Por Pedro Augusto Pinho –
O Estado de S. Paulo, quase um século e meio de defesa dos fazendeiros paulistas, líder do movimento contra Getúlio Vargas, algumas vezes censurado, mas coerente no conservadorismo político e liberalismo econômico, na página A3, dedicada a suas matérias editoriais (Notas & Informações), sob o título Negacionismo energético, registrou (23/09/2021): “cada vez mais, um misto de negacionismo, improviso e perversidade se consolida como a marca do governo também na área econômica”.
O Estadão não mudou de lado, esteve com todos os embusteiros, sem base política, mas que representavam o conservadorismo em 1960, Jânio Quadros, em 1989, Fernando Collor, e, agora, em 2018, Jair Bolsonaro. O Estadão não gosta dos pobres, dos miscigenados, da esquerda, seja ou não democrática. É, definitivamente, um jornal das elites que governam secularmente o Brasil, elite de base fundiária e financeira.
Por que então esta oposição ao Bolsonaro?
Talvez a primeira pista seja a palavra “improviso”, do editorial. Mas não devia surpreender. Jair Messias foi claro para a plateia de empresários da direita estadunidenses ao afirmar que veio para desconstruir, e não para construir. “O Brasil não é um terreno aberto onde nós iremos construir coisas para o nosso povo. Nós temos que desconstruir muita coisa”, afirmou Bolsonaro e, também, disse ter sido eleito com base num preceito bíblico sobre a verdade (!).
Se bem medida, esta manifestação do mito carrega toda insanidade de sua “administração”. Um enviado de Deus, sem projeto para o País, sem capacidade administrativa, cercado de oportunistas e igualmente incapazes administrativamente.
Agora pretende comemorar seus mil dias de desgoverno. Mas comemorar o que? Quase 600 mil mortes pela corrupção, negativismo, incompetência ministerial no trato do covid 19? Que ainda nesta semana (19 a 25/09), diante da plateia de chefes de Estado, na ONU, mostrou desconhecer a diferença de vírus e bactéria e de como se os tratam.
A inflação em alta, o Produto Interno Bruto (PIB) em baixa, os juros em alta, o desemprego crescendo assustadoramente, e a violência assombrando as grandes, pequenas e médias cidades, as paulistas em especial, embora sem exclusividade.
A educação nas mãos tremendamente evangélicas, nem de longe parecidas com as jesuíticas que os paulistas devem recordar com saudade, lembrando seus fundadores.
O editorial conclui com o seguinte parágrafo:
“Vinte anos depois (da crise que custou a eleição de José Serra), racionamento se tornou palavra proibida no governo. Interessado apenas em sua reeleição, o presidente Jair Bolsonaro se esconde atrás da figura do ministro Bento Albuquerque (que prefere um ministério a manter sua postura militar), escalado para fazer os impopulares pronunciamentos sobre o tema em rádio e TV”.
E, como o instrumento mais usual deste governo, espalhando informações desencontradas, que nem mesmo ajudam a economizar água.
Faltou ao Estadão, se realmente irá manter sua postura oposicionista, sugerir o luto pelos mil dias de governo, na próxima semana.
PEDRO AUGUSTO PINHO é presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET), avô e administrador aposentado.
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