Por Ricardo Cravo Albin –
O Brasil vem observando, desde o começo da pandemia, as persistentes e corretíssimas observações de duas médicas e cientistas, Margareth Dalcolmo e Natalia Pasternak.
Muitas vezes, o Ministério da Saúde e algumas autoridades irresponsáveis deram de ombros com as recomendações e cautelas dessas duas grandes mulheres. Debalde. Porque o tempo corre, a pandemia retrocede e avança, involui ou progride, e as médicas, como grandes mães protetoras e cautelosas, estarão sempre com a razão.
Vários países da Europa se abriram e se fecharam. O ciclo maligno parece girar como uma roda gigante, sobe e desce, desce e sobe.
Escrevi aqui neste espaço há menos de seis meses que ao voltar de Alagoas – onde lancei o livro “Pandemia e Pandemônio” – sentei-me ao lado de cientista brasileiro, da Universidade de Harvard, infelizmente já com nacionalidade americana (evasão de cérebros, meus caros… uma constante tragédia nacional) que me declarou quase entre dentes e baixinho, como se não quisesse ser ouvido por outros passageiros: “nosso grupo de cientistas de Harvard, agregado a uma elite de médicos do Reino Unido, traçou uma previsão bastante sombria para o futuro desta pandemia. Ela não vai acabar. Irá seguindo um extremamente perigoso caminho de mutações, mais, ou menos, letais, para se estabilizar como uma gripe sazonal, que obrigará o mundo inteiro a construir barreiras sanitárias para evitar sua propagação. Ou seja, as possibilidades mais objetivas serão de muitas infecções ainda por vir, acompanhadas de óbitos, esses talvez controlados mais severamente por medicamentos que todos estamos pesquisando. Algo próximo ao que conhecemos hoje como vacinas”. Margareth Dalcolmo lançou livro precioso, um sucesso nas livrarias do Brasil. E me parece que também Natalia Pasternak teria publicado livro a remeter a essas preocupações e a reclamar do abandono das cautelas e precauções, palavras permanentes de advertências de ambas em centenas de entrevistas nos jornais, rádios e, sobretudo televisões. Aliás, Natalia chama a atenção em artigo recente: “Pouca gente sabe, mas na pandemia de gripe espanhola houve uma quarta onda de casos e muitas mortes inesperadas em 1920. Os números eram tão altos como nas ondas anteriores, mas as notícias nos jornais não saiam mais nas primeiras páginas, e as pessoas, já cansadas da pandemia, não estavam dispostas a obedecer às medidas de restrição”.
E conclui sabiamente: “Vivemos hoje uma situação parecida. O senso comum de agora é que a pandemia acabou. Quem pede cautela é logo acenado de alarmista!”.
A cidade do Rio está a querer provar uma contradição, a de que está à frente de seu tempo. Tanto que o prefeito Eduardo Paes anunciou há dias o fim do uso obrigatório de máscaras em qualquer ambiente aberto ou fechado. São Paulo no dia seguinte divulgou notícia que copiava o bom humor e a “cega” confiança do Rio na pulverização da pandemia. São Paulo, contudo, foi conclusivo ao ordenar: máscaras não mais em ambientes abertos, mantendo seu uso obrigatório em bares, cinemas, ônibus e lugares onde pessoas se aglomeram às outras, em especial blocos de carnaval e festas irresponsáveis de jovens.
É evidente que ninguém gosta de usar máscara. A mim, por exemplo, é detestável, até porque me sufoca e me faz desconfortável. Mas eu mantenho a mascara ao rosto, com a mesma assiduidade como lavo os dentes, uso cueca e lenço ao bolso, ou não uso camisas sujas.
Devo logo dizer que gosto de Eduardo Paes, votei nele, fui amigo de seu pai. Além de considerar o assessor Marcelo Calero como uma das melhores vocações de homem público, em quem depositei voto para deputado federal. Igualmente cabe avaliar que uma volta da pandemia será fatal para os candidatos e/ou seus aliados às próximas eleições.
Então, pergunto eu, até ingenuamente: “Os políticos estarão se arriscando por demais ao fazerem o papel de bonzinhos? E a comiseração por um eventual recrudescimento das infecções, quem se responsabilizará por isso?”
O importante será observar que, apesar de os números estarem em queda depois do ataque maciço da Ômicron, há incerteza sobre o grau de imunidade conferido pelas infecções às novas variantes. O Brasil é enorme e há disparidade entre regiões e cidades.
O momento ainda não recomenda o “liberou geral”. Os políticos não querem se lembrar de que 400 brasileiros ainda morrem a cada dia.
Nesse cenário, seria sensato (e deveria ser obrigatório) o uso de máscaras em qualquer ambiente fechado.
Eu uso! Encareço que você também use.
***
P.S.1 – A posse da nova diretoria da ABL com Merval Pereira a frente mereceu discurso do empossado analisando com coragem e sabedoria a situação e a literatura do Brasil.
P.S.2 – A que se seguiu o belo discurso de Ruy Castro, detentor do Prêmio Machado de Assis, entregue ao vencedor por Arnaldo Niskier. Na verdade, um discurso muito parecido a um enorme afago à ABL, depois da entrevista problemática a que ele foi induzido com má-fé pelo programa Roda Viva, da TV Cultura de São Paulo.
P.S.3 – Está praticamente fechado um produto originalíssimo para celebrar o Bicentenário da Independência do Brasil. Trata-se de livro de sete escritores famosos com retratos originais do Emancipador Pedro I, nosso herói nacional. O livro embute uma absoluta novidade: um CD recém-preparado com o melhor da obra de Pedro I, até então desconhecido no mundo como compositor. O Livro-CD patrocinado pela FAPERJ irá para todas as embaixadas do Brasil no exterior, enviados pelo governador Claudio de Castro.
RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
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