Por José Macedo

A tendência, segundo estudos, é a de piorar a situação econômico-social do brasileiro e a crise se aprofundará, na hipótese em que as coisas permaneçam como estão. Nossos estudos e pesquisas para a elaboração deste texto foram realizados com objetividade, com isenção e seus indicadores históricos presentes não nos deixam ser otimistas.

Nessas circunstâncias, os acontecimentos políticos vieram somar e contribuem para a conclusão que desagradará a muitos e preocupará a outros, dando motivos para que não acreditemos em um futuro promissor, mesmo no médio prazo. Algumas observações merecem ser pensadas, sendo a desnacionalização e o desmanche do parque industrial brasileiro, fatores, lembrados e debatidos por estudiosos.

Primeiro, a perda de participação do setor industrial na formação do PIB, o que está ocorrendo, de modo célere, tem consequências negativas nos indicadores sociais e econômicos. Consequentemente, outros setores da economia são prejudicados, como é o setor primário e o terciário, traduzindo-se na diminuição da demanda por insumos e serviços, respectivamente. A abissal desigualdade social, a inclusão de milhões de trabalhadores na informalidade e no desemprego são efeitos danosos dessa atual política neoliberal do Paulo Guedes, iniciada no governo Temer, após 2016. Paralelamente, ocorre a submissão e dominância da economia ao mercado financeiro mundial, em obediência à cartilha escrita por Washington.

O golpe ocorrido, em 2016, é, diretamente, o responsável pela destruição do Estado Brasileiro, deixando de ser agente principal do desenvolvimento econômico. Em uma economia atrasada, caracterizada por possuir baixo índice de poupança interna e privada, não se pode abrir mão do Estado, como agente principal de investimento. O Estado mínimo é incompatível com as necessidades desse tipo de economia. Nesse contexto, as medidas implementadas, antes por Temer, agora por Bolsonaro comprometem inexoravelmente as possíveis possibilidades de retomada do desenvolvimento econômico. Quando falo desenvolvimento econômico pressuponho uma melhor distribuição de renda, qualidade de vida e justiça social para todos. Aliado a esse desacerto, vislumbramos uma crise politica e de conflito entre poderes da República, além do descontentamento da população.

Há ainda a politica externa entreguista e preconceituosa, que conduzida pelo (ir)responsável, embaixador, Ernesto Araújo. Neste momento delicado, o embaixador faz pronunciamentos que desagradam os parceiros internacionais, cria conflitos e insatisfações com a China, maior importador de nossos produtos primários, carro chefe de nossas exportações. O Ernesto Araújo reza pela cartilha de Washington, também, aliado do Paulo Guedes, o que, no meu entender, é um descalabro, contraria a história do Itamarati, traduzindo-se sua atuação numa política genocida. Assim é que, a China e outros países ameaçam não importar produtos agrícolas brasileiros e, principalmente, originários do agronegócio. As principais insatisfações estão relacionadas às queimadas, devastação da floresta amazônica, as conhecidas crueldades e mortes de índios. O País volta a ser essencialmente agrícola, mas em profunda crise, passando a ser mero exportador de commodities. Essa é a estratégia da política econômica global do Paulo Guedes.

Esse quadro de pessimismo leva-nos à America Latina e vemos que o atual governo não abandona seu estilo preconceituoso e negacionista. Exemplifico o acordo entre a UE e o MERCOSUL, que é profundamente prejudicial ao futuro do país. O conceito de subdesenvolvimento e de atraso econômico-social levam-nos à incapacidade para competir com países mais desenvolvidos do resto do mundo. Nossa baixa densidade tecnológica e educação são grandes obstáculos, gargalos para a superação desse constatado atraso e do subdesenvolvimento. Os produtos vinculados ao agronegócio possuem baixo índice de valor agregado e incapacidade para a cumulação de tecnologia. Esse excessivo esforço e centralização de recursos no agronegócio, do mesmo modo o privilégio ao setor financeiro e bancário estão produzindo efeitos negativos. Na verdade, a atual dependência do Brasil ao agronegócio, um setor, também dependente do clima e de mais terra, significará, brevemente, a destruição da vida, após suas perniciosas consequências. Nesse ritmo, forma-se uma nuvem escura à frente e formado inteiro pessimismo para recuperação.

