Redação –
Assim como outros países da América Central e do Caribe, o Haiti sofre com a violência de gangues criminosas. Elas dominam vários aspectos da vida da população e contaminam forças de segurança, serviços privados e públicos, até mesmo nos cargos mais graduados da administração do Estado.
No Haiti, porém, as gangues têm posicionamentos políticos mais evidentes e, com frequência, usam a violência para expressar insatisfações e alcançar objetivos na política, enquanto, em outras partes, a economia relacionada ao tráfico de cocaína é apontada como o elemento principal de motivação da violência de gangues.
Em 24 de junho, Jimmy Cherizier, conhecido como Barbecue e um dos principais chefes de gangue do Haiti, lançou publicamente uma “revolução” contra o governo do presidente Jovenel Moïse, assassinado em sua casa 13 dias depois. Em nome do G9, organização formada no ano passado que representa nove gangues armadas haitianas, ele declarou guerra contra empresas e elites políticas, segundo a agência Reuters. Considerado “herói” em sua comunidade, Barbecue falou à imprensa na favela de La Salines, na capital Porto Príncipe, cercado de homens que ostentavam armas de fogo e facões.
Ex-policial, o líder afirmou que o G9 havia se tornado uma força revolucionária para “livrar o Haiti do governo, da oposição e da burguesia”. Barbecue é suspeito de massacres de civis nos últimos anos, de acordo com a agência, motivo pelo qual já sofreu sanções dos EUA. Ele descreve a si mesmo como um líder comunitário que ocupa o espaço que as fracas instituições do país não preenchem.
Estilo miliciano
Vanessa Matijascic, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo) e professora de relações internacionais na Faap (Faculdades Armando Alvares Penteado), afirmou que os grupos de crime organizado “ganharam relevância central no Haiti na década de 1990”, aparelhando comunidades carentes do país de maneira similar ao que ocorre no Triângulo Norte da América Central, formado por Guatemala, Honduras e El Salvador, no México e no Brasil.
Segundo Matijascic, as tropas da Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti) combateram entre 2007 e 2009 gangues de Porto Príncipe que atuavam de maneira similar às milícias do Brasil.
“Por mais que se invista em repressão, quando alguns morrem, outros os substituem, e cada vez mais jovens entram nesse processo. (Vanessa Matijascic, pesquisadora)”
“É bastante claro no caso do Haiti que as gangues têm filiações políticas e participam desse jogo de maneira significativa”, afirmou o analista Daniel Rio Tinto, professor da Escola de Relações Internacionais da FGV (Fundação Getúlio Vargas), em São Paulo.
A gente vê muito essa situação, em que grupos paralelos, numa política de ‘Robin Hood’, questionam o monopólio do estado sobre a violência e acabam tendo essa apropriação política de certas ideias que às vezes se ligam à vontade popular. Eles viram representantes de bandeiras políticas. Daniel Rio Tinto, professor de relações internacionais
Tinto ressaltou que as gangues haitianas apresentam posicionamentos mais diretos para influenciar transições políticas. Disse também que, no Triângulo Norte da América Central e no México, por exemplo, os grupos criminosos atuam de maneira “simbiótica” com os governos, já que impregnam agências públicas, forças de segurança e o Judiciário.
Fonte: Portal UOL
MAZOLA
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