Por Miranda Sá –
Virou moda na literatura, nos filmes e séries de televisão e o dragão está presente na vida cotidiana, apresentando-se com cores e tamanhos diversos, reptilianos anfíbios ou alados.
Como verbete dicionarizado, Dragão é um substantivo masculino de etimologia grega (drákōn) e latina (draco, -onis), significando um ser fabuloso com representações mitológicas abundantes e variadas.
Nas religiões ocidentais, o Dragão simboliza o mal e as tendências demoníacas, encontrado na Bíblia (Apocalipse 12:17); e o dragão oriental possui o significado de sabedoria, força, poder, proteção e riqueza, usado nas tatuagens corporais.
Há poucas diferenças entre os dragões das mitologias chinesa e japonesa e os de outras mitologias orientais. Os japoneses têm três garras em seus pés ao invés de quatro, como os chineses e coreanos.
Na mitologia greco-romana o dragão protege o Jardim das Hespérides, que guarda o Tosão de Ouro, e no mito germânico de Siegfried possui o tesouro da imortalidade; e na teologia cristã é associado à serpente e simboliza o mal que é vencido por Cristo.
No cinema aparece nos clássicos “Smaug” da trilogia “O Hobbit”, “Banguela” no desenho “Como Treinar o Seu Dragão”, “Draco” em “Coração de Dragão”, e com Harry Porter n’ “O Cálice de Fogo” e nas antológicas séries de tevê “Game of Thrones” e “A Casa do Dragão”.
O Dragão é também configurado no dicionário, numa extensão pejorativa que representa uma pessoa feia e um Indivíduo de má índole, com quem é impossível conviver e respeitar, levando-nos a estender esta última definição para muitos políticos brasileiros.
Entre nós assiste-se uma fantástica luta de dragões num hipotético espaço cênico das lendas indianas como os vemos desenhados no Bhagavad Gita descrevendo os planos diferentes da realidade. Na repulsiva polarização que se impõe no Brasil, a simulada disputa entre Bolsonaro e Lula é o exemplo mais-do-que-perfeito disto.
Dragões do mal, personalizados pelo egocentrismo, a deformação ideológica e o discurso de ódio que identifica os seus estúpidos seguidores. Escamados de populismo e expelindo fogo e fraudes pela boca estes dragões políticos fingem se digladiar, sendo, embora, iguais pelo avesso, cara e coroa da mesma moeda.
Os brasileiros esclarecidos, independentes do fascínio do oportunismo e do culto à personalidade repudiam a esquemática perversão dos cordões azul e encarnado que a imprensa venal incute e encuca nos analfabetos políticos.
Estes dragões da falsa direita e da falsa esquerda são enfrentados nas redes sociais e não é por acaso que se unem para persegui-las, censurando-as e ameaçando os seus críticos. O fingido conflito entre Bolsonaro e Lula visa apenas a alternância entre os dois no poder, sem atender as reais necessidades do País e as reivindicações nacionais.
Tal encenação deve ser combatida sem trégua. Lutar contra a nefasta polarização exige vislumbrar o radiante alerta que nos trouxe profeticamente o escritor José Saramago dizendo que “a única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas, não serve de nada…”
MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br
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