Por Miranda Sá

“A maior decepção que o homem sofre advém das suas próprias opiniões”. (Leonardo da Vinci)

Não lembro bem, mas acho que já se vão dois anos que escrevi sobre a Ética. Entretanto, nesta época que atravessamos, vale a pena voltar a discutir o tema como um dever cidadão perante todos os seres da Natureza.

A polêmica é necessária porque em certos círculos, principalmente entre os membros da Confraria Internacional da Mediocridade, desprezam a participação humana como protagonista pensante no meio ambiente. Para oportunistas e carreiristas políticos e religiosos só há preocupação ética para usar o seu clone hipócrita no mundo da chicana.

Encontramos, por exemplo, a vertente diversionista nas religiões, cujas filosofias discursivas parecem diferentes, mas convergem na mesma defesa de um falso comportamento ético, “como um conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos estão olhando” conforme ironizou Oscar Wilde.

Perdoem-me os fanáticos pelas simulações feitas em nome da religião, mas a História da Civilização registra, não por simples coincidência, que muitas lendas e mitos da Bíblia são apenas cópias de textos antigos, como a passagem do dilúvio encontrada numa taboa sumeriana de 6.000 anos, que conta, tim-tim por tim-tim, a mesma história….

Por causa de um artigo que escrevi recentemente, uma senhora, até então por mim desconhecida entre os usuários do Twitter, escreveu que repudiava meus textos por serem contrários à religião.

Nunca foi preocupação minha discutir, e muito menos combater a religião. Discuto, às vezes, interpretações bíblicas, como o fiz comparando o Deus do velho testamento e o Deus cristão. Um vingativo e outro de infinita bondade. Então, encaminho a crítica recebida ao pensamento de Martin Luther King dizendo que “a religião mal-entendida é uma febre que pode terminar em delírio”.

Considero, portanto, que nenhuma manifestação de ignorante fanatismo pode nos dar lições de ética e muito menos de moral. Está na formação de cada um o comportamento pessoal diante do meio ambiente, pelo amor ao próximo, aos animais e às plantas.

É assim que deve se formar o caráter. Ética e Moral não estão à venda nas lojas de conveniência. Este modo de ver o comportamento parece ultrapassado para algumas pessoas, como as antigas valsas vienenses ou o maxixe, pai do samba, encontrados apenas nos velhos vinis da RCA Victor…

Quem não é filho de chocadeira e os que alisaram os bancos escolares, aprenderam que o “homo sapiens” atravessou 600 mil anos sem escrita, sem química e sem máquinas, vivendo exclusivamente do que a Natureza lhe oferecia.

Os que se julgam superiores sobre tudo, chegando a assumir presunçosamente uma imagem e semelhança de Deus, vivem apenas uma ilusão. São incapazes de racionar como o mestre em História Antiga, Ivar Lissner, que a pessoa humana não é de modo algum indispensável ao cosmos.  Lissner escreveu: ”A Terra continuará a girar em torno do Sol, mesmo que o homem deixe de existir”.

Quem admite esta visão científica admite, também, que a morte não interrompe a continuidade da vida dos demais; traz somente a lamentável constatação de que o homem é o único animal que sabe que vai morrer um dia…. Realidade que Voltaire lamentou: – “Triste destino! ”.

A pandemia do novo coronavírus trouxe esse destino violentamente ao Brasil graças à estupidez negacionista do capitão Bolsonaro feroz ativista anti-vacina e, por isso, acusado de genocídio.

Neste lamentável cenário deve-se desviar o olhar para a Natureza e ponderar que somente a Ética Universal é o caminho do bem. Àqueles que não respeitam o Meio Ambiente nem a vida humana, por convicções ideológicas, fanatismo religioso ou lucrativa ganância, estão fadados a sofrer o que está preconizado no Torá:

“A própria consciência é o mais feroz acusador do culpado”.

MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.


Tribuna recomenda!

NOTA DO EDITOR: Quem conhece o professor Ricardo Cravo Albin, autor do recém lançado “Pandemia e Pandemônio” sabe bem que desde o ano passado ele vêm escrevendo dezenas de textos, todos publicados aqui na coluna, alertando para os riscos da desobediência civil e do insultuoso desprezo de multidões de pessoas a contrariar normas de higiene sanitária apregoadas com veemência por tantas autoridades responsáveis. Sabe também da máxima que apregoa: “entre a economia e uma vida, jamais deveria haver dúvida: a vida, sempre e sempre o ser humano, feito à imagem de Deus” (Daniel Mazola). Crédito: Iluska Lopes/Tribuna da Imprensa Livre.