisas. A palavra vem do francês “maquiller”, pintar o rosto para apresentação teatral.

Esta apresentação etimológica formal é capenga e sua definição é restrita; na verdade, o termo vem de um capítulo épico da História Mundial, da resistência francesa contra a ocupação nazista. “La resistence” era conduzida pelos jovens “maquisards” designação que foi simplificada para “maquis” designando os grupos atuantes que se escondiam nas áreas rurais, bosques e montanhas, e pintavam os rostos em ataques noturnos contra os invasores.

Assim, encontramos também a definição figurada da Maquiagem no sentido de “encobrir alguma coisa”. E é nesse sentido que vemos os maus políticos disfarçados de bons moços, maquiados com a “ética”, a “honestidade” e a “religião” para enganar o povo.

Quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir sabe que os picaretas ególatras e corruptos usam a maquiagem enganadora e conseguem por muito tempo iludir as pessoas.

Uma antiga narração tendo como cenário a antiga Grécia, fala de um jogo que andou em moda nas rodas intelectuais, o “Jogo dos Reis” em que uma pessoa era escolhida para ser rei ou rainha e dar ordens indiscutíveis e obrigatórias a cada um dos convivas.

Num desses saraus estava presente a bela cortesã Friné, acatada pela brilhante inteligência e repentismo. Quando foi indicada para ser rainha, ela mandou que os escravos trouxessem bacias com água para as damas presentes; ao receber a sua, lavou o rosto e ordenou que todas a imitassem.

Após a remoção das maquiagens a maioria das caras lavadas eram lastimáveis, enquanto a soberana do jogo manteve o esplendor de sua beleza, elogiada através dos tempos…

Esta anedota histórica foi publicada numa das crônicas do jornalista ítalo-argentino Pittigrilli, exemplificando uma lição que deve ser levada ao eleitorado brasileiro para ser usada, numa exigência aos políticos populistas de direita e de esquerda para que lavem a cara e removam a maquiagem.

No cenário político brasileiro, o exemplo mais-do-que-perfeito é a camuflagem que o presidente Jair Bolsonaro mantém, mesmo depois de trair as suas promessas eleitorais; deveria ser ele o primeiro a usar o sabonete da autenticidade…


MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.

Related posts

Deixe uma resposta

Required fields are marked *