Por Pedro do Coutto –
Excelente reportagem de Márcia De Chiara, Estado de S. Paulo desta segunda-feira, revela que os índices de inadimplência no país dispararam em virtude do aumento de preços e do congelamento de salários; 43% dos brasileiros e brasileiras encontram-se com pagamentos em atrasos numa escala impressionante, nunca antes atingida. A situação se agravou a partir de 2021, no governo Bolsonaro, e hoje atinge 70 milhões de pessoas com uma inadimplência média de R$ 1731.
Basta multiplicar o número de inadimplentes pela média dos pagamentos em atraso para se verificar que as dívidas ultrapassam R$ 100 milhões. São 43% dos brasileiros e brasileiras que devem e estão com seus pagamentos paralisados há mais de três meses. É o resultado da divergência fundamental entre a renda do trabalho e os verdadeiros índices da inflação brasileira. A inadimplência estende-se por diferentes setores, mas sobretudo, é claro, consequência dos cartões de crédito e cheques especiais oferecidos ao mercado.
JUROS ALTOS – A população se endivida e depois em face dos juros muito altos não tem como pagar. Os juros são altos a partir da taxa Selic, por exemplo, de 13,75% a cada 12 meses. Mas não são esses os juros mais altos do país. Os empréstimos bancários cobram 2,5% ao mês, incluindo os montantes temos uma cifra anual de 40%, pois se trata de juros sobre os juros.
Os salários estacionados, os juros nesse patamar e os preços também muito altos impedem o poder de consumo da população. Com isso, são comprometidas a produção de bens e a comercialização de modo geral, incluindo os supermercados. O IBGE calcula os índices da inflação com base nos preços mínimos, mas essa é uma fantasia.
Porque para praticar os preços mínimos, os consumidores e as consumidoras têm que se deslocar a, pelo menos, três ou quatro supermercados por dia. Os preços variam, faz parte da estratégia de venda. Aprendi isso em 1961, cobrindo para o Correio da Manhã, como repórter, a CPI da Alimentação requerida pelo senador Caiado de Castro.
PREÇOS MÉDIOS – Defendo sempre para o cálculo inflacionário que sejam adotados os preços médios e não os preços mínimos. Quando o café está com um preço menor num supermercado, o leite está com preço maior. Vale o exemplo. Mas o fato é que a matéria acentua o ponto nevrálgico da questão que está na perda do poder de compra e no endividamento.
Márcia De Chiara destaca também que o total em dinheiro do endividamento brasileiro acumulado, não só esse ano, mas em exercícios anteriores, alcança R$ 334,5 bilhões. As dívidas acumuladas através do tempo, apresentam um valor médio de R$ 4700. Sob o ângulo global é um desastre, pois tal importância está sem movimentação no país, já que as dívidas não se movimentam.
REGULAMENTAÇÃO – Angela Pinho e Renata Galf publicaram reportagem na edição de ontem da Folha de S. Paulo, afirmando que o projeto de lei do deputado Orlando Silva sobre as plataformas sociais da internet e das fake news somente prevê regulamentação desse espaço por um órgão ainda não definido. Na minha opinião trata-se de um arquivo da indefinição. Não há problema quanto a isso.
Basta aplicar em relação às plataformas a Lei de Imprensa que prevê o direito de resposta no mesmo espaço e com o mesmo destaque, e a aplicação do Código Civil, do Código Penal, das infrações legais previstas como o incitamento à violência. Não há problema nesse campo.
DESINFORMAÇÃO – Quanto às fake news, não se trata do mesmo problema do incitamento à violência. Trata-se de um malefício que tem que ser combatido. Se alguém espalha consequências danosas da vacina, está desinformando, praticando uma violação ética, moral e legal. Está influindo, a exemplo do que praticou o ex-presidente Bolsonaro, contra a saúde popular. Antes de qualquer processo à base da lei, deve ser movimentando o direito de resposta nas próprias plataformas.
É verdade que o dano causado antes da resposta pode se tornar muito grande, até que a resposta esclareça os fatos. Mas é o único caminho que antevejo para enfrentar o problema em escalas gradativas, até o ponto em que as fake news percam a sua credibilidade, como já tem ocorrido.
AUDIÊNCIA – A reportagem é de Nicolas Iory, O Globo de ontem, que afirma que a audiência das mensagens bolsonaristas nas redes sociais após os últimos fatos vem caindo acentuadamente. O sistema bolsonarista possuía diariamente 9,7 milhões de visualizações. Atualmente, a estatística caiu para 6,5 milhões.
O impulso bolsonarista nas redes sociais da internet, portanto, apresenta uma queda a qual, a meu ver, explica-se pelos acontecimentos recentes, destacando-se a invasão e depredação de Brasília, o problema das joias sauditas e da fraude no cartão de vacinação. Há também o grave problema envolvendo o ex-ministro da Justiça Anderson Torres.
PEDRO DO COUTTO é jornalista.
Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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