Redação –
Pelo menos quatro agentes da Polícia Federal participaram dos atos golpistas no domingo (8) e estão sendo investigados por isso. Dois vídeos obtidos pelo Congresso em Foco mostram o policial federal Fernando Honorato dentro do Supremo Tribunal Federal (STF) no momento em que o prédio era depredado pelos golpistas. “O povo quebrou tudo”, grita Honorato nos vídeos.
Veja abaixo:
Honorato não é um policial qualquer. Ele é uma liderança dentro da Polícia Federal. Foi presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Distrito Federal (Sindipol-DF) de 1995 a 2004. E chegou a ser investigado em 2005 por má gestão no sindicato. Em 2005, o sindicato contratou uma auditoria contábil para analisar as contas da gestão dele. “Ou moralizávamos ou fechávamos as portas”, diz uma nota do sindicato, divulgada em 27 de agosto de 2005.
Agora, nos vídeos, Fernando Honorato comemora as ações do “povo” no STF. No primeiro vídeo, ele está em frente ao STF, e registra o momento em que as pessoas sobem para o prédio para invadi-lo. O vídeo mostra que as pessoas pegaram as grades de proteção para usar como escadas para subir. “Tudo quebrado!”, comemora Honorato. “O povo está acusando os membros desse Supremo de corrupção. De canalhice e de safadeza”. E segue comemorando: “Olhem o que o povo fez”.
No segundo vídeo, Fernando Honorato está dentro do plenário do STF totalmente destroçado. Ou, como ele diz, “reduzido a lixo pelo povo”. O policial mostra então o cenário de destruição. O brazão dourado da República, que depois acabou sendo retirado, ainda está na parede atrás de onde fica a cadeira da presidente do STF, Rosa Weber, assim como o crucifixo de madeira.
O Congresso em Foco não conseguiu localizar a defesa do policial. O espaço está aberto caso ele queira se manifestar sobre o assunto.
O policial apagou os vídeos. Mas eles foram preservados na investigação. Além de Honorato, há pelo menos outros três policiais federais que estão sendo investigados.
“A Polícia Federal está completamente contaminada. Para a investigação, está sendo necessário tomar todos os cuidados na escolha de quem irá trabalhar por causa dessa infestação”, disse ao Congresso em Foco uma fonte da PF. O ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF Anderson Torres, cuja prisão foi pedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, é delegado da Polícia Federal. Segundo os indícios, Anderson Torres teria atuado para facilitar a invasão dos três principais prédios da República brasileira. Na casa de Anderson Torres, foi encontrada uma minuta de decreto de Bolsonaro para alterar o resultado da eleição.
Pastores, políticos, empresários
Das 1.700 pessoas que foram presas inicialmente, há ainda entre 800 a 900 pessoas que continuam presas. Por ordem do ministro do STF, Alexandre de Moraes, foram liberadas aquelas que tinham mais de 60 anos e que tinham comorbidades e precisavam de medicação constante (como hipertensos e diabéticos).
Os depoimentos colhidos já permitem uma série de conclusões. A primeira delas é que claramente tudo foi, desde o início, arquitetado para que os prédios fossem invadidos. Claramente não se tratou de algo espontâneo ocorrido no calor da manifestação. O plano era esse desde o início.
Os depoimentos também permitem chegar aos financiadores, cujos nomes estão sendo investigados. Como a investigação ainda está em andamento, a fonte do Congresso em Foco preservou os nomes. Segundo a fonte, porém, há entre os financiadores políticos, empresários (especialmente ligados ao agronegócio) e pastores evangélicos. A leitura dos depoimentos permite concluir que cerca de 80% das pessoas que participaram dos atos golpistas tiveram o seu deslocamento inteiramente pago pelos financiadores.
Um outro padrão que chamou a atenção é que,ao longo do domingo e da segunda-feira, foram chegando até o ginásio da Academia Nacional de Polícia, onde os presos foram colocados, advogados mais experientes, vindos de São Paulo, do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Antes desses advogados chegarem, foi possível tirar mais informações. Depois, eles começaram a ser orientados a permanecer em silêncio.
