Por Carlos Newton –
Quando a gente diz que o Brasil tem a política mais surrealista do mundo, há quem ache exagerada essa afirmação. Mas realmente não há nada igual no mundo. Mal acabou a eleição e o trêfego PL, um partido de quinta categoria, que graças a Jair Bolsonaro se tornou o maior do país, com 99 deputados, 14 senadores e três governadores, já se prepara para apoiar o governo petista.
Em qualquer outro lugar, uma notícia desse tipo causaria estupefação e comoção nacional. Aqui no Brasil, muito pelo contrário, o apoio do PL a Lula da Silva parece fazer parte do novo normal – a esculhambação completa.
NÃO É FAKE NEWS – A notícia tem base na realidade. Não se trata de uma nova fake news para desorientar ainda mais o presidente Jair Bolsonaro, que perdeu o rumo de casa e não sabe o que fazer da vida.
O mais interessante é a justificativa. A mídia especula que o presidente e dono do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, que nesta semana se reunirá com o presidente eleito Lula da Silva, deve negociar com o PT a indicação do futuro líder do governo no Senado, em troca do apoio à recondução de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) à presidência do Congresso. De acordo com informações do site O Antagonista, em contrapartida o PL faria o sucessor de Pacheco daqui a dois anos, quando o senador mineiro estará impedido de se reeleger.
Sinceramente, é muito pouco para o PL – é preciso incluir nessa negociação grande número de cargos federais com autonomia financeira, que atuem na liberação de recursos, se é que vocês me entendem, como dizia Maneco Müller, o famoso Jacinto de Thormes.
SÃO IGUAIS – A aproximação ao PT não é nenhuma surpresa e será o principal assunto da coletiva que o presidente do PL dará nesta terça-feira, dia 8.
Na verdade, há forte identificação entre Costa Neto e Lula. São almas gêmeas, ambos enriquecidos ilicitamente, que cumpriram penas por corrupção e lavagem de dinheiro – Costa Neto, no mensalão do PT, e Lula, na Lava Jato.
Na vida privada, também demonstram as mesmas falhas de caráter, exploradas pela imprensa nos casos da segunda-dama de Lula, Rosemary Noronha, e da terceira mulher de Costa Neto, a socialite Christina Mendes Caldeira, que depôs contra ele na CPI do Mensalão.
CONSTRANGIMENTO – Lula e Valdemar devem se reunir em Brasília no decorrer da semana, depois de o petista voltar da viagem à Bahia.
Essa aproximação entre os dois vai constranger o ainda presidente Jair Bolsonaro, que não pretende deixar o PL, não somente pelo pagamento do salário mensal que vai receber a partir de janeiro, mas também pelo aluguel da luxuosa casa onde morará em Brasília e pelo pagamento dos advogados que o defenderão nos múltiplos processos criminais a que responde.
Ou seja, com a maior sem-cerimônia, Costa Neto já conseguiu emparedar Jair Bolsonaro.
ENFRAQUECER LIRA – Ainda de acordo com as especulações da imprensa, o acordo com o PL é fundamental para o PT enfraquecer o atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que estaria interessado em formar uma coalizão para fazer oposição ao próximo governo.
Neste novo normal petista, o próprio Lira terá de ceder a Lula, caso queira apoio para a reeleição à presidência da Câmara. Aliás, não é por mera coincidência que Lira irá se reunir com Lula ainda esta semana, para colocar o PP no colo do novo presidente.
Como o União Brasil, de Luciano Bivar, também sinaliza apoio ao governo Lula, será surrealisticamente implodida a tal frente de oposição ao presidente petista.
P.S. – Deve-se destacar a lucidez do governador gaúcho Eduardo Leite, que defende a permanência do PSDB na oposição ao governo Lula. Essa situação pode pavimentar o caminho do novo líder tucano rumo à Presidência em 2026. E assim vamos em frente.
CARLOS NEWTON é jornalista, editor do blog Tribuna da Internet.
Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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