Por Sérgio Cabral Filho –
“Sérgio, aqui no palácio, tenho a sensação que 70% das minhas ordens não chegam na ponta. Se você não tiver obstinação, as tuas políticas públicas desejadas não acontecem, são muitas camadas até o resultado final“. Palavras do presidente Lula ao visitá-lo no Palácio do Planalto, após sua reeleição e minha eleição como governador, no final de outubro de 2006.
“A minha tranquilidade como Secretário do Tesouro Nacional era que quase nenhum ministério tinha a capacidade de gastar o que se propunha.” Palavras do meu Secretário da Fazenda, Joaquim Levy, descrevendo sua situação quando chefe do Tesouro Nacional.
Agora, temos uma falsa polêmica onde uma parte especulativa e mal intencionada do mercado financeiro dá eco crítico às palavras de Lula ao desejar realizações e obras. Como se fosse contraditório à gestão do estado brasileiro crescer com prudência anti-inflacionária. Ora bolas, cuidar da gestão fiscal não é sinônimo de sucateamento dos serviços públicos brasileiros, como vimos nos últimos anos no país.
Filas de milhões para o Bolsa Família, INSS, são exemplos chocantes. E o pior: o déficit público aumentou!
A sorte do Brasil é que Lula e Haddad não se impregnam por estímulos de confronto promovidos por parte da mídia e da elite brasileira.
Bill Clinton, nos EUA, fez a melhor gestão fiscal dos últimos 50 anos nos EUA, e fez o país crescer como nunca.
Lula durante seus 8 anos zerou a dívida com o FMI e gerou reservas cambiais jamais vistas no país.
O problema, para parte do andar de cima, licença ao mestre Gaspari, é que Lula pensa o tempo inteiro no andar de baixo. Aqueles que precisam de saúde pública, transporte público, mobilidade no ir e vir com vias decentes e trafegáveis, ensino de qualidade e para todos, segurança pública, combate à fome, geração de empregos, etc.
Criticam Lula por ele ter pressa. Ora bolas, ficaria chocado se fosse o contrário! 4 anos passam voando, e Lula sabe que se não impulsionar a máquina pública, ela é naturalmente letárgica.
Não há país do mundo civilizado em que o papel do Estado não seja relevante para o impulsionamento da economia. A turma do “laissez faire, laissez passer” se irrita com Luís Inácio que não se dobra e foca no andar de baixo. E a turma tem memória curta. Pois de 2003 a 2010, além da grandiosa inclusão de milhões de miseráveis e muito pobres no consumo, o capitalismo brasileiro nunca foi tão vibrante e competitivo como naquele período.
Sou suspeito para falar de Haddad. Convivi com ele como ministro da Educação. Fez uma revolução disruptiva na educação pública brasileira. É um quadro político com capacidade e inteligência emocional. Sempre disse a Lula que ele tinha em Haddad o seu melhor quadro em São Paulo.
Quando Lula foi preso, eu estava preso em Curitiba com quadros do PT, e disse a eles que Haddad seria o candidato a presidente. Alguns foram céticos.
Os dois não se contaminam com intrigas e falsos conflitos. A negociação, e mesmo conflito, são naturais entre a gestão econômica e financeira e as áreas finalísticas. Há no setor público como no setor privado. Sempre haverá.
Controle do déficit não é sinônimo de ausência de investimentos públicos, nem aqui, nem nos EUA, nem na China.
SÉRGIO CABRAL FILHO – Jornalista e Consultor Político da Tribuna da Imprensa Livre.
Instagram @sergiocabral_filho
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