“Voou bomba de tudo quanto é lado”
Em poucos depoimentos, os presos admitiam ter depredado os prédios. Mas vários admitiram que viajaram de graça, deram informações sobre os financiadores e ter participado das invasões dos prédios. Foi feito um formulário padrão para cada um dos presos responder. Aqueles que, a partir daí, davam mais informações, eram levados para dar um outro depoimento mais detalhado.
“Não pagou. Não sabe de quem era o ônibus”, diz um dos depoimentos visto pelo Congresso em Foco. Sobre os autores da depredação, diz outro depoimento: “Estavam usando máscara. Voou bomba de tudo quanto é lado”. Há depoimentos em que os presos admitem ter obtido ajuda para entrar no Palácio do Planalto. De pessoas fardadas. Investiga-se se eram do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) ou da Polícia Militar.
Ao contrário do que se tentou dizer, a grande maioria dos presos tinha menos de 40 anos. Somente 4% deles eram idosos. Entre os ditos “patriotas”, havia gente com ficha criminal por tráfico de drogas e por agressões pela Lei Maria da Penha.
Uma arma – um revólver 380 Magnun – roubada de uma sala do GSI foi recuperada. Também foram recuperados cadernos com capa de couro utilizados pelos ministros nas sessões do STF. E um notebook com placa de patrimônio também do Supremo.
Constituição
O exemplar da Constituição brasileira com as assinaturas dos constituintes (na verdade, uma réplica) também foi encontrado. Ele foi levado por Marcelo Fernandes, um mineiro da cidade de São Lourenço. Embora ele alegue que pegou o livro para tentar preservá-lo no meio da quebradeira, a Polícia Federal tem indícios de que foi ele mesmo quem quebrou o vidro do móvel no qual o livro era exposto.
Neste momento, está havendo uma negociação para que Marcelo Fernandes devolva o livro. Em São Lourenço, não há delegacia da Polícia Federal. Então, a negociação é para que ele leve o livro até a cidade de Varginha, onde há uma delegacia.
Veja a lista de pessoas e empresas apontadas pela AGU como financiadoras dos atos golpistas
A Advocacia-Geral da União pediu à Justiça Federal que bloqueie R$ 6,5 milhões em bens de 52 pessoas físicas e sete empresas acusadas de financiar o transporte de golpistas que invadiram e depredaram as sedes dos três poderes em Brasília no domingo passado (8). Segundo a AGU, o grupo teve “papel decisivo no desenrolar fático” dos atentados contra o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto e, por isso, deve responder pelos danos causados ao patrimônio público em caso de condenação judicial.
O espaço está aberto para a manifestação das pessoas e empresas citadas.
Abaixo, a relação das pessoas físicas apontadas pela AGU como financiadoras de atos golpistas:
Adailton Gomes Vidal, de São Paulo (SP)
Ademir Luis Graeff, de Missal (PR)
Adoilto Fernandes Coronel, de Maracaju (MS)
Adriane de Casia Schmatz Hagemann, de Realeza (PR)
Adriano Luis Cansi, de Cascavel (PR)
Alethea Veruska, de São José dos Campos (SP)
Amir Roberto El Dine, de Porto União (SC)
Aparecida Solange Zanini, de Três Lagoas (MS)
Bruno Marcos de Souza Campos, de Belo Horizonte (MG)
Carlos Eduardo Oliveira, de São Pedro (SP)
Cesar Pagatini, de Bento Gonçalves (RS)
Claudia Reis de Andrade, de Juiz de Fora (MG)
Daniela Bernardo Bussolotti, de Belo Horizonte (MG)
Dyego Primolan Rocha, de Presidente Prudente (SP)
Fernando José Ribeiro Casaca, de São Vicente (SP)
Franciely Sulamita de Faria, de Nova Ponte (MG)
Genival Jose da Silva, de Ribeirão Preto (SP)
Hilma Schumacher, de Belo Horizonte (MG)
Jasson Ferreira Lima, de Paracatu (MG)
Jean Franco de Souza, de Mirassol (SP)
João Carlos Baldan, de São José do Rio Preto (SP)
Jorge Rodrigues Cunha, de Pilar do Sul (SP)
José de Oliveira, de Bom Jesus dos Perdões (SP)
