Redação

O governo francês apresentou ao Parlamento, dia 11, a proposta de reforma das pensões.

No dia 10 os trabalhadores voltaram a paralisar o país, pela sexta jornada consecutiva. “Não estávamos habituados a este nível de mobilização nos últimos anos. Até o governo teve de reconhecer”, diz Eric Bleynel, porta-voz da [central sindical] Solidaires .

Os sindicatos não esperavam uma resposta tão grande dos trabalhadores e estão eufóricos. “É uma terça-feira negra em Paris”, titula um jornal nesta manhã diante do colapso da capital francesa, com mais de 550 quilômetros de veículos atascados nos acessos, 10 linha de metrô paralisadas e só um terço dos ônibus a circularem pelas ruas.

Na noite de quinta-feira passada, primeiro dia de mobilização operária contra a reforma das pensões, o Ministério do Interior [que tutela as polícias] contabilizou 800 mil manifestantes nas ruas, ao passo que a CGT falou de 1,5 milhão.

“Jogamos em grande”, diz Yves Veyrier, secretário-geral da Force Ouvrière, enquanto o primeiro-ministro, Edouard Philippe, convoca improvisadamente uma conferência de imprensa no pátio da sede do governo para iniciar uma nova rodada de negociações com os sindicatos.

Alguns trabalhadores do ensino ontem suspenderam a greve para retomá-la hoje com mais vontade. A estas horas os trabalhadores das refinarias já pararam, assim como as Administrações públicas, os transportes, as lojas de alimentação, os pilotos, os estudantes… Até os advogados penduraram a toga.

Como se viu na semana passada, o movimento operário exprime uma raiva mal contida durante muitos anos de exploração, com pormenores curiosos. Os trabalhadores não se limitam a parar ou a desfilar pela rua. Fabricam cartazes rudimentares, verdadeiras válvulas de escape das suas sensações e frustrações. Não levam os cartazes nem as palavras de ordem dos sindicatos e sim as suas próprias.

Nas tertúlias televisivas os “peritos” dão cabo do pouco cérebro que têm. Um ano de luta dos “coletes amarelos” não decorreu em vão. Ela permeia tudo e o governo demonstra, reiteradas vezes, que não está preparado para batalhas que não sejam previamente domesticadas pelos sindicatos amarelos e pelos partidos transgênicos do novo estilo.

Uns dizem que é preciso falar, outros que estão cansados de ouvir sempre o mesmo. Querem que lhe paguem pelas décadas contribuições e privações que tiveram de suportar.

“É um problema de comunicação”, dizem os palradores da TV. “O governo está a comunicar mal”, uma frase que em linguagem clara traduz-se por “O governo já não engana ninguém com palavrório nem promessas”.

“A reforma das pensões nunca marcha bem. A partir do momento em que o senhor põe as palavras “reforma” e “pensões” na mesma frase, mobiliza as pessoas”, disse ao primeiro-ministro um deputado do seu próprio partido.

“Para reformar-se é preciso saber um pouco sobre a vida, o trabalho e as dificuldades. Nossos ministros […] vivem na sua nuvem”, diz Philippe Martínez, o cacique maior da CGT (e desta vez tem razão).

Para fazer uma ideia de como estão os ânimos: ontem um jornal falava de “luta armada” dos sindicatos contra o governo, ou antes de uma “guerra popular prolongada”, porque alguns querem uma nova manifestação para a quinta-feira desta semana e a seguir outra para o sábado…

Fonte: Resistir.info