Por Eliara Santana –
Na edição do dia da Independência, JN crava o impeachment e dá um “tchau, querido” a Jair.
7 de setembro de 2021 – Uma edição histórica. Marcante. De novo, definidora dos rumos políticos do país.
Assim foi a edição do Jornal Nacional no 7 de Setembro. Pautou o impeachment. Mais do que isso: justificou, ponto por ponto, o impeachment de Jair Bolsonaro. E mostrou, ponto por ponto, onde e como o presidente atacou a democracia. E por que isso é inaceitável.
Na escalada, Bonner anuncia:
“O desrespeito à democracia com as cores da NOSSA bandeira”.
“Bolsonaristas insuflados pelo presidente da República usam verde e amarelo, mas atacam pilares da Constituição”.
“Em tom golpista, o presidente discursa diante de manifestantes em Brasília e em São Paulo”.
“Diz que respeita a Constituição. Mas, nas mesma frase, volta a ameaçar o STF”.
E já na escalada, o anúncio de que juristas veem crime de responsabilidade do presidente. Impeachment pautado por quem de direito pode fazê-lo.
A edição de hoje teve 29 minutos de desconstrução de Bolsonaro. Com vozes de autoridade, imagens, falas grotescas do presidente, além de um minuto para o panelaço. Ou seja, 30 minutos, numa edição de 43 minutos e 20 segundos, com assuntos MUITO negativos para o presidente. Não há ninguém que resista a esse conjunto.
Na abertura da edição, Bonner anunciou:
“O Brasil assistiu hoje a uma demonstração de desprezo pela Constituição promovida e insuflada pelo presidente da República. Em diversas cidades, milhares de bolsonaristas participaram de atos com pautas que afrontam a democracia, como a intervenção militar e a destituição de ministros do Supremo Tribunal Federal. Em Brasília e em São Paulo, o presidente Jair Bolsonaro discursou. Voltou a atacar governadores e prefeitos que tomaram medidas de combate à disseminação do coronavírus. Voltou a atacar integrantes do STF. Voltou a atacar o sistema eleitoral brasileiro. E no Dia da Independência, Bolsonaro elevou a temperatura da crise institucional que ele mesmo criou e tem alimentado”.
Ou seja, Jair é aquele que ATACA, AMEAÇA, AFRONTA, INSUFLA, DESPREZA, CRIA CRISES, ELEVA A TEMPERATURA. Tudo o que um presidente não pode fazer. Portanto, ele não pode estar na presidência. Não pode ocupar o lugar que ocupa. Não há possibilidade de os Poderes aceitarem um presidente que, no horário nobre da TV, DESPREZA a Constituição.
A fala de Bonner prossegue ressaltando que, desde ontem os “bolsonaristas” já causavam problemas na Esplanada dos Ministérios, com imagens mostrando o quebra-quebra e a invasão.
Observem: “bolsonaristas”, não mais “apoiadores de Bolsonaro”. Eles estão sendo nomeados, apontados, ligados a tudo de ruim que Bolsonaro congrega. Esses “bolsonaristas” carregavam faixas com dizeres antidemocráticos e pedindo o fim do STF. Não existe qualquer espaço para se dizer que os tais “bolsonaristas” faziam uso da sua liberdade de expressão. Ou seja, como apoiadores, repetiam os atos condenáveis do presidente.
A reportagem (a primeira) de quase 14 minutos mostrou Jair chegando de Rolls Royce à cerimônia, em Brasília, e depois indo para São Paulo.
Coube a Bonner fazer a encenação debochada, dizendo que Jair, em cima de um trio elétrico, fez: “Um discurso inflamado, repleto de declarações antidemocráticas. E apesar de dizer que respeita a Constituição, fez ameaças ao Supremo”.
Bonner também fez entonações para dizer que Bolsonaro falou que haverá consequências, “mas não disse quais”. Entram então as cenas dos atos, com as falas de Jair. Ou seja, antes de exibir as falas, a pincelada do ridículo já é dada.