José Roberto Bacarin, de Cianorte (PR)
Josiany Duque Gomes Simas, de Cuiabá (MT)
Leomar Schinemann, de Guarapuava (PR)
Marcelo Panho, de Iguaçu (PR)
Marcia Regina Rodrigues, de Ribeirão Preto (SP)
Márcio Vinícius Carvalho Coelho, de Marília (SP)
Marco Antonio de Souza, de Leme (SP)
Marcos Oliveira Queiroz, de São Paulo (SP)
Marlon Diego de Oliveira, de Tupã (SP)
Michely Paiva Alves, de Limeira (SP)
Monica Regina Antoniazi, de Piracicaba (SP)
Nelma Barros Braga Perovani, de Piratininga (SP)
Nelson Eufrosino, de Piratininga (SP)
Pablo Henrique da Silva Santos, de Belo Horizonte (MG)
Patricia dos Santos Alberto Lima, de Belo Horizonte (MG)
Pedro Luis Kurunczi, de Londrina (PR)
Rafael da Silva, de Catalão (GO)
Rieny Munhoz Marcula, de Campinas (SP)
Rosângela de Macedo Souza, de Riolândia (SP)
Ruti Machado da Silva, de Nova Londrina (PR)
Sandra Nunes de Aquino, de Sorocaba (SP)
Sheila Mantovanni, de Mogi das Cruzes (SP)
Stefanus Alexssandro Franca Nogueira, de Ponta Grossa (PR)
Sulani da Luz Antunes Santos, de Vinhedo (SP)
Terezinha de Fátima Issa da Silva, de Caxias do Sul (RS)
Vanderson Alves Nunes, de Francisco Beltrão (PR)
William Bonfim Norte, de Promissão (SP)
Yres Guimarães, de Rio Verde (GO)
Zilda Aparecida Dias, de Rio Claro (SP)
Abaixo, as empresas apontadas pela AGU como financiadoras dos atos golpistas.
Alves Transportes LTDA., de Araguaína (TO)
Associação Direita Cornélio Procópio, de Cornélio Procópio (PR)
Gran Brasil Viagens e Turismo LTDA., de Frutal (MG)
Primavera Tur Transporte EIRELI, de Primavera do Leste (MT)
RV da Silva Serviços Florestais LTDA, de Piraí do Sul (PR)
Sindicato Rural de Castro, de Castro (PR)
Squad Viagens e Turismo LTDA., de Cariacica (ES)
Segundo a AGU, a lista dos alvos do bloqueio, que abrange imóveis, veículos, valores financeiros em contas e outros bens, foi elaborada com o auxílio de dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e inclui apenas os que contrataram ônibus apreendidos transportando pessoas que participaram dos atos golpistas.
No pedido de cautelar apresentado à Justiça, a AGU defende que os envolvidos respondam pelos danos solidariamente com os depredadores efetivos, nos termos do Código Civil, uma vez que a “a aglomeração de pessoas com fins não pacíficos só foi possível graças ao financiamento e atuação das pessoas listadas no polo passivo, o que culminou nos atos de vandalismo às dependências dos três Poderes da República” e no “vultoso prejuízo material” causado aos prédios públicos federais, “consubstanciado na quebra de objetos e itens mobiliários, a exemplo de computadores, mesas, cadeiras, vidros das fachadas e até a danificação de obras de artes e objetos de valores inestimáveis à cultura e à história Brasileira”.
A AGU ressalta que o valor do bloqueio é preliminar, porque os prejuízos causados pelos atos golpistas ainda não foram integralmente calculados. Estimativas iniciais do Senado e da Câmara apontam prejuízo de R$ 3,5 milhões e de R$ 3,03 milhões em cada casa, respectivamente. Ainda não há previsão do valor do dano no Supremo Tribunal Federal nem no Planalto.
A Advocacia-Geral também argumentou que a medida cautelar era necessária considerando “a gravidade dos fatos praticados e nos quais os réus se envolveram”, uma vez que, além de “lesar o patrimônio público federal”, os atos “implicaram ameaça real ao regime democrático brasileiro” que “impõe uma resposta célere e efetiva, sob pena de comprometer o sistema de justiça e sua efetividade, autorizando, assim, o magistrado a lançar mão do seu poder geral de cautela” para assegurar a eficácia de eventual condenação de ressarcimento no futuro.
Fonte: Congresso em Foco
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