Por Jeferson Miola –
Este artigo é um acréscimo ao texto publicado originalmente em 10 de agosto de 2021 em repercussão à derrota do governo militar na votação da PEC 135, que instituía o voto impresso [no original: “Com derrota do voto impresso, Bolsonaro ganha o que de fato queria: a retórica para seu ‘Capitólio de Brasília’”].
O debate, no Brasil, sobre o comprovante impresso do voto para posterior auditoria amostral, como existente em sistemas de votação eletrônica em outros países, ficou comprometido pela postura de confronto e ameaças do Bolsonaro e das cúpulas partidarizadas das Forças Armadas.
É um tema tão polêmico quanto pertinente. É necessário retomá-lo no contexto de restauração da democracia no país com vistas ao aperfeiçoamento do sistema eleitoral.
À luz dos acontecimentos recentes, com a interferência direta das cúpulas partidarizadas das Forças Armadas na cena política e no processo eleitoral, assim como da ofensiva do partido dos generais contra o TSE e STF, fica claro que a prioridade do bolsonarismo à época não era aprovar a PEC 135, mas sim ganhar um discurso para promover caos, tumulto e barbarizar a eleição. Exatamente como estão fazendo hoje, menos de um ano depois.
Não por acaso, o general Braga Netto já anunciava que “se não tiver voto auditável, não terá eleição”. Se não tiver reação a tempo, será mais uma “profecia” a se autorrealizar.
Adiante, o texto de 10 de agosto de 2021:
Bolsonaro não pautou a discussão sobre voto impresso por apreço democrático ou por compromisso com a fiel expressão da soberania popular.
Simulando falso fervor democrático, ele e os generais-chefes do governo militar chegaram a ameaçar o “cancelamento” da eleição de 2022 e atacaram o STF e o TSE caso o voto impresso não fosse adotado.
Até montaram o circo ridículo da “tanqueada” de ferros-velhos das Forças Armadas para intimidar o Congresso neste dia [10/8] de votação da emenda constitucional [PEC 135] do voto impresso. O máximo que conseguiram com o espetáculo deplorável das quinquilharias bélicas, contudo, foi a completa desmoralização nacional e internacional. das Forças Armadas brasileiras.
Bolsonaro sempre calculou que dificilmente teria os 308 votos na Câmara para aprovar a PEC. Apesar disso – ou exatamente por isso –, o governo e sua base congressual insistiram na iniciativa e esgarçaram o ambiente político com o objetivo central de deslegitimar a eleição e gerar caos político em 2022 ao estilo do promovido por Trump nos EUA no Capitólio [Congresso estadunidense] em 6 de janeiro passado.
A derrota do governo militar na próxima eleição presidencial é uma hipótese bastante realista. Por isso os militares operam pelo menos dois cenários, em simultâneo: por um lado, buscam se mimetizar no corpo da chamada 3ª via com Moro, Mourão, Santos Cruz e quejandos; e, de outra parte, preparam as condições para espatifar a eleição e instalar o caos no país.
Para Bolsonaro e os generais-chefes do governo militar, a derrota da PEC 135 não significa um revés imprevisível, porque com a derrota do voto impresso, eles ganham o que de fato queriam, que é a retórica para promoverem o “Capitólio de Brasília” em 2022.
JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista, Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial
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