Por Jeferson Miola –
É compreensível o espanto com o resultado do primeiro turno.
Afinal, o desempenho de Bolsonaro foi 5% superior ao detectado nas pesquisas de opinião ao longo de meses, a diferença pró-Lula em MG não se confirmou e o bolsonarismo foi exitoso em SP e no RJ.
Além disso, a extrema-direita – especialmente a facção bolsonarista, mais que a moro-lavajatista – cresceu significativamente e elegeu destacados expoentes do fascismo.
O processo perturbador de fascistização do país, que se expressa, além de outras dimensões conhecidas, também no peso relevante que a extrema-direita terá no Congresso eleito, é um capítulo à parte, que deve ser encarado com absoluta primazia no imediato pós-segundo turno.
Neste momento, no entanto, é prioritário analisar o resultado eleitoral em si e buscar entender seus possíveis desdobramentos para a disputa final no próximo 30 de outubro:
1] trabalhava-se, realisticamente falando, com dois campos de possibilidades eleitorais: ou [i] a eleição do Lula já no primeiro turno, ou [ii] a disputa final em dois turnos;
2] os levantamentos indicavam uma disputa parelha, com Lula variando entre 48% e 51% dos votos válidos, ao passo que todos demais candidatos, somados, também oscilavam no mesmo patamar. Bolsonaro, sozinho, alcançava 38% dos votos válidos nas pesquisas;
3] segundo as estimativas, a eleição seria decidida ou não já no primeiro turno por uma escassa margem de votos, como de fato aconteceu;
4] com 48,43% [57.257.473 votos], faltou muito pouco para Lula vencer já no primeiro turno – 1,57%, cerca de 1,8 milhão de votos. Todos demais candidatos, juntos, receberam 51,57% dos votos – realidade coerente com a expectativa referida nos itens 2 e 3 anteriores;
5] nas pesquisas, as candidaturas Ciro Gomes e Simone Tebet, somadas, oscilavam em torno de 12% [Ciro com 7% e Simone com 5%]. A votação de ambos, entretanto, ficou em 7,2% [Simone com 4,16% e Ciro com 3,04%], representando uma queda de 5% do desempenho estimado da dupla;
6] enquanto Ciro e Simone empacaram embaixo, Bolsonaro saltou para 43,2% dos votos válidos. Ele subiu 5% em relação às pesquisas, percentual equivalente à queda de desempenho especialmente do candidato pedetista, que perdeu 4%;
7] os institutos mostravam uma diferença pró-Lula sobre Bolsonaro entre 10% e 12%. Nas urnas, porém, a vantagem de Lula ficou em cerca da metade, ou seja, 5,23%. Ainda assim, com uma diferença considerável de 6.186.367 votos, equivalente ao tamanho do eleitorado inteiro do estado do Ceará;
8] pode-se deduzir que Bolsonaro cresceu 5% sobretudo com a ajuda do Ciro, que promoveu uma campanha bolsonarizada e furiosamente antipetista.
Beneficiado pelo voto útil antipetista propagado por Ciro, Bolsonaro praticamente antecipou no primeiro turno o desempenho que, em tese, deverá ter no segundo. E, com a rejeição na casa dos 50-52%, ele encontrará dificuldades para crescer mais para, desse modo, conseguir ultrapassar Lula.
Lula, por outro lado, além de arrancar no segundo turno com uma vantagem de 6,1 milhões de votos, ainda pode ampliar a votação em segmentos democráticos e antifascistas do eleitorado de Simone, Ciro, dos demais candidatos derrotados e de indecisos.
O segundo turno será uma batalha dura e difícil, com disputa palmo a palmo, voto a voto, e com enfrentamento aos métodos terroristas da extrema-direita.
A perspectiva de vitória do Lula continua tão realista como antes. Para concretizá-la, precisamos dedicar nossos maiores e melhores esforços na construção de um amplo movimento antifascista e pró-democracia na sociedade brasileira.
JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista desta Tribuna da Imprensa Livre. Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.
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