Redação

Acuado pela CPI da Covid, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não desistiu de tentar criar um canal de diálogo com o senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da comissão. Com isso, busca-se evitar um maior desgaste na imagem do governo federal.

A intenção é evitar uma ofensiva contra o governo por equívocos cometidos no combate à pandemia do novo coronavírus. Nesta terça-feira, dia 27, o colegiado deu início aos trabalhos. Bolsonaro, após ter falhado em investidas anteriores de aproximação com o relator da CPI, aposta agora na relação de amizade do congressista alagoano com o presidente nacional do PP, o senador Ciro Nogueira (PI), aliado do Planalto e também integrante da CPI.

MEDIAÇÃO – Segundo relato feito à Folha, Bolsonaro entrou em contato com Nogueira, de quem se tornou aliado após a entrada do Centrão na base aliada, e pediu ao dirigente partidário que ajude, como uma espécie de mediador, a arrefecer os ânimos de Renan em relação ao Palácio do Planalto.

O alagoano, que na primeira sessão deu recados duros ao Poder Executivo, irritou-se com medida judicial ingressada pela deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), aliada do governo, para que o senador fosse impedido de se tornar relator.

O pedido, que foi inicialmente concedido por um juiz federal do Distrito Federal na segunda-feira, dia 26 (26), acabou reformado. O TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) derrubou a decisão liminar (provisória) nesta terça-feira.

RELAÇÃO HARMÔNICA – Na semana passada, segundo assessores palacianos, Nogueira informou a auxiliares do presidente que tem uma relação harmônica com Renan. O senador aliado disse ainda que, como integrante da comissão, adotará postura de prudência e equilíbrio, sem entrar em embate direto nem com o presidente, Omar Aziz (PSD-AM), nem com o relator da CPI.

A posição de Nogueira, de acordo com senadores aliados, deve-se também ao seu posto como dirigente partidário. Com a aproximação da disputa eleitoral de 2022, o cacique do PP, que também é responsável por acordos estaduais, não pode adotar postura combativa que feche portas para alianças regionais.

A indicação feita pelo senador de que adotará um perfil moderado estimulou Bolsonaro a recorrer a Nogueira para tentar apaziguar os embates com Renan.O Palácio do Planalto já havia procurado o ex-presidente José Sarney (MDB) e o governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), para tentar se aproximar do relator. Porém, até o momento, não obteve êxito.

VOTO COMBINADO – Segundo um articulador político de Bolsonaro, o voto de Nogueira para que Aziz se tornasse presidente da CPI da Covid foi combinado com o Planalto e propositalmente anunciado pelo próprio líder do Centrão.

“Eu votei no senhor. O senhor me pediu e eu vou entrar na minha vida pública e sair dela cumprindo minha palavra. Um dos motivos que eu votei no senhor foi o que o senhor me disse que será um presidente imparcial”, disse Nogueira a Aziz na sessão da comissão nesta terça-feira. O candidato que agradava mais o governo, senador Eduardo Girão (Podemos-CE), obteve três votos, enquanto Aziz foi eleito por oito de seus colegas. A comissão é formada por 11 titulares.

O senador aliado de Bolsonaro também fez, durante a sessão da comissão, um gesto público a Renan. Posteriormente, o colega alagoano correspondeu, com elogios ao dirigente nacional do PP. “Agora, neste exato momento, eu não vejo obstáculo nenhum de o senhor ser relator da CPI”, afirmou Nogueira, que, procurado pela Folha, não quis se manifestar.


Fonte: Folha de SP