Por Jeferson Miola –
A Administração Biden vetou no Conselho de Segurança [18/4] a admissão da Palestina como membro pleno da ONU. A medida desrespeita a Resolução 181 de 29/11/1947 da própria ONU, aquela que arbitrariamente criou dois Estados às custas da partilha da Palestina.
Na prática, esta decisão significa que, do ponto de vista legal e formal, a Palestina continuará não existindo como um país soberano, e continuará sendo não-membro observador das Nações Unidas.
Esta condição absurda retira dos palestinos o poder de participar de instâncias relevantes da ONU, como o Conselho de Segurança, e de exercer prerrogativas legais, como votar e propor resoluções. E é, obviamente, algo totalmente kafkiano.
Além da Palestina, só o Vaticano tem o status de não-membro observador da ONU. Com a diferença, contudo, de que ao contrário da cidade-sede da Igreja Católica, os palestinos possuem uma população permanente e reconhecida étnica, histórica e culturalmente enquanto povo.
Os palestinos também possuem seu território milenar, que foi permanentemente espoliado e roubado pelos sionistas no marco da estratégia colonialista, em especial a partir dos anos 1920 do século passado. Os palestinos também elegem seus governos, que são desrespeitados por Israel. Além disso, são reconhecidos como Nação legítima e soberana por mais de 140 países.
O vice-embaixador dos EUA na ONU, Robert Wood, abusou da hipocrisia. Ao explicar o inexplicável, ele argumentou que os EUA não se opõem à criação de um Estado palestino, mas “apenas” defendem que o reconhecimento da Palestina deverá vir “de negociações diretas entre as partes”, ou seja, da concordância que nunca acontecerá do regime nazi-sionista de Israel, que neste exato momento está empenhado em executar a “solução final” de limpeza étnica com a inteira devastação dos territórios palestinos.
Dois dias depois do veto na ONU, em pleno sábado [20/4] o Congresso estadunidense aprovou a liberação de mais 26 bilhões de dólares para Israel acelerar o genocídio do povo palestino confinado no Gueto de Rafah.
A bestialidade israelense que já assassinou pelo menos 41 mil pessoas e deixou feridas mais de 76 mil, a imensa maioria delas crianças, mulheres e idosas, não poupa hospitais, escolas, igrejas, mesquitas, escritórios da ONU, ambulâncias, comboios de ajuda humanitária e residências das famílias.
Nem mesmo a memória arquitetônica é preservada, pois tudo deve ser inteiramente destruído. A ideia é fazer terra arrasada; apagar os mínimos resquícios da memória palestina; exterminar todos e quaisquer traços e reminiscências da “raça inferior”.
Neste empreendimento genocida, terrorista e criminoso, Israel conta com a solidariedade, o apoio e a cumplicidade integral do establishment estadunidense.
Os EUA não permitem a adoção de nenhuma solução política, negociada ou pacífica para superar esta terrível realidade, assim como vetam todas tentativas de cessar-fogo e de socorro humanitário aos palestinos.
O império estadunidense é responsável pelas maiores tragédias da humanidade, a começar pelo uso extemporâneo criminoso da bomba nuclear, detonada para afirmar seu poder mundial já quando não se fazia necessário; e, depois, nas sucessivas guerras, massacres e ataques a vários povos considerados inimigos ao redor do mundo.
O extermínio do povo palestino será uma das mais trágicas heranças do poder imperial que os EUA exercem no mundo. Dramaticamente, esta tragédia tem todas as condições de acontecer antes da chegada do fim deste poder imperial, que está em curso.
JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista desta Tribuna da Imprensa Livre. Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.
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