Os destaques das falas buscavam mostrar a truculência e a não aceitação da convivência democrática do presidente e de seus apoiadores. Não se enganem: tudo o que o brasileiro médio não tolera, porque o brasileiro médio é meio conservador e gosta de tranqüilidade, é a baderna sem controle. Esse esgarçamento – agora exposto e nomeado – não se sustenta. Ainda mais num cenário de economia devassada.
Mais adiante, a reportagem fala em “tom golpista” do presidente, que manifestou a intenção de convocar o Conselho da República.
A cada apresentação da bancada, a imagem na sequência ressaltava as falas “golpistas”, “antidemocráticas” do presidente. Irrefutáveis, portanto.
Depois que Bolsonaro mencionou o Conselho, Bonner apareceu para explicar o funcionamento e deixar claro que Jair é tão incompetente que não sabe mesmo sobre o que está falando.
VOZES DE AUTORIDADE
O JN buscou juristas de matizes diversos como as vozes de autoridade para explicar que Jair atravessou o Rubicão, ou, em bom português, que ele enfiou o pé na jaca da democracia. A fina-flor do mundo jurídico estava no Jornal Nacional explicando tudo para todos entenderem. Explicando que o que Jair falou não pode ser dito por um presidente. Juristas que apontaram o crime de responsabilidade do presidente da República. Não era mais o apresentador William Bonner que fazia o vaticínio, mas juristas de renome: Carlos Ayres de Britto, Celso de Melo e outros para explicar que os atos insuflados afrontam diretamente a Constituição .
Em outra reportagem, de seis minutos, com destaque para a fala de entidades como OAB, que se somou à fala dos juristas ressaltando que Bolsonaro “incitou” os manifestantes. De novo: entidades que sempre se colocam na vanguarda da defesa dos direitos e da de democracia, portanto, Jair não tem lastro nenhum.
Pelo lado do mundo político, quem primeiro apareceu para dizer que é preciso pautar o impeachment foi o governador de São Paulo, João Dória. Bem a calhar. Porque, sinto pelos outros, mas a aposta da terceira via é Dória…
APOIADORES DE ATOS NÃO SÃO O POVO – DESTA VEZ
Após tantos anos seguindo Bonner e a bancada do JN, confesso que fiquei absolutamente surpresa ao ouvir Bonner dizer:
“Diante de apoiadores, tanto em Brasília quanto na Avenida Paulista, o presidente Bolsonaro repetiu hoje o que costuma dizer: ‘que sempre estará onde o povo estiver’. No discurso de Bolsonaro é como se os milhares de participantes dos atos antidemocráticos fossem o povo brasileiro, e não apenas os apoiadores dele”.
Ora, ora, ora… A partir de 2014, aqueles que usavam verde e amarelo passaram a ser nomeados como “brasileiros” contra “aliados de Lula e Dilma”. NÓS X ELES. Brasileiros eram somente os que usavam verde e amarelo. Era assim que apareciam referenciados nas manchetes e chamadas. O que mudou? Os que vestem verde e amarelo são os mesmos.
O ódio a quem usava vermelho começava ali, insuflado pelo JN também.
Na sequência, depois de debochar, a reportagem mostrou que não é bem assim, e que Bolsonaro tem um número bem restrito de apoiadores. Tudo desenhadinho, com números grandes na tela.
MANIFESTANTES EM DEFESA DA DEMOCRACIA
E os vermelhinhos chegaram ao paraíso do horário nobre. Agora, referenciados como “manifestantes em defesa da democracia e contrários a Bolsonaro”.
A reportagem de três minutos deu números, mostrou muitas imagens – do alto, de lado, de frente, pessoas em movimento. Uma profusão de cores, nomes, palavras de ordem, e muito, muito vermelho.
Ao citar o ato no Vale do Anhagabaú, a reportagem disse que ali foi o local da manifestação pelas Diretas Já. E mostrou discursos de Haddad, Boulos e Gleisi Hoffmann.
Nunca antes na história desse pais…
Fonte: Blog Eliara Santana
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MAZOLA
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