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Historinha infantil – por Deonísio da Silva
Geral, Opinião

Historinha infantil – por Deonísio da Silva

Por Deonísio da Silva

Aos dois anos, o menino percebeu que as pessoas grandes mentiam: ‘olha o passarinho’. O passarinho não veio…

Veio o “véio”. Era meu avô materno, o sobrevivente. O avô paterno já partira. E assim registraram meu segundo aniversário.

O primeiro tinha sido difícil. Parecia prevalecer o dito à beira do berço: “Esse não se cria”. Meu pai contrariou o mau presságio com veemência: “Se cria, sim, esse se cria”.

Vovô, o STF da família, guardião da Constituição mais importante do mundo – o bem-estar do bebê, que naquele momento histórico era quem mais precisava de proteção – sentiu a sentida sentença do sentidor e confirmou: “se cria, sim”.

O menino mamou na teta da mãe o seu silêncio, o seu amor e outros amores ao redor. Talvez tenha recebido ali a primeira lição diretamente no inconsciente infantil: podemos falar e fazer. Ou fazer e não falar. Mas nunca falar e não fazer. Junto com o leite da mãe, o leite da bondade humana.

Um dos textos preferidos pelo menino que virou professor e escritor tem por pauta o sutiã. Talvez tenha apreendido também e naquele momento, pela sabedoria injetada diretamente no inconsciente, as forças poderosas e sutis de vestes desabotoadas e do sutiã desamarrados.

Na vida, vêm outros momentos tão decisivos quanto o do nascimento. A lição do Sol é nascer todos os dias. E ao fim do dia recolher-se para voltar amanhã.

Um dia seguiremos o pôr do sol e nunca mais voltaremos. Terá sido o fim dos dias. Como se sabe, o fim do mundo é um evento privado: o mundo acaba só para quem morre.

Começa outro para os que ficam, sobre o qual sabemos algumas coisas. E começa outro para quem parte, sobre o qual nada sabemos.

Esse último mistério vai atar as tuas pontas do cordão umbilical, cortado naquele primeiro mistério que tornou possível o nascimento.

Em todos esses mistérios, a referência solar é a mulher, a melhor parte da natureza humana, como tantas vezes reiterado por esse autor.

* aos que vigiam o próximo: teta da mãe não é palavrão. E a origem da palavra é bonita.

* professor e escritor, mas sempre aluno.

DEONÍSIO DA SILVA é escritor, editor e autor da Coluna ‘Sem Papas Na Língua’ da Rádio BandNews.

Enviado por Siro Darlan de Oliveira – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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