Por Luiz Carlos Prestes Filho

Para o candidato a vereador pela cidade do Rio de Janeiro, Lindbergh Farias: “A questão ambiental precisa ser considerada como de fundamental importância no desenvolvimento da cidade, não podemos, em nome do crescimento econômico, destruir os recursos naturais, que é o que esse capitalismo predatório tem feito.” Em entrevista exclusiva para o jornal Tribuna da Imprensa Livre o ex-senador da República afirma que: “A falta de moradia é um problema grande, sobretudo quando pensamos na recessão que a pandemia agravou e na lógica de uma ocupação das cidades que se dá em prol dos interesses da especulação imobiliária, o poder público tem que garantir programas habitacionais e democratizar o direito à moradia.” Fiel a sua formação ideológica conclui:

“Democracia é participação popular o tempo todo, não só de dois em dois anos. Democracia é o povo decidindo sobre o seu próprio destino.”

Luiz Inácio Lula da Silva e Lindbergh Farias. O ex-senador lutou no parlamento e nas ruas em defesa do amigo e ex-presidente da República

Luiz Carlos Prestes Filho: O Rio de Janeiro é o espelho do Brasil?

Lindbergh Farias: Pela sua importância histórica, por ter sido sede de governo, capital federal, além de ser um polo de desenvolvimento econômico, o Rio é um importante laboratório para os projetos que são implementados a nível nacional. Não à toa os eventos políticos da cidade do Rio têm importância para o país. O bolsonarismo, não custa lembrar, nasceu aqui.

Prestes Filho: Quais desafios o desenvolvimento econômico do Rio enfrenta?

Lindbergh Farias: A cidade tem um enorme potencial econômico e uma matriz diversificada, ou seja, combina diferentes ramos da economia. Acompanhando uma tendência nacional, o Rio tem se desindustrializado, ao mesmo tempo em que o setor de serviços cresce. Por conta da crise dos últimos anos, a retração econômica aqui se agravou e o desemprego cresceu. O desafio é, aproveitando o potencial da cidade, o turismo que sempre foi algo notório, dar a volta por cima, gerando empregos e melhorando a qualidade dos serviços públicos, para melhor atender o povo.

Temos que fazer uso dos ativos econômicos da cidade.

Lindbergh dialogando com o povo nas ruas do Rio

Prestes Filho: O Meio Ambiente deveria orientar o desenvolvimento?

Lindbergh Farias: Não diria orientar, mas a questão ambiental precisa ser considerada como de fundamental importância. Não podemos, em nome do crescimento econômico, destruir os recursos naturais, que é o que esse capitalismo predatório tem feito.

Prestes Filho: A ciência, a tecnologia e a inovação oferecem horizontes para um novo Rio de Janeiro?

Lindbergh Farias: Com certeza. Eu diria que precisamos mudar essa mentalidade que considera que educação, ciência e tecnologia são coisas secundárias ou gastos. Não são. São investimentos no futuro. Acho que o poder municipal pode, junto com o governo estadual, jogar um papel nesse processo.

Fato é que infelizmente não temos no poder pessoas preocupadas com o futuro do país.

Lindbergh Farias nos tempos que atuava como líder estudantil

Prestes Filho: A política fundiária merece especial atenção?

Lindbergh Farias: Acho que a falta de moradia é um problema grande, sobretudo quando pensamos na recessão que a pandemia agravou e na lógica de uma ocupação das cidades que se dá em prol dos interesses da especulação imobiliária. O poder público tem que garantir programas habitacionais e democratizar o direito à moradia. Assim, vai combater um problema grande, tanto que em determinadas áreas da cidade as milícias atuam com ocupações irregulares e grilagem de terras.

Prestes Filho: Quais serão as suas prioridades como vereador?

Lindbergh Farias: Certamente os desafios são grandes. A situação que já era complicada se agravou com o COVID. Minha prioridade como vereador vai ser fazer um mandato que seja um instrumento de luta dos trabalhadores dessa cidade, que se proponha a dialogar com as pessoas diretamente, a ter um gabinete itinerante e conselhos populares.

Meu maior objetivo é mostrar que as lutas populares terão na Câmara um representante aguerrido, com anos de experiência.

Abraço afetuoso de Lindbergh Farias na ex-presidenta Dilma Rousseff

Prestes Filho: As políticas para a área de Saúde Pública devem ter maior atenção?

