Redação

O romancista e jornalista Ignácio de Loyola Brandão se diz ansioso e “muito atordoado” com sua posse na cadeira 11 da Academia Brasileira de Letras (ABL). A cerimônia será hoje (18), às 21h, no tradicional Salão Nobre do Petit Trianon, sede da instituição, no centro do Rio de Janeiro. Loyola confessou que nunca tinha pensado em se tornar um acadêmico, até notar que a sua geração estava lá. “Eu nunca pensei, até o momento em que eu pensei. De repente eu falei. A minha geração está quase toda lá dentro. Decidi entrar e consegui”, contou em entrevista à Agência Brasil.

Em princípio, o novo imortal, como são chamados os membros da ABL, disse que ainda não sabe como será sua atuação nos debates internos. “Eu não sei ainda. Se eu soubesse, estou totalmente no ar. Estou ansioso e não sei responder essas coisas agora”.

Debate

Mas com um pouco mais de tempo da entrevista indicou o que pretende da Academia. “Eu não sei como funciona a Academia. Que tipo de coisa posso fazer lá dentro. Espero que seja um momento em que possamos ampliar o debate sobre a liberdade de expressão”, apontou, acrescentando que a instituição “é um bom espaço para aprofundar, porque são pessoas de relevo”.

A ABL costuma realizar palestras e debates abertos ao público. Loyola sugeriu que a Academia patrocine essas palestras em várias partes do país e não apenas dentro das suas dependências, no centro do Rio de Janeiro. “Eu prefiro falar pelo Brasil. Não lá dentro da Academia. Que a Academia nos mande para fora, mande pelo país para fazermos conversas”, revelou.

Contribuição

O presidente da ABL, Marco Lucchese, disse que a entrada do seu novo par é um ganho imenso para a instituição, porque ele construiu uma cena ficcional importante e vem construindo esta cena com muito vigor e juventude.

“É importante ver o valor da obra literária de Ignácio que é absolutamente fundamental e de fato se tornou o passaporte para a entrada na casa de Machado de Assis. Certamente, quanto ao futuro o trabalho da Academia é coral e institucional e sem sombra de dúvida a voz de Ignácio é timbre muito bonito que se integra a esse coral da Academia em muitas gerações”, ressaltou em entrevista à Agência Brasil.

Lucchese disse que fica feliz também porque terá um parceiro no seu trabalho de levar literatura aos presídios. “O Ignácio costuma ir às prisões falar de literatura debater a questão de direitos humanos, o que me deixa pessoalmente muito alegre. É uma visão pessoal”, completou.

“O importante é que a literatura de Ignácio de Loyola Brandão, a bela ficção de Ignácio, representa a comunhão de literatura e liberdade.”

Para Loyola, que costuma fazer essas visitas por meio da Academia Paulista de Letras, essa é uma forma de expandir a cultura nos presídios. O romancista e jornalista contou que uma vez ouviu de um preso uma reflexão que resume a importância desse contato. “Eu estava saindo, ele veio e disse: vê se eu entendi. Eles podem prender o meu corpo. Eu fico aqui dentro e o meu físico está preso, mas a minha cabeça e o meu pensamento ninguém prende. Ele é livre, portanto, eu sou livre; eu falei: é. essa frase resume tudo”, revelou, lembrando ainda que com a leitura, os presos conseguem redução da pena.

Cadeira 11

Ignácio de Loyola Brandão vai suceder o acadêmico e jurista Hélio Jaguaribe, que morreu no dia 9 de setembro de 2018. O novo imortal foi eleito, por unanimidade, no dia 14 de março. Na cerimônia, será recebido pelo acadêmico e escritor Antônio Torres. A cadeira nº 11 já foi ocupada por Lúcio de Mendonça, um dos fundadores da ABL, seguido por Pedro Lessa, Eduardo Ramos, João Luís Alves, Adelmar Tavares, Deolindo Couto, Darcy Ribeiro e Celso Furtado.

Carreira

Ignácio de Loyola Brandão nasceu em 1936, em Araraquara, São Paulo, onde começou a carreira de jornalista. Aos 21 anos se mudou para São Paulo. Trabalhou no jornal Última Hora, nas revistas ClaudiaRealidadeSetentaPlanetaCiência e VidaLui e Vogue. Quinzenalmente tem uma crônica publicada no jornal O Estado de S. Paulo. O novo acadêmico publicou mais de 42 livros, sendo romances e contos, crônicas, viagens, infantis e infantojuvenis e uma peça teatral. Entre os títulos de destaque estão ZeroNão Verás País NenhumDentes ao SolO Beijo Não Vem da Boca; Cadeiras ProibidasO Anônimo Célebre e O Mel de Ocara. Em 2011, lançou A Morena da Estação, crônicas sobre trens, ferrovias, estações.Universo que conhecia bem, o pai era ferroviário. Em 2014, Os Olhos Cegos dos Cavalos Loucos, um emocionante pedido de perdão de um neto para seu avô.

Prêmios

Pelo conjunto de sua obra, recebeu o Prêmio Machado de Assis de 2016, edição que, em seu novo formato, passou a ser o único entregue pela Academia Brasileira de Letras. Em 2008, com O Menino que Vendia Palavras, considerado a melhor ficção do ano, ganhou o prêmio Jabuti. Em 2016, recebeu o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras pelo conjunto de sua obra.

Fonte: Agência Brasil