Por Amirah Sharif

Recentemente, fomos surpreendidos com a morte do influencer brasileiro Jesse Koz e de seu cachorro Shurastey, da raça golden retriever. Ambos estavam a caminho do Alasca, quando sofreram um acidente de trânsito na estrada US 199, conhecida como Redwood Highway, em Oregon, nos Estados Unidos. A batida que os vitimou ocorreu em 23 de maio. Segundo a Polícia, Koz teria tentado desviar de um carro que diminuiu a velocidade em uma curva e, nesta hora, bateu de frente com outro veículo.

“Shurastey or Shuraigow?”

A viagem da dupla fazia parte de um projeto chamado “Shurastey or Shuraigow?”, que era uma brincadeira com a música “Should I Stay or Should I go” (devo ficar ou devo ir), sucesso da banda The Clash.

Koz e seu companheiro de aventuras Shurastey viajavam desde 2017 em um fusca de 1978 apelidado de Dodongo com placa de Balneário Camboriú.

Estamos juntos!

Em sua última entrevista para a TV, Jesse Koz disse : “O Shurastey não sabe muito, só está me acompanhando, isso que importa para um cachorro: estarmos juntos!”

Sim, um cachorro sempre estará junto do humano, mas nem sempre o humano estará junto do cachorro. Nesse caso, Jesse Koz e Shurastey continuam juntos em uma outra viagem.

Fidelidade tem nome: Hachiko

Em maio de 1925, o professor Ueno sofreu um AVC durante uma reunião do corpo docente na faculdade onde lecionava e faleceu.

Hachiko, um cãozinho da raça Akita, que à época tinha pouco menos de dois anos de idade, no horário previsto, esperou pacientemente o professor na estação de trem. E ele fez isso dia após dia, ano após ano até que, na madrugada de 8 de março de 1935, com 11 anos e 4 meses, Hachiko deu seu último suspiro no mesmo lugar onde por anos aguardava o retorno de seu pai humano.

Todos os anos, no dia 8 de março, ocorre uma cerimônia solene na estação de trem de Shibuya, em Tóquio, no Japão, onde centenas de pessoas se reúnem em homenagem à lealdade e devoção de Hachiko.

O Akita se tornou Patrimônio Nacional do povo japonês. Quando nasce uma criança, a família recebe uma estatueta de Akita como desejo de saúde, felicidade e vida longa. O objeto também é considerado um amuleto de boa sorte. Quando há alguém doente, amigos dão ao enfermo esta estatueta desejando pronta recuperação.

No ano passado, o Ministério da Saúde japonês divulgou que o país contava com 86.520 pessoas com idade igual ou superior a 100 anos. Não duvido que esses idosos tenham uma estatueta de Akita em suas residências. Não duvido mesmo.

Tristeza ou alegria?

Existe um ditado que fala: “a tristeza no coração de um ser humano o torna corcunda, mas a palavra da alegria o faz saltar”. Foi exatamente essa frase que mencionei quando me perguntaram se tinha tomado conhecimento do acidente que vitimou Jesse Koz e Shurastey.

Claro que me emocionei, no entanto percebi que os dois amigos foram juntos. O não completar a viagem até o Alaska, o não poder mais viver neste planeta um ao lado do outro são motivos de muita tristeza, no entanto se um ficasse aqui e o outro, não, seria mais triste ainda. Lembremos de Hachiko. E, por causa de Hachiko, podemos ajustar o provérbio: “a tristeza no coração de um ser vivo o faz definhar…”

E aí pensei nos cangurus, que se destacam por possuírem pernas traseiras fortes e, assim, garantem grandes saltos. O corcunda não possui pernas fortes…Nós, protetores e defensores de animais, sim.

O projeto da dupla “Shurastey or Shuraigow?” continua nessa outra caminhada, só que agora não há mais um ponto de interrogação a essa indagação.

Há uma resposta: juntos, sempre juntos.

AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. asharif@bol.com.br


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