Lindbergh Farias: Sou candidato a vereador, acho que vale lembrar que a gestão da Saúde não fica a cargo de um parlamentar, mas há medidas que um parlamentar pode tomar. O que eu me proponho a fazer é defender na Câmara um plano de cargos e salários para os profissionais da saúde, de forma que eles sejam valorizados, além da ampliação da atenção básica à população, através das Clínicas da Família. Se lutamos para garantir recursos para esse tipo de programa, beneficia e muito a população. Estou convencido de que não estávamos preparados para a pandemia da Covid 19 e que os profissionais da saúde estão fazendo um trabalho primoroso, mesmo que em péssimas condições, já que Temer e Bolsonaro trabalham pra asfixiar o SUS, cortando investimentos e precarizando os serviços.

Prestes Filho: A educação transforma? Existem resultados positivos na área da educação nas última décadas?

Lindbergh Farias:

Destacaria a democratização do acesso ao ensino superior nos governos Lula e Dilma. Educação não pode ser privilégio e a universidade tem que ser um espaço de todos, não só dos filhos da elite e da classe média. Hoje o filho do trabalhador, da empregada doméstica pode ser doutor, galgar outros patamares, que eram inimagináveis até alguns anos atrás.

Lindbergh com uma de suas filhas durante manifestação na orla de Copacabana

Prestes Filho: Políticas voltadas para as minorias estão na sua futura agenda parlamentar? O esporte colabora para a inclusão social?

Lindbergh Farias: Não existe democracia se não olharmos para as minorias, se não levarmos em conta suas necessidades e se não planejarmos as políticas públicas em diálogo constante com as mesmas. O esporte, por sua vez, é um importante instrumento de melhoria de vida para a juventude. Acho que o legado dos jogos Olímpicos e da Copa de Futebol deveria ser melhor aproveitado e em benefício de todos. Penso ser fundamental ter parcerias com essas escolinhas de futebol em regiões periféricas, de tal maneira que esporte e educação tenham políticas públicas integradas.

Prestes Filho: Por favor, algumas palavras sobre sua família e sua matriz ideológica.

Lindbergh Farias: Meu pai foi vice-presidente da União Nacional do Estudantes (UNE) antes da ditadura. Meu gosto pela política e meu primeiro contato com a literatura de esquerda têm origem na relação que eu tive com ele. Quando jovem, ouvia histórias sobre Brizola e Guevara em casa e aprendi a admirar essas figuras que se lançaram de corpo e alma na defesa de uma sociedade livre de opressões e injustiças. O próprio Luiz Carlos Prestes, seu pai, é um grande exemplo nesse sentido. Sua luta, que lhe rendeu tantos anos de prisão e clandestinidade, tanto sofrimento, foi o grande sentido da sua vida. O legado de Prestes é o de alguém que permaneceu afirmando com todas as letras o que ele era: um comunista. E isso despertou a ira de muita gente.

Digo com convicção que Prestes foi um gigante pra história desse país e pra luta dos trabalhadores. Um dos melhores que tivemos.

O líder estudantil Lindbergh Farias na passeata pelo impeachment do ex-presidente Fernando Collor na Candelária, Centro do Rio

Prestes Filho: Como foi sua trajetória?

Lindbergh Farias: Comecei como líder estudantil. Já no início da década de 90, fui presidente da UNE e estive à frente do movimento dos caras pintadas, que tirou o Collor da Presidência. Desde então, não saí mais porque penso que é a maneira que nós temos de transformar a sociedade: ocupando espaços institucionais, mas sem virar as costas para a rua.

Prestes Filho: Você entende que o instituto das eleições é a base da democracia?

Lindbergh Farias: Acho que democracia não se resume a eleições. Democracia é participação popular o tempo todo, não só de dois em dois anos. Democracia é o povo decidindo sobre o seu próprio destino. Penso que o nosso regime democrático precisa ser restabelecido.

O golpe de 2016, contra a presidente Dilma, e a prisão ilegal do Lula, demonstram que não vivemos uma normalidade democrática.

Lindbergh e Lula

Prestes Filho: As reformas em curso, propostas pelo governo federal, vão interferir negativamente nas políticas públicas municipais?

Lindbergh Farias: Essas reformas partem de uma premissa equivocada: a de que o Estado não pode contrair dívidas e que o que importa é agradar o mercado financeiro. A meu ver, a reforma tributária que precisamos é uma que tribute os mais ricos, os bancos e o rentismo. Chega de penalizar o trabalhador porque foi isso o que foi feito com a reforma trabalhista de Temer e a da Previdência de Bolsonaro, Guedes e Maia.

***

Veja também: TRIBUNA LIVE com Lindbergh Farias. Apresentação dos  jornalistas Daniel Mazola e Roger Mcnaught, realizado em maio de 2020.


LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Cineasta, formado na antiga União Soviética. Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local, diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009). É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).