Por Miranda Sá

“A história se repete. Esse é um dos horrores da História” (Darwin)

Um dos leitores dos meus artigos (que com isto afaga o meu ego), fez outro dia a pergunta intrigante sobre a minha insistência em buscar nas antigas civilizações exemplos para a realidade que vivemos…. Eu aprofundaria sua indagação com os mergulhos na pré-História; outro dia falei sobre a nossa herança neandertal…

A resposta é simples. Aprendi com Miguel de Cervantes que “a História é desafiadora do tempo, repositório dos fatos, testemunha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro”.

O meu interlocutor é muito jovem como muitos dos meus seguidores no Twitter; seu perfil indica 28 anos. Ainda bem que não criticou o meu apego aos mais idosos das redes sociais, com quem vivo discutindo e aprendendo….

Não dialogar é um problema que os jovens só se arrependem de não fazer mais tarde…. Muitos dos antigos se arrependem de não ter mantido conversas pacientes com os avós e os pais quando moços. Disto me livrei; sempre conversei, polemizei e acumulei informações com os meus.

Não é advogando em causa própria que valorizo aqueles das novas gerações que procuram aprender com os idosos, pensando como eu pensava na mocidade. E uma das coisas ficou: a palavra Mocidade é poética, rima rica de muitos sonetos, mas que a palavra idoso(a) é inerente à sabedoria…

Anos atrás, quando trabalhei na Tribuna do Norte, jornal do político norte-rio-grandense Aluízio Alves, excelente jornalista, ouvi dele a admoestação a um repórter que se referiu a um homem se 60 anos como “ancião” numa matéria.

Concordei com Aluízio, não gosto da palavra Ancião, acho-a feia, assim como o povão rejeita usar a palavra “velho”, preferindo “antigo”. Embora o verbete “ancião” apareça nos dicionários como sinônimo de “Idoso”, vejo-o diferente. Pior do que ancião somente a idiotice politicamente correta de exibi-los na “terceira idade”.

Idoso, para a Organização Mundial da Saúde são as pessoas com mais de 65 anos de idade nos países desenvolvidos e com mais de 60 anos nos países subdesenvolvidos. Mas nesta “aritmética sociológica” a OMS não levou em conta que a expectativa de vida se ampliou na população mundial com a ciência e a tecnologia contribuindo para isto e nos empurrando para os 80, 90, 100 anos.

Ouvi certa vez uma máxima que reza: “não nascemos jovens, mas tornamo-nos jovens”; então apelo para a História, que é vista por muitos como paradoxal; para mim, porém, é a base das minhas considerações. Encontrei, por exemplo, que “Jovem” para Hipócrates – o pai da Medicina – é um homem até os 35 anos; que Tito Lívio acrescentou mais cinco, e que as “juventudes comunistas” reconhecem membros de 45 anos (razão porque a UNE virou ‘anciã’… rsrsrs).

Outra vez me referi à ‘Mulher de Trinta Anos’ (La femme de trente ans), personagem do realismo amoroso de Honoré de Balzac, escritor que muito admiro, embora vendo-o na sua época; hoje, ele se corrigiria evocando as mulheres de 40, 50, 60… e 70 anos…

Li em alguma publicação que os indianos dizem que o elefante já nasce velho; mas vê-se o contrário com o ser humano, os setentões engavetam atualmente a certidão de idade exibindo o corpo e a mente saudáveis de dar inveja aos jovens.

Constatamos, com alegria, que o envelhecimento sadio do corpo e da mente também é ativista pela preservação da vida; isto implica em usar a acumulação de experiências visibilizando o futuro da sociedade humana. E, sobretudo, defendendo o direito de reverenciar a História que os nossos antepassados viveram, porque ela se repete…

Tudo bem. Agradecendo mais uma vez ao jovem curioso que me interrogou, peço que grave uma lição de Victor Hugo: “Os velhos precisam de afeto, como precisam de sol”.


MIRANDA SÁ – Jornalista, blogueiro e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã. Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.