Por Bolivar Meirelles

Eu escrevo este artigo. Muitos e muitas estão escrevendo, pensando, se despedindo. Escrever sobre Eduardo Chuahy eu posso. Quase necessária vontade a ser exercida por mim. Vários e várias testemunhas de minha presença em São Conrado, em seu apartamento. Lá na sua residência ou no “Shopping” em frente, corriqueiramente, nos encontrávamos, os dois a tomar café.

Chuahy não era pessoa de bebidas alcoólicas, de orgias alimentares. Refeições leves. Ultimamente privado de sal. Algumas vezes, por seu insistente convite ficava e, juntos, sentados em uma cadeira cada ao entorno de sua circular mesa, consumimos diferentes alimentos, almoço ou jantar, eu ao sal e ele sem qualquer desse veneno a ele, bem pensado, a nós outros também. Muita fruta! Muito legume. Política, seu prato principal. Sua sobremesa principal, falar com afeto infinito de suas duas filhas. Uma residindo nos Estados Unidos da América do Norte. Outra morando, ultimamente, na Alemanha. Saudades das filhas e de uma neta e três netos. Mãe, pai, irmãos, irmãs. Homem de forte ligação familiar. Talvez por sua origem Síria. Borbulhava em seu ódio ao Estado de Israel opressor ao Povo Palestino. Ódio as investidas bélicas dos EUA. Netos e neta norteameticanos profundamente amados. Filhas casadas com norteamericanos. Políticos, vários…seu foco principal, Stalin. Sabor, desejo jamais deixado. Não não precisou das revisões críticas de Losurdo, autor italiano que, recentemente, ressuscitou o Comandante Soviético que derrotou a Alemanha Nazista. Certamente nunca leu Losurdo. Sempre se referia a Rússia atual como União Soviética. Nesse aspecto, sempre acordes, ele e eu. Político brasileiro,… João Goulart, também acordes ele e eu. Felizmente João Goulart seu preferido. Falar em Getúlio Vargas já lhe causava elogios e a mim severas críticas ao Estado Novo, nunca dispensei o Ditador Fascistoide que buscou em Salazar o nome de Estado Novo. Dutra, Góes Monteiro e Filinto Muller, terríveis agentes de Getúlio Vargas, ele esquecia e via, somente, benéficas Reformas do período extremamente autoritário defensor dos interesses da Burguesia Industrial emergente. Questões de divergências. Valia a mim e a ele, sempre a interminável conversa por vezes repetida. Melhor, permanece o diálogo interminável entre dois camaradas que, em certo período, militares e militantes, juntos, no Partido Comunista Brasileiro, o PCB, o Partidão.

Fomos, ele já Capitão do Exército, eu um simples Segundo Tenente, atingidos pelo então ato Institucional único do Regime Militar Ditatorial implantado pelo Golpe de Estado de 1964. Demitidos do Exército. Encontrei Eduardo Chuahy em 1964 na cidade do Rio de Janeiro, ele vindo de Brasília e eu de Goiânia. Quinto andar do Prédio do Amarelinho na Cinelândia, escritório oficialmente de Marcello Alencar. Eu com 24 anos de idade, ele com 31 anos. Ambos firmes e fortes. Eu uma espécie de “pombo correio” alimentando sonhos de revanche junto ao Governador de Goiás, Mauro Borges Teixeira, ele, espécie de “pombo correio”, junto ao Governador de São Paulo Ademar de Barros. Eu, menos conhecido não cheguei a ser preso, ele, muito mais conhecido, havia sido Ajudante de Ordens, competente e responsável, do General Assis Brasil, esse Irresponsável Chefe do Gabinete Militar do grande Presidente João Goulart. Chuahy chegou sim a ser preso e torturado em São Paulo. Nunca fraquejou seu ânimo, no entanto, na prisão. Manteve-se firme. Lembro-me, de uma feita, tendo eu de me afastar do Rio de Janeiro, quiseram me envolver em bomba lançada, provocativamente, pela direita golpista no Cine Bruni e por outra em um trem que conduzia o Governador Carlos Lacerda. Prenderam o Kardec Lemme e o Joaquim Ignácio Cardoso. A Cléo, esposa do Joaquim Ignácio marcou encontro comigo e me avisou que eu estava na lista a ser preso pela Polícia do Exército. Escapei, troquei da casa de minha mãe pela de uma de minhas irmãs casada a época com um afilhado Político do Golberi do Couto e Silva. Me deram guarida. Reconheço isso ao então meu cunhado e, no dia seguinte, lá estava eu pegando um ônibus com destino a São Paulo. Recebido na estação por ex militar, Plinio, amigo do Eduardo Chuahy. Fui levado ao aparelho onde o Chuahy se encontrava, pernoitei, desconhecido saí, pela manhã, para comprar pão integral, assumi a técnica de fazer ovo frito do Chuahy e fui levado para um aparelho na Praia Grande. Imagine como errei, sair do Rio de Janeiro e ir para um local onde eu e o companheiro de estadia éramos “corpos” estranhos naquele balneário paulista. Não me cabe aqui descrever toda a trajetória Política e Administrativa desse camarada: fundador do PDT com Brizola; Secretário Municipal de Fazenda de Marcello Alencar; Deputado Estadual inicialmente, primeiro mandato com apoio, dentre outros, de Luiz Carlos Prestes; Líder da Bancada do PDT; Presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro; assumiu, por alguns dias o Governo do Estado do Rio de Janeiro; Presidente do Departamento de Trânsito do Estado do Rio de Janeiro. Formado em Economia; especializado em Administração Pública na Escola Brasileira de Administração Pública.

Esse amigo que construí na vida, digo com todo e tranquilo vigor, nunca abriu espaço para trabalhar com ele. Vc Nossa relação foi muito mais construída, e talvez por isso bem forte, nas lutas políticas. Quando fiz sua campanha Política em 1982 para Deputado Estadual pelo PDT foi em função do apoio de Luiz Carlos Prestes. Quem sabe mensurar s minha relação com o Eduardo Chuahy é a própria família dele, mulher e filhas. Bem como o motorista e as apoiadoras, funcionárias domésticas. Eduardo Chuahy vive! Deixa vir a vacina, essa Covid 19 ser derrotada e lá nos encontraremos de novo para discutir os velhos temas. Roubando de Machado de Assis ao despedir-se de sua companheira Carolina, adaptemos a mim e ao Chuai.

Serve também aos outros amigos e amigas conquistado por esse grande Articulador Político. Até o pós Pandemia. Presente! Tomaremos vários outros cafezinhos e sentarei ao entorno de sua mesa. Você comendo sua comida sem sal mas, oferecendo ao visitante a comida temperada.


BOLIVAR MARINHO SOARES DE MEIRELLES – General de Brigada Reformado, Cientista Social, Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre, Mestre em Administração Pública, Doutor em Ciências em Engenharia de Produção, Pós Doutor em História Política, Presidente da Casa da América Latina e Colunista do Caminhando Jornal TV (TVC-Rio).