Redação

Em maio, O Globo noticiou que o Ibama mapeara 277 pistas de pouso irregulares no território ianomâmi, área equivalente a Portugal. Agora, reportagem do New York Times contou, além dessas, 1.269 outras pistas clandestinas em toda a Amazônia, ativas pelo menos até o ano passado, todas localizadas em áreas ricas em ouro e estanho.

Centenas delas também em terras indígenas. Do total, 362 estavam dentro do raio de 20 quilômetros de algum garimpo. Há na reserva ianomâmi três bases do Exército para monitorar a fronteira com a Venezuela.

RESPOSTA PROTOCOLAR – O Times mapeou 35 pistas clandestinas num raio de 80 quilômetros de uma dessas bases. Relatou o fato ao Exército e recebeu uma resposta protocolar:

“O Exército reconhece que a integridade de suas fronteiras representa um desafio para o Estado brasileiro, e em particular para as forças de segurança”.

Para justificar o imobilismo, informou que o Brasil tem mais de 16 mil quilômetros de fronteira com dez países para vigiar. A Força Aérea também foi procurada com insistência, mas não deu resposta.

TEMPOS ATRÁS… – Nos anos 1980, sob pressão internacional, a Força Aérea destruiu várias pistas na região e fechou o espaço aéreo sobre o território durante meses. Isso é o que deveria ter sido feito já há algum tempo. Antes de Bolsonaro e sua política de incentivo ao garimpo e à exploração da madeira na Amazônia, ainda havia operações militares semelhantes. Agora, o sinal verde do Planalto à ocupação de terras produz uma destruição ambiental sem paralelo.

A invasão da terra ianomâmi por 30 mil garimpeiros em Roraima segue um padrão. Definida a área a explorar, geralmente às margens de um rio, abrem-se pistas clandestinas para estabelecer a logística do transporte de garimpeiros, alimento, combustível, equipamentos e do próprio ouro.

Enquanto o crime organizado se alastra na Amazônia, sua representatividade no Congresso poderá crescer se vingar a pré-candidatura a deputado federal pelo PL de Roraima do empresário Rodrigo Martins, sob investigação da PF por apoiar a mineração ilegal na terra ianomâmi.

NEGÓCIOS ESCUSOS – As empresas de Rodrigo Martins em Boa Vista, uma de táxi-aéreo e outra de perfuração de poços artesianos, são acusadas de ter movimentado mais de R$ 200 milhões em dois anos. A cifra, segundo a PF, só pode ser explicada se, entre os negócios, estiverem o ouro e a cassiterita da reserva indígena.

O Times usou uma ferramenta especial para analisar milhares de fotos de satélite, a fim de encontrar sinais de mineração próximos às pistas, como as piscinas usadas pelos garimpeiros para fazer a separação do ouro com o mercúrio, que depois polui os rios e contamina os peixes consumidos em povoados e cidades.

Segundo laudo da PF, o mercúrio encontrado nos quatro rios que correm no território ianomâmi está 8.600% acima do nível seguro para consumo humano. Quem quer que seja o vencedor das eleições de outubro, terá de enfrentar intensa pressão internacional para lidar com esse tipo de devastação que aflige a Amazônia e as populações indígenas.

Fonte: O Globo

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