Os estudiosos da economia brasileira afirmam que, esse baixo crescimento está relacionado à desindustrialização e aos fatores, ora indicados. Os resultados mostram uma política equivocada e destruidora, em enfim desemboca-se em uma politica de constante crise e de escassez. Assim é que, no ano passado (2019), o PIB brasileiro teve o crescimento de 1,1%. Porém, para este ano, o Banco Mundial projeta em uma queda, no percentual de 5%; já o FMI prevê 5,3%. O pior de tudo é o pessimismo, acrescentado ao momento de aguda crise sanitária, o que se traduz em hecatombe. Na verdade, houve o abandono à politica desenvolvimentista, que era praticada, desde Getúlio Vargas. A politica econômica atual curva-se ao mercado financeiro e à desnacionalização da economia. Os atuais liberais acreditam não ser importante a industrialização, o que é uma justificativa para a desnacionalização de nossas empresas e inflacionamento do mercado financeiro, em favor do rentismo. Então, a consequência está na estagnação, no desemprego, na informalidade e no retorno ao Mapa da Fome. O exército de desempregados e informais crescem, geometricamente, do mesmo jeito os dependentes de auxílios do governo. Até quando, a União suportará esse ônus?

Ao mesmo tempo, somos garantidores da mão de obra externa, refletindo no aumento do índice desemprego. As mudanças e desprezo à industrialização, um desvio de rota, a baixa produtividade, a incapacidade tecnológica, a baixa escolaridade fazem-nos incapazes de competir, em pé de igualdade, com economias desenvolvidas. Então, o comprovado interesse norte-americano e seu olho grande miram nosso mercado de 210 milhões de pessoas. Nesse diapasão, o desmonte do parque industrial já ocorreu e será difícil a recuperação. É certo: Vendemos nossas empresas, fatiamos a Petrobrás e ainda derreteram as grandes empresas de construções detentoras de tecnologia pesada, por conta da encomendada Lava-jato. Então, resta-nos um Estado esquálido e mínimo, incapaz e sem condições para fomentar o crescimento econômico, muito menos, o desenvolvimento. Assim, tornamo-nos, economicamente, impotentes e, politicamente, vulneráveis. Os neo-liberais e entreguistas arquitetaram esse quadro e conseguiram seus objetivos.

O Paulo Guedes é a explicação de tudo que ocorre, por tratar-se de um personagem perigoso para o Pais e assim, repito: ficou milionário, como dizem, em função de suas falcatruas e ganhos ilícitos obtidos no mercado financeiro. A história do Paulo Guedes vem sendo construída, desde a ditadura do Chile, com Pinochet. Sua atuação no mercado financeiro deixou-o milionário. Agora, sendo ministro da economia, cumpre sua função para a qual foi escolhido e a cumpre com eficiência, uma missão macabra e perversa. Estamos, a cada dia, mais dependentes do mercado financeiro, uma arapuca que capturou a todos ou a quase todos. Apenas, uma minoria é beneficiada pelos ganhos do rentismo. A prova está nos benefícios que o atual governo concede aos bancos e, por sua vez, estes alcançam estratosféricos índices de lucratividade. Com relação ao agronegócio, os números demonstram de modo inconteste seus perversos efeitos, exemplificando os assassinatos em série de índios e a destruição das florestas. A destruição da floresta é a lógica da necessidade de mais espaço, para o plantio de soja e pastos para a criação de gado. Os índios são obstáculos para a efetividade dessa política lesa-pátria, cruel.e assassina. Então, se os índios são obstáculos, ao que parece, a ordem é a de eliminá-los. É assim, hoje, o funcionamento da economia e da politica brasileiras, cujos efeitos são a dependência econômica, os males apontados, a grave vulnerabilidade política e a perda de nossa soberania.

Pobre República!


JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.